Benito Franco, coronel da Polícia Militar (PM) que comandou as Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) por dois anos, foi preso hoje, 18, pela Polícia Federal (PF) na operação Lesa Pátria. “Uma maçã podre que não representa o todo”, dirão os colegas de PM, com certo alívio de já não precisar fazer nada agora que instituições civis atuaram para removê-la de seu meio. Mas a PM ignora vários sinais de podridão na macieira:

1) Em 2019, Franco prometeu apresentar evidências de corrupção na Segurança Pública do Estado durante o governo Caiado (UB) – não apresentou. 

2) Como candidato a deputado federal pelo PL, disse que tinha chefiado a caçada à Lázaro Barbosa – não chefiou, segundo, Edson Raiado e Rodney Miranda (tenente-coronel da PM e ex-secretário de Segurança Pública).

3) Ao fim do segundo turno das eleições, Franco publicou vídeo afirmando que Lula (PT) não tomaria posse – tomou.

Os militares julgam a si próprios via Processos Administrativos Disciplinares (PADs) – sindicâncias sobre as quais não dão satisfação alguma à sociedade civil que os sustenta. O constrangimento imposto por Benito Franco à PM só poderia ter sido impedido pela própria PM, mas esta tomou a decisão de não levar as infrações à sério. Por que deveria? 

O exemplo de impunidade vem do alto. Segundo o artigo 142, parágrafo terceiro, da Constituição Federal, militares da ativa não podem se envolver em atividade político partidária. Mas o general da ativa Luiz Eduardo Ramos foi Ministro da Secretaria de Governo, responsável justamente pela articulação político partidária no executivo no governo Bolsonaro (PL). Que estímulo existe para punir infrações na base quando toda sociedade tolera casos escandalosos no topo?

Desde muito antes da ditadura militar, há no Brasil um medo enorme de ofender a sensibilidade das Forças Armadas e da PM. A mera sugestão de incompetência para tratar de certos assuntos, como a própria culpa, é suficiente para provocar reações escandalosas nas forças armadas. Os civis têm flashbacks da câmara de tortura e o assunto logo morre.

Desta forma, nos acostumamos às ameaças de tomada da democracia como refém. Antes de ser preso, Benito Franco provocou o Supremo Tribunal Federal, dizendo como receberia eventual abordagem: “Pode dar pau”. A depender da PM, ficaria por isso mesmo. Por fazer apenas uma piada com um ministro do STF, a Procuradoria Geral da República pediu a condenação à prisão do senador Sergio Moro (UB). As instituições civis funcionam melhor do que as militares. Nas palavras do jurista e intelectual Sobral Pinto: “Os militares, tendo proclamado a República, julgaram-se donos da República. E nunca aceitaram não serem os donos da República. Enquanto os cargos eminentes do país não voltarem para os civis, nós estaremos nesta situação terrível em que nos encontramos, de falência e de corrupção.”