Vanessa Lopes, jovem influenciadora de 22 anos, ganhou fama publicando vídeos no Tik Tok, onde acumula mais de 30 milhões de seguidores. Ela era uma das participantes do camarote do Big Brother Brasil (BBB) 2024, mas não aguentou a pressão e apertou o botão da desistência na última sexta-feira, 19. “Fez apenas o que todo Geração Z faz: não aguentou duas semanas no novo trabalho”, comentou um humorista. 

Os nascidos entre os anos 90 até 2010 têm sido alvos de críticas nos últimos dias, especialmente pelos millennials, geração X e babyboomers. O conflito de gerações é mais antigo que a humanidade. A terceirização da culpa pela catástrofe que é o mundo para as gerações mais novas parece ser a saída mais cômoda. Na última semana, a atriz e diretora americana Jodie Foster trouxe a pauta de volta à tona ao dizer que trabalhar com a geração Z pode ser “muito irritante”.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, ela disse que às vezes tem dificuldade para entender as atitudes dos mais jovens em relação ao trabalho.”Eles (geração Z) são assim: ‘hoje, não estou a fim, vou chegar às 10h30′”, afirmou. As críticas aos chamados “nativos digitais” voltaram com o comportamento da participante Vanessa no BBB. Mimada, egocêntrica e sem noção, a participante virou “meme” nas redes sociais pelas falas absurdas e sem nexo com a realidade. 

Comentário em um post de jornal sobre a saída de Vanessa Lopes. | Foto: Redes Sociais

“É a geração anos 2000, são mimados, fracos, vivem em função de julgamentos da internet, não aguentam o mínimo de frustações, uma geração triste se ver, o que vai ser desse mundo”?, comentou Fátima Amaral. O comentário resposta de Mauricio faz ainda mais sentido quando busca-se entender um pouco mais sobre os pais de Vanessa Lopes, e aí então, há uma certa compreensão do porquê talvez a garota agiu assim. A questão é que a sociedade está e sempre esteve procurando culpados para suas questões mal resolvidas.

Quando em 2015, o filósofo Byung-Chul Han escreveu Sociedade do Cansaço, talvez ele não imaginasse o tamanho do esgotamento que viveríamos menos de 10 anos depois. No livro, o autor explica como saímos da “sociedade da disciplina” e entramos em uma sociedade focada no desempenho. Essa pressão por ser  “a melhor versão de si mesmo” deságua no cansaço, frustração e nas doenças mentais. E se as gerações passadas eram tristes, pouco ousadas e ressentidas, as novas são marcadas pelo esgotamento mental, social e estrutural. Antes, estava tudo delimitado e havia limites claros para estabelecer o que era família, sexualidade e espiritualidade.

Hoje, tudo é marcado pela queda da tradição cultural ocidental. A explicação de Byung passa ao largo de aspectos fisiológicos do sistema nervoso. Sofrimentos psíquicos como síndrome de burnout , transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e depressão são apreendidos pelo autor em sua relação direta com o modo operatório do capitalismo contemporâneo. Ele escreve a partir de uma constatação: cada época tem suas enfermidades. E a doença da Geração Z parece ser mental.

Com uma pergunta, o filósofo evoca Zaratustra de Nietzsche (2011, p. 46) para nos perturbar e inquietar, provocando a reflexão: “[e] também vós, para quem a vida é furioso trabalho e desassossego: não estais muito cansados da vida?”. O livro de Byung aponta o capitalismo contemporâneo como possível culpado. O valor excessivo ao capital e a desvalorização à vida é que tem gerado o esvaziamento de sentido. A busca pelo individualismo e a perda da coletividade torna a existência massante para todos, seja de qual geração for.