Eleições atípicas se aproximam em Goiânia. Por um lado, o cenário é muito favorável para a base do governo estadual: a gestão municipal é mal-avaliada; o governador tem boa aprovação; a pré-candidatura é boa oportunidade de articulação para ampliar alianças de Ronaldo Caiado (UB), que planeja disputar a Presidência da República em 2026. Por outro lado, a base tem tido dificuldades para emplacar um candidato. Como resultado, o grupo parece já ter feito o mais difícil — construiu o carro — e agora se inquieta com os detalhes daquilo que seria mais fácil — encontrar um motorista.  

Há em Goiás o “tabu” de que os governadores não conseguem eleger seus candidatos a prefeito da Capital. Na realidade, Henrique Santillo elegeu Nion Albernaz em 1989, mas a profecia auto-realizável é repetida tantas vezes e encarada de forma tão incontornável que acaba se consolidando. Qualquer dificuldade surgida no percurso passa a ser encarada como evidência de que realmente existe algo que impede um governador de eleger o prefeito. Não há — até porque nenhum governador de Goiás foi tão bem avaliado em Goiânia. 

Nesta semana, o governador Ronaldo Caiado conversou com o senador Wilder Morais, do PL, sobre a disputa. A aproximação é interessante para a base por diversas razões. O senador foi candidato a vice-prefeito em 2020 na chapa de Vanderlan Cardoso (PSD) e, além de bom recall, atende ao perfil de político-empresário que as pesquisas qualitativas apontam como desejadas pelo eleitorado goiano. A esposa de Vanderlan, Izaura Cardoso, é suplente de Wilder Morais, o que faria o PSD se interessar também pela articulação. 

O empecilho, afirmam fontes no PL, seria Gustavo Gayer. Pré-candidato do Partido Liberal, o deputado federal teria apoio do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL). Se diz nos bastidores que Gayer tem dificuldades para encontrar terreno comum com qualquer político que não seja bolsonarista como ele próprio, e, se Gayer se interessa pela articulação de uma aliança com o governo, ele ainda não esboçou gesto algum. 

Parecendo então trilhar um caminho mais direto para a aliança com o PL, Ronaldo Caiado confirmou a presença no ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro neste domingo, 25. Em entrevista coletiva, o governador afirmou sobre o assunto: “Toda minha vida, participei de todos os movimentos democráticos no Brasil.” Perguntado se há no movimento um cálculo político visando 2026, Caiado respondeu: “Não. Tem a minha trajetória de vida.”

“Nunca tive um pé em cada canoa, sempre tive um rumo”, afirmou Ronaldo Caiado. “Eu sempre tive o rumo, que todo mundo conhece desde 1986, quando fundei a União Democrática Ruralista (UDR). Eu tenho uma posição ideológica contrária ao PT, mas existe uma situação respeitosa de governabilidade. São coisas distintas, e na democracia as pessoas precisam entender que as posições contrárias não significam ter de a agredir quem quer que seja.”

Faz sentido — e são justamente esses argumentos que indicam que Gayer não deve se tornar um nome de consenso para a base. O entendimento de que “posições contrárias não significam ter de agredir” não lembra exatamente o comportamento deputado bolsonarista. Sentindo que a pré-candidatura de Gustavo Gayer poderia estar sob ameaça, Vitor Hugo (PL) publicou vídeo em suas redes sociais afirmando “estão querendo nos dividir”. O diálogo começa a se tornar distante novamente, bem como o consenso da base por um novo pré-candidato. 

Quem reconquista força é Jânio Darrot (MDB), que, em conversa com o Jornal Opção, afirmou que jamais deixou o jogo. Permanece como pré-candidato, jamais sofreu resistência na base governista, e a investigação de 2013 não é taxativa, diz ele. Aliás, quem enfrenta um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) que pode ocasionar a inelegibilidade é o próprio Gustavo Gayer, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação social.