Com o passaporte confiscado desde o dia 8 de fevereiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi recebido pelo embaixador da Hungria, Miklos Tamás Hamal, quatro dias após a apreensão. Sem o documento, ele estaria impedido pela Lei de deixar o país pelas vias regulares. A informação foi revelada pelo The New York Times, e segundo o jornal, funcionários da diplomacia húngara foram orientados a trabalhar em casa, sem explicação, no período em que Bolsonaro esteve na Embaixada.

A Polícia Federal do Brasil confiscou o passaporte do capitão aposentado e prendeu dois de seus ex-assessores após o clã bolsonarista ter planejado um Golpe de Estado. Se o vazamento da reunião com os ministros já tinha sido ruim para a imagem de Bolsonaro, a situação piorou ainda mais neste último domingo de Ramos, 24. Não pega bem para um cidadão de bem, defensor da família e dos bons costumes, ser associado à milicia carioca e ao assassinato de uma vereadora.

O Brasil só não vive uma ditadura militar hoje porque Bolsonaro foi tão incompetente que nem o apoio do Exército conseguiu. Para os presidentes ditadores, para as baixas patentes do Exército e dos quartéis da PM, Bolsonaro é um herói. Foi assim que ele foi chamado pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban.

O ex-presidente também é querido pelo novo presidente de direita da Argentina, Javier Milei, pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Para uma certa ala conservadora brasileira, que ainda resiste ao progresso, Bolsonaro é um enviado de Deus.

Eleito pela democracia, o ex-presidente começou, segundo investigações da PF, a conspirar contra ela para se manter no poder. Percebendo que não seria reeleito em 2022, desesperado, ele começou a arquitetar um golpe ao Estado Democrático de Direito. O golpe, no entanto, estava em curso desde sua eleição em 2018, ou talvez desde 2016. Durante os 4 anos que esteve como presidente, Bolsonaro se esforçou ao máximo para criar um cenário político catastrófico de colisão entre os poderes e dividir o Brasil.

Ele até tentou um tom mais brando com os apoiadores no último 25 de fevereiro, mas não adianta mais. O estrago já foi feito. A Polícia Federal vai investigar se Bolsonaro tentou articular alguma manobra diplomática para evitar ser preso no inquérito do golpe. A decisão de prender ou não o golpista caberá exclusivamente ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que é relator dos inquéritos que investigam Bolsonaro por diversos crimes, dentre eles o de tentativa de dar um golpe de estado.

Para quem se esqueceu, há também as outras investigações:

  • Abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação
  • Ataques verbais ao sistema eleitoral
  • Uso da máquina pública em benefício próprio durante as eleições
  • Ataque de seus apoiadores à sede dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, em Brasília
  • Interferir na polícia para proteger familiares suspeitos de corrupção
  • Disseminar informações falsas sobre as urnas eletrônicas
  • Vazar informações sigilosas de uma investigação policial sobre um ataque cibernético à Justiça Eleitoral
  • Declarações falsas e mentirosas sobre a pandemia de covid-19
  • Subverter a ordem por sua participação em manifestações com slogans antidemocráticos em 7 de setembro de 2021
  • Apropriação de bens públicos pelas joias doadas pela Arábia Saudita e usadas pela primeira-dama, Michele Bolsonaro
  • Falsificação de seu certificado de vacinação contra a covid-19

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Em uma democracia, é tolerável que um ex-presidente use sua força política para atacar uma investigação?