A política tomou o lugar do futebol na mesa do brasileiro
21 novembro 2025 às 16h45

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No sábado, 15, enquanto a Seleção Brasileira entrava em campo para disputar um amistoso contra Senegal, eu estava em um conhecido restaurante de Goiânia. O cenário era curioso: em outros tempos, qualquer partida do Brasil paralisava o país, mas, naquele dia, as conversas não giravam em torno de dribles, escalações ou gols.
O tema dominante era outro: a segurança pública e o projeto antifacção prestes a ser votado na Câmara dos Deputados, além de outros assuntos, como a possível prisão do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro em um complexo prisional como a Papuda e a crescente projeção política do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que tem se destacado nacionalmente quando o assunto é segurança pública.
O que observei ali, entre pratos servidos e mesas cheias, foi a demonstração de uma mudança significativa nas prioridades da população brasileira. E, como jornalista é jornalista em qualquer lugar e a qualquer hora, não resisti e conversei com algumas pessoas para saber a opinião delas sobre o tema. Para a surpresa de muitos — mas não para a minha — a maioria se disse favorável à adoção de penas mais duras para integrantes de facções, à equiparação dessas organizações a grupos terroristas e à possível candidatura de Caiado ao Planalto.
O futebol sempre foi considerado uma espécie de religião nacional, símbolo de identidade e orgulho. Porém, nos últimos anos, parece claro que a política passou a ocupar um espaço mais central no imaginário popular. Não que a paixão pelo futebol tenha desaparecido, mas o interesse pelo rumo do país, pelas decisões em Brasília e pelas disputas de poder ultrapassou o entusiasmo pela bola rolando. Vale destacar que o desempenho da Seleção também não empolga — apesar da vitória por 2 a 0 — ao contrário do debate político, que desperta cada vez mais atenção.
Essa mudança não ocorre por acaso. O Brasil atravessa um período de intensos embates políticos, com investigações, acusações e decisões que podem redefinir o futuro da democracia. Em um ambiente de tanta polarização, a população sente que cada voto no Congresso pode ter impacto direto em sua vida cotidiana, enquanto o futebol, embora ainda importante, deixou de ser visto como prioridade absoluta. É como se o cidadão comum tivesse aprendido, à força, que sua atenção precisa estar voltada para o debate político.
Outro ponto que contribui para esse deslocamento de interesse é o desgaste da própria Seleção Brasileira. Após anos de atuações abaixo das expectativas e de uma conexão cada vez mais distante entre jogadores e torcedores, a mística que cercava a equipe parece enfraquecida. Enquanto a política toca em temas como liberdade, justiça e o futuro do país, a Seleção já não consegue mobilizar a emoção nacional da mesma forma.
Vale destacar que esse fenômeno também é reflexo da maturidade democrática do Brasil. A população, antes acostumada a enxergar a política como algo distante e reservado aos bastidores de Brasília, passou a se envolver, discutir e acompanhar mais de perto os movimentos de deputados, senadores e líderes partidários. Essa nova postura, ainda que marcada por divisões e paixões exacerbadas, mostra que o brasileiro está mais atento ao que realmente influencia seu dia a dia.
Em suma, a cena que não foi apenas um retrato isolado, mas um sintoma de um Brasil em transformação. O futebol ainda pulsa no coração do país, mas já não monopoliza as atenções como no passado. Hoje, a política ocupa o centro da mesa, e os brasileiros, com seus debates acalorados e olhares atentos para o Congresso, demonstram que a democracia, por mais conturbada que esteja, se tornou o verdadeiro espetáculo nacional.
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