A primeira comemoração do Dia da Independência no terceiro governo de Lula da Silva (PT) será marcada pela contraposição das imagens das Forças Armadas. O objetivo é retratar os militares como burocracia isenta do Estado democrático, revertendo a imagem de instituição partidária e instrumentalizada que parte das pessoas passou a ter nos governos de Jair Bolsonaro (PL).

É improvável que o presidente consiga dissociar a imagem das forças, entretanto, pois Jair Bolsonaro é incontornável no mundo militar e deve continuar a sê-lo por alguns anos. Bolsonaro empregou em seu governo 6.175 membros do Exército, Marinha e Aeronáutica, que embarcaram em seu projeto até o fim de seu mandato. 

Via general Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, e General Pazuello, ministro da Saúde, as Forças Armadas coordenaram a atrapalhada resposta brasileira à pandemia. As Forças colocaram tanques fumacentos para desfilar em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) no mesmo dia em que o plenário da Câmara dos Deputados irá votar a proposta do voto impresso, tema caro a Jair Bolsonaro. Segundo o comandante da PM no Distrito Federal, as Forças Armadas defenderam os golpistas no 8 de janeiro da prisão.

Para os aficionados por Jair Bolsonaro, entretanto, não foi o bastante. Pesquisa Genial/Quaest divulgada em 21 de agosto revela que a confiança nas Forças Armadas sofreu uma queda expressiva desde o fim do ano passado. Entre dezembro de 2022 e agosto, o número dos brasileiros que afirmavam “confiar muito” na instituição passou de 44% para 33%. De acordo com o levantamento, a queda de confiança mais significativa se deu entre eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição.

Esse segmento do eleitorado se frustrou com os militares porque acreditou que deles viria apoio armado à tentativa de golpe de estado. Agora, nas vésperas do 7 de Setembro, este grupo decepcionado com as Forças está dividido entre boicotar o desfile cívico-militar e comparecer para manifestar em reprovação à conduta dos militares na transição dos governos. De uma forma ou de outra – se as ruas estiverem cheias ou se estiverem vazias no 7 de Setembro – a tônica será o contraste. 

As comparações serão inevitáveis: enquanto Bolsonaro discursava longamente nos eventos, não está prevista nenhuma fala do atual presidente. Enquanto Lula pretende destacar as ações das forças para garantir a soberania na Amazônia, Bolsonaro tornava o evento sobre si, ao ostentar o apoio dos militares como prova de força. Enquanto o ato da próxima quinta-feira está previsto para durar apenas duas horas, os de Bolsonaro só se encerravam ao anoitecer. 

Apoiadores de Bolsonaro julgarão o ato um fracasso, pois o desfile obviamente empolgará menos apoiadores do que nos anos de 2019 a 2022. Apoiadores de Lula também julgarão o ato um fracasso, pois compreenderão que a Lula afaga e anistia os militares das irregularidades que cometeram no governo anterior. Lula e os militares trabalham juntos para desfazer a partidarização das forças, mas revogar uma imagem construída com marcas tão fortes ao longo de quatro anos deve levar tempo.