100 milhões morreram em MT; vai acontecer em Goiás também
20 julho 2023 às 13h20
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O fipronil é um agrotóxico que danifica o sistema nervoso dos insetos. Há um mês, o uso inadequado desse produto provocou a morte de mais de 100 milhões de abelhas em Sorriso, Ipatinga do Norte e em Sinop, em Mato Grosso. Pelo menos 600 colmeias foram infectadas – incluindo muitas espécies ameaçadas de extinção.
A investigação do Instituto de Defesa Agropecuária do MT revelou que o proprietário de uma fazenda usou um avião para despejar fipronil em sua lavoura. A técnica é proibida, pois o agrotóxico é levado pelo vento para longe das lavouras e atinge flores que são polinizadas por diversos insetos benéficos para a biodiversidade e economia, além de atingir fontes de água e cidades. O fazendeiro foi multado em R$ 225 mil e será processado pelo crime ambiental, mas o dano é irreversível.
Uma lei do deputado estadual Antônio Gomide (PT) aprovada em abril deste ano restringiu o uso do fipronil, que está em 77% das amostras de colmeias com mortandade de abelhas. Mas, conforme revelou reportagem do Jornal Opção, o veneno continua sendo comercializado em lojas de insumos agrícolas, jardinagem, produtos veterinários e outros. Basta procurar pela palavra fipronil na internet e você encontra ofertas com entrega rápida para todo o Brasil, inclusive para onde é proibido. Falta fiscalização.
O que o agro xucro não compreende é que esse não é papo de ecochato. Hoje, estima-se que 10% do PIB agrícola esteja representado pelos serviços ecossistêmicos da polinização. As abelhas trabalham para o agro. O algodão, berinjela, café, girassol, laranja, melancia, morango e tomate são algumas das culturas polinizadas por abelhas. A morte desses insetos levaria não apenas à nossa fome, mas também à morte do produto comercializado pelos agricultores.
Em 2022, aproximadamente metade das colônias de abelhas nos Estados Unidos morreram em função de agrotóxicos. Uma reportagem da APN mostrou que as abelhas domesticadas não serão extintas, pois os apicultores repõem a população desses insetos, mas as abelhas nativas selvagens vão morrer em breve. Essas espécies ameaçadas mantém o equilíbrio ecológico e a biodiversidade, por polinizar as plantas que não são interessantes comercialmente, mas das quais dependem todos os biomas.
Existe ainda uma pressão de tempo. A morte dos animais leva à morte da vegetação, que fica sem agentes para dispersar pólen e sementes. Ou seja: a morte das abelhas leva ao encolhimento dos biomas, e o encolhimento dos biomas significa menos fontes de alimentos para as abelhas, que acabam morrendo. Isso significa que não adianta aprovar leis banindo o uso de agrotóxicos no futuro, eles devem ser fiscalizados agora.