Quase 3 anos após assumir a presidência pela terceira vez, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acumula avanços em algumas áreas, mas também enfrenta cobranças por promessas que ainda não saíram do papel, e que correm o risco de nunca se concretizarem.

Entre compromissos assumidos em campanha, entrevistas e na carta de intenções entregue ao TSE, pelo menos 10 promessas permanecem sem cumprimento e com baixa perspectiva de realização até o fim do mandato. (Veja a lista completa de promessas cumpridas, não cumpridas e parcialmente cumpridas no final da reportagem.) 

A seguir, listamos as principais: 

1. Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil 

Justiça seja feita, a proposta não depende apenas do presidente, uma vez que a isenção precisa de aval do Congresso. Prometida como forma de aliviar o bolso da classe média, a proposta, no entanto, ficou aquém do esperado. A faixa de isenção foi reajustada para R$ 2.112, bem abaixo dos R$ 5 mil prometidos. O governo alega limitações fiscais e resistência no Congresso. 

Durante o programa eleitoral exibido em 10 de outubro de 2022, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que, se eleito, promoveria uma atualização na tabela do Imposto de Renda, elevando a faixa de isenção para até R$ 5.000 mensais. A proposta, que inicialmente previa isenção até R$ 3.000, foi ampliada por decisão do próprio Lula. A medida foi apresentada como parte do plano para recuperar o poder de compra da população brasileira, com a promessa de “Imposto de Renda zero para quem ganha até R$ 5.000 e desconto para a classe média”.

2. Não tentar reeleição em 2026

Durante a campanha, Lula afirmou que não buscaria um quarto mandato. No entanto, desde então, evita confirmar ou negar a candidatura, deixando a possibilidade em aberto. A indefinição alimenta especulações e críticas sobre coerência política. 

Em publicação feita no Twitter em 11 de outubro de 2022, Lula reforçou seu compromisso de governar por apenas um mandato, caso fosse eleito. A declaração foi reiterada durante evento com lideranças políticas em setembro daquele ano, quando o petista afirmou que não concorreria à reeleição em 2026. A sinalização buscava abrir espaço para novas lideranças e fortalecer a alternância democrática.

3. Programa de recuperação educacional pós-pandemia 

A promessa de um plano nacional para recuperar o aprendizado perdido durante a pandemia não foi implementada. Estados e municípios seguem sem diretrizes claras, e o déficit educacional continua sendo uma das maiores feridas abertas pela crise sanitária. 

A equipe de transição do governo Lula, ainda em 2022, incluiu entre as 10 medidas emergenciais para a educação a criação de uma coordenação nacional voltada à recomposição das aprendizagens perdidas durante a pandemia. A proposta foi detalhada por Claudia Costin, que destacou a ausência de articulação nacional como um dos principais desafios. A medida visa estruturar um sistema nacional de recuperação da aprendizagem, com foco especial nos alunos em fase de alfabetização, os mais afetados segundo dados do Saeb.

4. Nova política de drogas 

Lula prometeu uma abordagem mais humanizada, focada em prevenção e tratamento. Até agora, nenhuma política nacional foi lançada, e o tema segue marginalizado no debate público, apesar do aumento de usuários e da violência associada ao tráfico. 

No plano de governo registrado no TSE em 2022, Lula propôs uma abordagem intersetorial para a política de drogas, com foco na redução de danos, prevenção, tratamento e assistência ao usuário. A proposta também inclui ações de enfrentamento e desarticulação de organizações criminosas envolvidas com o tráfico.

5. Ampliar participação do Brasil em organismos multilaterais 

Apesar dos esforços diplomáticos, o Brasil não conquistou novos assentos relevantes em organismos internacionais. A promessa de protagonismo global esbarra em disputas geopolíticas e falta de apoio de grandes potências.

Na versão final das diretrizes do programa de governo da chapa Lula-Alckmin, divulgada em 2022, o compromisso com uma política externa ativa e altiva foi reafirmado. O documento defende a retomada da cooperação internacional Sul-Sul, especialmente com países da América Latina e África, e a ampliação da presença do Brasil em organismos multilaterais. 

6. Desmatamento líquido zero 

O governo anunciou metas ambiciosas, mas os números não acompanham o discurso. Queimadas na Amazônia e no Cerrado continuam em alta, e a recomposição de áreas degradadas avança lentamente. O desmatamento líquido zero parece cada vez mais distante. 

Durante o discurso de posse no Congresso Nacional, em 1º de janeiro de 2023, Lula estabeleceu metas ambiciosas na área ambiental, incluindo o objetivo de alcançar o desmatamento zero na Amazônia. O presidente também anunciou a transição para uma economia sustentável, com incentivo à bioeconomia, à sociobiodiversidade e à agricultura familiar. A proposta inclui ainda a transformação da agropecuária e da mineração em setores sustentáveis.

7. Políticas estruturadas para a população LGBTQIA+ 

Embora haja discursos favoráveis, não foram criadas políticas públicas robustas voltadas à inclusão, saúde integral e permanência no mercado de trabalho. Movimentos sociais cobram ações concretas e orçamento específico. 

Em resposta à CNN durante a campanha de 2022, Lula destacou que o programa de governo da chapa Lula-Alckmin foi construído coletivamente na plataforma “Juntos pelo Brasil”, com diretrizes voltadas ao respeito integral à cidadania LGBTQIA+. As propostas incluem políticas de saúde, educação, inclusão no mercado de trabalho e segurança pública com atenção especial às vítimas de violência.

8. Proteção dos territórios indígenas e quilombolas 

Apesar de avanços pontuais, como demarcações simbólicas, a proteção efetiva dos territórios segue frágil. Invasões, conflitos e lentidão nos processos administrativos colocam em risco comunidades tradicionais. 

Em discurso realizado em São Paulo no dia 27 de maio de 2022, Lula defendeu a demarcação de terras indígenas sem considerar a tese do marco temporal. O então pré-candidato afirmou que os povos originários reivindicam apenas o que lhes é de direito e prometeu combater o garimpo e a extração ilegal de madeira em territórios indígenas.

9. Combate ao racismo estrutural com políticas públicas 

O governo prometeu um conjunto amplo de ações, mas não apresentou um plano nacional articulado. A ausência de metas, indicadores e financiamento específico compromete a efetividade da proposta. 

Em coletiva de imprensa realizada no hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, no dia 19 de outubro de 2022, Lula manifestou solidariedade ao cantor Seu Jorge, vítima de racismo durante um show. O presidente destacou a necessidade de enfrentar o racismo estrutural no Brasil e reforçou que o preconceito persiste não por falta de leis, mas por herança de uma sociedade marcada pela escravidão.

10. Conferência nacional e políticas para pessoas com deficiência 

A convocação de conferências e a formulação de políticas inclusivas não ocorreram até agora. Famílias e entidades representativas apontam falta de diálogo e invisibilidade do tema na agenda federal. 

No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro de 2022, Lula participou de encontro com representantes de movimentos sociais em São Paulo. Na ocasião, prometeu convocar conferências municipais, estaduais e nacionais para revisar e aprimorar as políticas voltadas às pessoas com deficiência, com foco na inclusão plena e respeito à diversidade.

Um saldo misto 

Embora tenha cumprido promessas importantes para a sua cartilha ideológica, como o reajuste do salário-mínimo acima da inflação e a retomada do Minha Casa Minha Vida, o governo Lula enfrenta desafios políticos, econômicos e administrativos que dificultam a execução de compromissos mais ambiciosos. 

Com pouco menos da metade do mandato pela frente, o tempo para reverter esse cenário está se esgotando. E algumas promessas, como a isenção do IR até R$ 5 mil ou o desmatamento líquido zero, já são vistas por analistas como improváveis de serem cumpridas. 

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