O narcotráfico, o Brasil e os Estados na América Latina
09 abril 2023 às 00h00
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Nós brasileiros, se por um lado gozamos das benesses geográficas do clima favorável, da abundância de terras férteis e de água, por outro lado suportamos agora a maldição geopolítica da vizinhança com os países mais produtores de cocaína do Mundo: Bolívia, Peru e Colômbia.
Nosso território é rota obrigatória de passagem dessa cocaína para seus maiores mercados na América do Norte e na Europa. A lucratividade do infame negócio é fabulosa: um quilograma de pasta base de cocaína custa mil dólares na Bolívia e é vendido no ponto de consumo europeu por 33 vezes mais.
Para que o leitor avalie, o colombiano Pablo Escobar, um dos maiores traficantes conhecidos, chefe do Cartel de Medellin, amealhou com o tráfico uma fortuna de 30 bilhões de dólares, quando tinha apenas 44 anos.
Não é de admirar que o negócio cresça e que tenham surgido, em suas atividades meio, como no transporte e na guarda da droga, fortes associações criminosas, como as brasileiras PCC e o CV.
Nem é de admirar que alguns governantes tenham sido cooptados ou altamente influenciados pelo tráfico, quando nada aceitando dele seu financiamento eleitoral.
A Bolívia de Evo Morales incentivou a produção de coca até institucionalmente, alegando que ela era tradicional no país para mastigação pelos naturais, como forma de atenuar os efeitos da altitude. Até cínica, a alegação, pois é mais que sabido que a Bolívia produz dez vezes mais coca do que consome.
O ex-presidente colombiano Ernesto Samper, e o atual, Gustavo Petro, foram acusados de envolvimento com os cartéis de drogas.
Embora não produtores expressivos, Venezuela e Cuba viram seus governantes Hugo Chávez e Fidel Castro envolvidos com o tráfico, principalmente para o envio de cocaína para o maior consumidor mundial, os EUA.
Conta Juan Reinaldo Sánchez, que foi guarda-costas de Fidel Castro por 17 anos, asilado em Miami: quando a inteligência americana descobriu que o tráfico era feito por meio de Cuba e com o apoio de Fidel, não só para adquirir divisas como para enfraquecer moralmente a juventude dos EUA, em 1989, o ditador, em um processo relâmpago, julgou alguns militares de seu círculo próximo, como se fossem eles os culpados, e os fez fuzilar. Entre eles estava o general Arnaldo Ochoa, que era o principal militar do Exército Cubano e herói da Revolução. Fidel se antecipou a um possível escândalo internacional e usou como bode expiatório alguém que lhe fazia sombra no domínio da ilha.
General Hugo Carvajal El Pollo
Conta a jornalista espanhola Cristina Segui que o ministro chefe da inteligência venezuelana ao tempo de Hugo Chávez, o general Hugo Carvajal, apelidado El Pollo, hoje preso na Espanha, para evitar sua extradição para os EUA, fez para um juiz espanhol uma delação de suas atividades como chefe do tráfico de cocaína para os EUA a mando de Chávez, e contou como o dinheiro da droga financiava políticos europeus e latino-americanos, citando vários nomes expressivos, como o do ex-primeiro ministro espanhol José Luís Zapatero (amigo de Lula), a ex-presidente argentina Cristina Kirchner e o próprio Lula. Lula nunca desmentiu sua proximidade e até intimidade com Hugo Chávez e nem seu concubinato com Fidel Castro na fundação do Foro de São Paulo.
Não é demais afirmar que tráfico é hoje um dos grandes flagelos da humanidade, e que o Brasil sofre muito com ele. Sofrem os viciados, principalmente os mais pobres, como os zumbis das cracolândias, sofrem os jovens recrutados pelo tráfico, mortos nos confrontos com outros traficantes ou com a polícia, quando não executados por dívidas de drogas. Sofrem as garotas mais humildes, abusadas e muitas vezes mães adolescentes, sem condições sequer do sustento próprio, quanto mais da prole. Sofrem as crianças sem pai, as abandonadas, as espancadas e às vezes mortas por parentes drogados. E como sofrem pais e mães dos viciados irrecuperáveis, agredidos pelos filhos que querem dinheiro para o vício, e que muitas vezes se transformam em ladrões e assaltantes para sustentá-lo. A maioria das mulheres hoje presas no Brasil o é por crimes ligados ao tráfico.
Claro, sofrem os assaltados e os que se veem privados do direito de ir e vir pela insegurança das ruas vizinhas. Sofrem policiais, promotores e juízes ameaçados. E o Estado também sofre, pois se vê obrigado a aplicar parte dos seus recursos, sempre escassos, no aparato policial e penitenciário, sem o que o avanço do tráfico é avassalador. Que o digam o Rio de Janeiro, com suas favelas já dominadas por esse maléfico poder, onde existem executivo, legislativo e judiciário do tráfico; e o Rio Grande do Norte, que vive dias de guerra, imposta pelo tráfico, com suas exigências inaceitáveis.
Não fora a luta e o denodo das polícias estaduais, teria se espalhado pelo Brasil a situação do Rio de Janeiro. Mas apesar de todo esse descalabro é muito leniente a política do governo atual, desde mandatos anteriores, para lidar com a droga.
Não se pode menosprezar um poderio econômico, bélico e potencialmente destrutivo socialmente como o do crime organizado do narcotráfico, mas é o que fazem os governos de esquerda, com relevância para o nosso atual.
Se já era preocupante a ligação das autoridades petistas com os governos latino-americanos associados ao tráfico, os últimos acontecimentos mantêm o alerta.
O PT, hoje de volta ao poder, sempre esteve próximo de centros políticos ligados ao tráfico. Evo Morales era tão estreitamente chegado a Lula, que o convenceu a não reagir quando tomou à força as instalações da Petrobrás na Bolívia.
O chefe da narco guerrilha Farc (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia), Raul Reyes, declarou em agosto de 2003 à “Folha de S. Paulo” suas ligações com Lula e outros petistas. O ex-padre colombiano e narco guerrilheiro Oliveiro Medina, exilado no Brasil, e que Lula e Dilma se recusaram a extraditar a pedido do governo colombiano, confessou ter negociado doação de 5 milhões de dólares do tráfico para as campanhas petistas, fato denunciado pela revista VEJA em 2016, numa reportagem de Felipe Moura Brasil. E Dilma ainda empregou no governo federal Ana Maria Slongo, uma brasileira, e mulher do “padre” Medina. Nada parece ter mudado.
Ainda que escondido pela “grande imprensa”, é fato sabido que a vitória petista nas últimas eleições foi amplamente festejada nos presídios que abrigam traficantes. A desenvoltura de Lula em comício no complexo do Alemão, região perigosa do Rio, faz pensar em autorização prévia do tráfico para trânsito por ali; e não há outra explicação para a presença de Flávio Dino (logo ele, ministro da Justiça e segurança Pública) no ainda mais perigoso complexo da Maré, sem escolta.
Não há desculpa capaz de fazer com que alguém que entenda o mínimo de Segurança Pública aceite as explicações dadas para a retirada recente (em janeiro deste ano) do maior traficante brasileiro, Marco Camacho, o Marcola, de uma prisão de segurança máxima em Rondônia e sua internação em uma prisão comum em Brasília. Existiam planos para um resgate armado de Marcola na prisão de Rondônia, dizem os petistas.
Ora, é mais difícil um resgate numa prisão comum do que numa de segurança máxima, onde se pode, além de tudo, reforçar o contingente policial? Não nos façam rir. A internação em presídios de segurança é a única medida que faz tremer os chefes do tráfico e os leva à loucura, a ponto de mandarem matar policiais, promotores e juízes. Nessas prisões não conseguem comandar nada; já as prisões comuns são escritórios dominados por eles.
Coisas estranhas como proximidade de Lulinha, filho do Presidente, com os contabilistas suspeitos de atenderem traficantes pedem explicações. A revista “Veja”, em junho de 2022 divulgou depoimento de Marcos Valério, preso na Lava-Jato, denunciando as ligações do tráfico com o PT.
A Polícia Federal gravou em 2019 diálogo entre dois chefes do PCC, Alexsandro Pereira, o Véio e William Ferraz, o Rolex. O primeiro ataca o governo, o então ministro Sergio Moro e afirma que agora não há diálogo do PCC com o partido no poder, como havia antes, com o PT no governo. A candidata do PT a deputada federal por São Paulo nas últimas eleições, Fabiana Soler, é mulher do traficante Evandro Andrade, o Bondinho, que cumpre pena no presídio de Presidente Venceslau. Foi abertamente apoiada pelo PCC, sem que o PT sequer comentasse o fato. Atenção, PT, para as ligações perigosas.
Irapuan Costa Junior 05 de abril de 2023