O capitão em seu labirinto e a falta de contra-ataque de Bolsonaro

23 maio 2021 às 00h00

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Submete-se ao desgaste de não ver divulgada pela “grande imprensa” nenhuma medida positiva que tome, nenhuma obra que implante, nenhum apoio que tenha
Nunca um presidente no Brasil enfrentou tão renhida oposição, como enfrenta Jair Bolsonaro. Sem falar numa tentativa de assassinato, quase concretizada, mesmo antes das eleições.
Mal eleito, já se juntavam contra ele, enfurecidas, todas as esquerdas brasileiras — e, açuladas por elas, as estrangeiras também. Quem tem experiência política sabe que as esquerdas sempre se unem, quando se trata de enfrentar um inimigo conservador. Vê-se a repetição desse fenômeno nas eleições dos grêmios estudantis, nas eleições municipais e estaduais, nas votações do Congresso Nacional, nos tribunais superiores e nas eleições para presidente da República. Particularizando um pouco, mesmo que inimigos pessoais irreconciliáveis, um deputado do PC do B e um do PSOL votarão sempre de maneira idêntica em qualquer matéria de oposição ao governo, sem destoar uma vez sequer. A fé ideológica supera outros sentimentos, exceto o ódio aos inimigos “fascistas”.
Ainda quanto a Bolsonaro: as redações dos jornais, revistas, rádios e televisões, naturalmente esquerdistas, sempre foram contidas pelos donos dos órgãos de imprensa, interessados nas verbas governamentais. Ao verem cortadas pelo atual governo essas verbas, esses donos estimularam as redações para o ataque. Elas não esperavam outra coisa. Saíram como feras, há muito enjauladas e famintas, na busca da presa.

Partidos extremistas, mesmo que inexpressivos, encontraram em “companheiros” magistrados aliados que, provocados, acolhem petições as mais esdrúxulas, e que criam obstáculos à ação de governo. Dentro do próprio governo, um aparelhamento de décadas dos órgãos públicos e das empresas públicas criou um vasto corpo oposicionista que trabalha contra ele, a que deveria servir, o combate internamente e aciona os “companheiros” do exterior para comprometer sua imagem externa, sem qualquer pejo. Dane-se o país, desde que com ele se dane Bolsonaro — pensam.
Sem contar com uma base firme no Congresso, que é amorfo ideologicamente (exceto pelos extremistas, como PSOL e PC do B), o presidente não só é alvo preferencial dos ataques, como não consegue fazer avançar as propostas urgentes e inteligentes de seu ministro da Economia. É que o Congresso, também ele, há décadas se acomodou em pensar em si próprio e nas próximas eleições, vale dizer, reeleições.
O país, a sociedade, os problemas mais prementes da nacionalidade sempre são postergados ali, nas duas casas. As esquerdas no Congresso, sempre mais atuantes, ainda que minoria, sabem levar vantagem. Exemplo é a recente CPI da Pandemia, inútil para todos os fins práticos como toda CPI, mas utilíssima para desgastar o governo.
De quebra — pois o fantasma de 1964 ainda assusta as esquerdas —, aproveitar para desancar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, não porque foi mal na pandemia, mas porque é militar. Uma revanchezinha mesquinha.

Não para outra coisa tem essa CPI como presidente e relator figuras as mais comprometidas com as ações nada recomendáveis do passado recente. É natural: quanto mais comprometidos, menos se envergonham esses cidadãos, ao executar tarefas sujas.
A irreal anulação das condenações de Lula da Silva, o desmonte da Operação Lava Jato, a paralisia das medidas propostas pelo Executivo ao Congresso, o engessamento do governo por ações provocadas pelo PSOL, PC do B ou PT junto ao STF, o ataque obstinado e diário da imprensa, este o quadro político atual, há um ano e quatro meses das eleições presidenciais.
Resta ao presidente apenas um considerável apoio da parcela conservadora e esclarecida da população, que cultiva as virtudes morais, familiares e religiosas, e que costuma ser a maioria dos brasileiros, e a divulgação nas redes sociais. Mas o governo federal está visivelmente na defensiva.
Submete-se ao desgaste de não ver divulgada pela “grande imprensa” nenhuma medida positiva que tome, nenhuma obra que implante, nenhum apoio que tenha. As grandes manifestações de apoio que a população tributou a Bolsonaro neste mês, mormente as do dia 14, em Brasília, foram cuidadosamente escondidas por essa imprensa. Mas pesquisas altamente suspeitas, por sua origem, são a todo momento publicadas.
O presidente é apontado como culpado de tudo que negativo ocorre no território nacional. O vírus se expande? Bolsonaro não fechou as fronteiras para ele. Faltam vacinas? Bolsonaro não tomou medidas a tempo (embora seja o Brasil um dos países que mais vacinam no mundo). Morrem 400 mil vítimas do Covid? Bolsonaro é genocida (embora a mortalidade no Brasil seja inferior a vários países do Primeiro Mundo). É mesmo de se admirar que um governo possa resistir a tantos e tão intensos ataques, uso de falsas acusações e expressões de ódio, por tanto tempo.

O governo está na defensiva, repito. Esse ataque desmesurado, essa soma de esforços de toda a esquerda brasileira contra Bolsonaro tentando um seu impedimento, ou sua derrota em 2022, lembra a invasão da União Soviética pela Alemanha Nazista, em 1941. Um ataque concentrado, impiedoso, visando aniquilar sem quartel o inimigo, e usando todas as armas disponíveis. O ataque alemão colocou o Exército Vermelho na defensiva, de retirada em retirada, até que a frente de combate chegasse aos arredores de Moscou. Se a capital caísse, seria o fim da guerra. Como sabemos, não se ganha uma guerra na defensiva. A partir de Moscou, foram as sucessivas ofensivas do marechal Zhukov, sem olhar a perdas, que levaram à derrota as forças nazistas, à queda de Berlim e à vitória final dos aliados.
Bolsonaro não contra-ataca
Bolsonaro se encontra nessa situação de defesa. Sofre ataque após ataque, e os absorve, mas não contra-ataca. As grandes manifestações de apoio popular que recebeu foram como anestesias que se aplica a um doente, mas que não são completadas com uma cirurgia. Não operado, o doente acorda padecendo da mesma doença.
Mas como contra-atacar?, perguntaria o leitor. Onde? Quando? Bolsonaro tem muitos militares e bons políticos em sua equipe, e sem dúvida alguns serão bons estrategistas e poderão apontar os melhores caminhos para uma reação efetiva do governo federal.
A permanecerem as coisas como estão, o recuo de Bolsonaro breve chegará à sua Moscou — as eleições de 2022 —, e pode ser tarde para qualquer contraofensiva. Os desgastes terão aumentado, as acusações da imprensa, por mais infundadas que sejam, terão provocado estragos. A parca memória nacional terá esquecido, ainda mais do que já esqueceu, as roubalheiras de Lula da Silva, do PT e dos partidos a ele associados, os recursos dados por Dilma Rousseff a Cuba, Angola e Moçambique, os assaltos que o PT permitiu fossem perpetrados pelos “companheiros” Evo Morales e Fernando Lugo à Petrobrás e a Itaipu. O Covid terá levado mais vidas, e embora nada o governo possa fazer além do que vem fazendo, a imprensa sem nenhum escrúpulo ou vergonha vai acusá-lo de omisso ou culpado por tudo, exatamente como faz agora, sem nenhuma preocupação com a verdade, mas cultivando todos os cuidados com a virulência dos ataques.
Nesse embate que se avizinha, para 2022, poderíamos voltar ao domínio esquerdista, seja pela eleição de Lula — um ex-presidiário — de Ciro Gomes ou de alguém do PSDB (que fatalmente estará comprometido com a esquerda)? Não nos iludamos: tudo é possível, no campo das eleições, num país que tem grande parte de seu eleitorado vencido pela desinformação. Caso ocorra essa volta, é válido perguntar: o Brasil suporta uma repetição da administração destrutiva esquerdista? Suporta um novo saque em seus recursos como o já ocorrido, o maior roubo já praticado por um grupo político em escala mundial? Resiste a uma continuidade no naufrágio de sua Educação, o aumento no descaso com a Saúde, a leniência com a Segurança? E a cada vez maior desagregação moral e social? Não creio que possamos ir muito longe num quadro como esse, de volta das esquerdas. Deus será brasileiro, mas não exageremos. Para tudo há limites. Até para a resistência de nosso gigante Brasil.