Não há mais como deter a queda da presidente Dilma Rousseff
25 março 2016 às 18h34
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Marcha da insensatez da petista e de Lula da Silva gerou a marcha da sensatez do país contra seu governo e seus múltiplos equívocos
Amigos que tenho no Congresso afirmam que não há como deter a queda de Dilma Rousseff. Há algo de inexorável em processos históricos de desgaste de governantes ineptos, como é o caso da presidente.
É uma espécie de fadiga que a sociedade experimenta com o acúmulo de erros, que uma vez atingida, os esforços para eliminá-la sempre parecem vãos. Os dirigentes que atingiram esse ponto de desequilíbrio nada conseguem fazer que reverta a situação; pelo contrário, parecem se mover com uma tendência inexplicável ao erro, que mais açula o desagrado popular. A economia entra em derrocada mais ou menos acelerada, aumentando ainda mais a revolta.
Mais dia, menos dia, ou haverá renúncia, já que o dirigente não se assenhora mais da administração, nem pode se dar ao luxo do contato com a população; ou haverá uma medida de força, ou, se democrático o regime, uma ação jurídica ou política que interrompa o mandato que se mostrou inviável. De qualquer forma, há a substituição do grupo dirigente. O economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) chegou a formular uma teoria da decadência das elites no poder e de sua substituição, e do que concorre para que ela ocorra.
Temas quentes
Chamam a atenção no presente momento político:
1) A propensão ao erro de Dilma Rousseff, que se move atabalhoadamente em meio às louças da crise. Nem sequer tem a discrição mínima no uso do telefone, como mostram os grampos de suas chamadas para Lula.
2) O pavor que Lula tem de qualquer explicação. O ex-presidente não fala uma palavra no sentido de esclarecer as graves acusações de que é alvo. Prefere se esquivar, se esconder atrás dos palavrões ou atacar a Justiça.
3) A demora em surgirem denúncias contra algumas figuras com as costas já curvadas sob o peso dos indícios de crimes: Renan Calheiros, com nove processos contra si no Supremo; Aloizio Mercadante; Gleisi Hofmann e o marido Paulo Bernardo; o próprio Lula, principalmente depois do caso Schain; Edinho Silva, com as doações “não contabilizadas” para as campanhas de Dilma; Edison Lobão e muitos outros.
4) A inabilidade do novo ministro da Justiça, Eugenio Aragão, confessando na prática que sua função é “controlar a Polícia Federal”, ambição de dez em cada dez petistas enrolados ou não na roubalheira institucionalizada.
5) A verdadeira ira contra o juiz Sergio Moro, não só entre os petistas, mas em boa parcela da imprensa e no meio artístico, a despeito do indiscutível mérito de sua ação para o Brasil decente.
6) A expectativa com as revelações das próximas delações premiadas: de Léo Pinheiro, da OAS; do deputado Pedro Correia; de Monica Moura, mulher de João Santana; de Maria Lucia Tavares, da Odebrecht; e, quem sabe, do próprio Marcelo Odebrecht.
7) A oscilação entre a angústia e a esperança do empresariado, se refletindo nos altos e baixos de bolsa e dólar. Todos esperam um novo cenário que permita ao Brasil retomar o progresso e a cada um renovar esperanças.
Linguagem chula de Lula reproduz o que o PT faz na política
O pecado nunca anda sozinho. Está sempre mal acompanhado. A não ser que se pertença à seita petista, qualquer brasileiro, já indignado com a corrupção, mais indignado ficou na semana passada com o artifício Dilma Rousseff-Lula da Silva, a primeira nomeando o segundo ministro da Casa Civil, não para desempenhar uma função de interesse nacional, mas para escapar a uma possível prisão a ser decretada pelo juiz Sergio Moro.
Triste e duplo pecado, além de tudo emoldurado pela linguagem que brotou nos grampos autorizados pela Justiça. Imagine o leitor que estivesse na companhia de sua mãe, sua esposa e sua irmã, e se juntasse ao grupo, numa hipotética reunião, nosso ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E que, como acontece em todos os lugares onde aparece, ele tomasse a palavra e despejasse sua conhecida verborragia. Imagino o seu constrangimento, sua contrariedade e mesmo sua indignação, caro leitor, se a linguagem usada pela ilustre figura, em presença das senhoras, fosse aquela que ouvimos nos grampos obtidos pela Polícia Federal. Lula derrama uma catadupa de palavrões talvez só tolerados em casas de tolerância. Provoca em nós outros a vergonha que ele nunca sente, e nos suja os ouvidos com suas obscenidades.
Lula não é homem que possa frequentar casas de família, exceto as de seus acólitos tipo Rui Falcão, Jandira Feghali, Alberto Carlos, Sigmaringa Seixas, Jacques Wagner, Wadih Damous, Paulo Vannuchi e a própria presidente Dilma, que, como vimos, absorvem tranquilos, pois parecem acostumados, toda aquela sonora sordidez. Que já contaminou Marisia Letícia, como também ouvimos.
Clareza na exposição é vital para economizar o tempo do leitor
Tempos atrás, quando traduzia o livro “Primeiros Princípios” (Ex Machina, 414 páginas), de Herbert Spencer (1820-1903), encontrei uma referência ao autor num livro de outro filósofo, o também historiador americano Will Durant (1885-1981), intitulado “História da Filosofia”.
Dizia Durant: “(Spencer) tornou-se o mais claro expositor de doutrinas que a história conhece; sobre os mais complexos problemas escreveu em termos tão lúcidos, que por uma geração o mundo inteiro passou a interessar-se pela filosofia”. Não era novidade para mim. A clareza do filósofo britânico já me impactava desde os anos universitários da década de 1950.
O acadêmico Medeiros e Albuquerque (1867-1934), que não era filósofo, mas jornalista, poeta, romancista e dramaturgo, parece não ter lido outra obra que mais lhe impressionasse, a levar em conta seu depoimento ao famoso jornalista João do Rio (1881-1921). Quando perguntado sobre o livro que mais o havia influenciado, não mencionou um romance ou obra poética, mas “Primeiros Princípios”, de Spencer: “Não me lembro de nenhuma obra de literatura que me tenha dado a sensação de intensa alegria, quase direi: de embriaguez intelectual que experimentei ao ler a parte do Incognoscível, daquele livro de Spencer”.
Dessa capacidade de bem escrever, que naturalmente possuía, trata Spencer num pequeno ensaio que encontrei, entre vários outros, sob variados temas, que ele escreveu e publicou nas revistas e livros de seu tempo. “Philosophy of Style” — chama-se o ensaio — é um conjunto de lições para bem falar ou escrever. As regras elaboradas por Spencer são baseadas no princípio de que é economizando a atenção do ouvinte ou leitor que se transmite mais eficientemente à sua mente a imagem que se formou na mente do orador ou autor. Há variados exemplos, de trechos de livros de grandes autores europeus. Poder-se-ia pensar que tais regras só se aplicam ao inglês, língua mãe do autor, mas é fácil deduzir que se aplicam a qualquer língua moderna e com estrutura de composição. É um livreto (cerca de 50 páginas) de muito interesse para quem tem como profissão a fala ou a pena. Já o traduzi e o estou preparando para a impressão.