Não faltaram, uma vez abertas as urnas, opiniões na imprensa sobre quem saiu ganhando no primeiro turno dessas últimas eleições. As há para todos os gostos: Lula da Silva, do PT, saiu ganhando, dizem os adeptos do PT e de seu sumo-sacerdote. Afinal, sai do primeiro turno com 6 milhões de votos de frente, dizem. A vitória no segundo turno é certa. Jair Bolsonaro não tira a diferença, completam.

Por outro lado, os conservadores alegam que a derrota de Bolsonaro já no primeiro turno, tão anunciada pelos adversários, não veio. E que, no segundo turno, tudo se passa como se fosse outra eleição. Fizemos as mais expressivas bancadas no Congresso e teremos muito mais apoios, postulam os bolsonaristas. Estão postas por aí muitas interpretações contraditórias sobre quem ganhou ou perdeu. Mas há uma opinião unânime quanto a uma questão, e sobre os perdedores, vista por lulistas ou bolsonaristas: a questão das pesquisas eleitorais erradas e os goleados institutos que as promoveram. Ninguém nega que são perdedores institutos como o Ipespe, o Datafolha e o Ipec, dado as grandes e inexplicáveis concordâncias entre suas previsões e as enormes e incompreensíveis discrepâncias entre essas previsões e a realidade das urnas. Comparemos a previsão dos principais pesquisadores com a realidade:

Lula da Silva acabou por ficar abaixo do prognóstico mais pessimista dos três tidos como maiores institutos — ou mais importantes. E Bolsonaro teve votos muito acima da mais otimista (para o mesmo Bolsonaro) previsão entre os três. Os institutos apontavam resultados espantosamente próximos, e numa pesquisa feita na véspera da eleição.

O que se passou para que eles errassem tão feio, a ponto de o ministro da Justiça acionar a Polícia Federal para uma investigação? Ou uma CPI já ter sido proposta no Senado?

Os dirigentes desses institutos já derramaram inúmeras explicações, cada uma delas de maior sensaboria de que a outra. E com um agravante: alguns institutos menores, como o Paraná Pesquisas, chegaram a resultados bem mais próximos da realidade.

As explicações dos diretores do Datafolha, do Ipec ou do Ipespe definitivamente não convencem. Ora o culpado é o Censo Populacional (ou o IBGE): como a contagem da população está defasada, as amostras não seriam representativas do universo pesquisado. Algo um tanto difícil de engolir, pois os erros sempre foram a favor de Lula da Silva e dos candidatos a ele ligados.

Ora — outra explicação estapafúrdia — é a de que houve uma migração de última hora de votos para Bolsonaro, os chamados “votos úteis”, de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Mas quem lutou pelos votos úteis até a última hora foi Lula da Silva, com todas as forças, tentando tomá-los de Simone e Ciro. Bolsonaro não moveu uma palha para buscá-los. E são bastante reduzidos para explicar uma diferença tão grande.

Definitivamente, essas conversas não colam, mesmo porque há outra explicação, muito mais simples e verossímil. Está escancarado que se formou uma coalizão, programada ou não, para eleger Lula da Silva. A começar por sua incrível “descondenação”.

Dessa coalizão participam não só os partidos de oposição, mas também quase toda a imprensa (parte mais descarada e parte mais veladamente), parte da cúpula do Judiciário, o empresariado financeiro mais guloso e a parte da classe artística mais ligada a benesses do governo. Os institutos de pesquisa, ligados à imprensa, teriam aderido à coalizão.

A influência das pesquisas nos resultados da votação é uma realidade qualitativa, embora ainda não avaliada quantitativamente. Pesquisas apontando resultados cabais para determinado candidato acabam atraindo votos para ele, o vitorioso por antecipação. Isso é há muito sabido, como parece também que alguns institutos vendiam pesquisas com resultados de encomenda por candidatos, desde que longe da data da eleição, o que permitia a esses institutos não lá muito sérios, para dizer o mínimo, ajustar os números falsos à realidade, quando a data da votação se aproximava.

A explicação mais crível para a enorme discrepância entre o que “previam” os tais institutos falhos e o que na realidade se deu é outra: entrando de corpo e alma na “coalizão” pró-Lula (ou anti-Bolsonaro, o que dá no mesmo), e motivados por seus tutores na imprensa, os institutos, animados em dar uma ajuda para eleger seu candidato, e crentes que ele poderia vencer no primeiro turno (o que quase ocorreu), exageraram no “empurrão” de ajuda e se desequilibraram. Tentar se equilibrar agora, que o escorregão está à vista de todos, é muito, mas muito difícil. Não dá mais, por muita explicação que se tente.

O que podem fazer, agora no segundo turno, esses institutos para recuperar a credibilidade? Nada, penso eu. Se fazem pesquisas sérias, que mostrem coincidência entre previsão e realidade das urnas, admitirão a fraude no primeiro turno. Se repetem o erro tentando beneficiar Lula, talvez ainda pior. Restaria apresentar resultados beneficiando Bolsonaro, e aí seria chacota. Difícil sair dessa, meus caros. Só resta aprender para a próxima.

A militância da imprensa continua firme

Fernando Mitre, jornalista | Foto: Band

Dias atrás, o veterano jornalista Fernando Mitre entrevistava o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em uma de nossas emissoras de TV. Lá pela metade da entrevista, em tom de censura, o profissional interpelou o ministro para que explicasse ser o Brasil o campeão mundial em mortes por Covid, contadas por 100 mil habitantes.

O ministro se esquivou da pergunta. Nota zero para os dois. O ministro deveria estar mais bem-informado sobre o assunto e desmentido de imediato o entrevistador. O Brasil não é o campeão de mortes por Covid, proporcionalmente. Está longe disso. O campeão é o Peru, com 657 mortos por 100 mil habitantes. O Brasil tem metade, com 322. E à frente do Brasil, que está em 15º lugar, está praticamente todo o Leste Europeu. Estão Bulgária, Bósnia, Hungria, Macedônia, Montenegro, Croácia etc. E o jornalista Mitre não lê? Disse que consultou a Johns Hopkins University. Se o fez, não soube ler. Talvez tenha dificuldades com o inglês, ou é daqueles leitores superficiais que pouco vão além das manchetes. E, jornalista experiente que é, se não leu, usou de má-fé. Algo pior, muito pior.

A volta do MST

Acreditando, ao que parece, que Lula venceria as eleições no primeiro turno, os sem-terra invadiram três áreas rurais, só em Goiás, do dia 2 para o dia 3 deste mês. A Polícia Militar, acionada no período de flagrante de delito, promoveu em duas dessas áreas, imediata desocupação. A terceira fazenda permanece invadida, aguardando os proprietários ordem judicial de reintegração de posse. Talvez outras invasões tenham ocorrido em outros Estados. Mas a imprensa (exceto o Jornal Opção) fez absoluta questão de não noticiar nada. Afinal, seria uma enorme propaganda negativa para Lula, o queridinho da imprensa. Os criminosos de João Pedro Stédile estão de volta.

PT x PSDB

Alguns eleitores se espantam com a proximidade, nas últimas eleições, entre PT e PSDB. Desde meus tempos de constituinte, em 1988, era claro para os que estavam bem dentro do jogo político, que os dois partidos eram duas faces da mesma moeda: dissimulados, marxistas e fisiológicos. Um mais educado, mais polido (o PSDB) e outro mais tosco, mais grosseiro (o PT). Mas ambos, o que chamamos aqui “farinha do mesmo saco”. Brigavam só na aparência, para manter o poder.