Vivemos tempos muito estranhos nessa nossa terra. Há um esforço grande do establishment para censurar as chamadas redes sociais, sob o argumento de que são propagadoras de fake news, esse neologismo que tem diferentes significados, dependendo de quem o manuseie.

Se o interpretarmos literalmente, significará notícias falsas, ou simplesmente mentiras.

Para quem está divulgando pode sinceramente parecer apenas uma notícia, para quem se julga atingido será uma mentira, e cabe a cada qual tratar com ela de acordo com sua consciência. Para o governo parece ser tudo aquilo que o atinja, verdade ou não.

No caso de conflito pretensamente gerado por uma fake news cabe à Justiça decidir o senhor da razão e as consequências legais cabíveis. Há legislação clara que trata do assunto.

Mas o governo do momento não pensa assim. Quer impedir que uma notícia que lhe seja desconfortável, e que a seu critério — e só a ele — seja considerada uma notícia falsa, transite pelas redes sociais.

Tramita na Câmara dos Deputados, já aprovado no Senado, o Projeto de Lei 2630/2020, que pretensamente pretende combater a veiculação de notícias falsas nas redes sociais como Facebook e Twiter e nos serviços de mensagem como WhatsApp e Telegram.

Boa intenção, a do projeto, mas o governo atual, cujo viés autoritário a cada dia mais se evidencia, não poupa esforços para vê-lo aprovado como uma ferramenta de censura. Pretende simplesmente que a fiscalização do que são fake news seja uma prerrogativa do governo, via de um Ministério da Verdade ou coisa que o valha.

Não é preciso muita inteligência para perceber que o governo, até por suas características de há muito conhecidas, pretende mesmo é exercer uma censura pura e simples sobre o que nos resta de livre opinião, vez que a imprensa tradicional, em sua quase totalidade, alinhou-se sem pudor ao establishment, seja por interesses financeiros dos patrões, seja pelos pendores ideológicos das redações.

O relator do processo na Câmara foi escolhido a dedo: é o deputado Orlando Silva, o que há de mais retrógrado de esquerda no espectro político brasileiro, além de ser conhecido por sua passagem pouco escrupulosa — para dizer o mínimo — pelo Ministério dos Esportes, em mandato petista anterior. Tem o perfil para cumprir qualquer vontade do governo, interesse ou não à sociedade brasileira.

Os esforços do governo por sua aprovação são gigantescos, mas ainda não frutificaram, pois existem resistências, uma vez que essa aprovação seria claramente a instalação da censura em nosso país.

Existe hoje um alinhamento quase que total da imprensa tradicional com o establishment. Ações governamentais, ainda que altamente discutíveis, são motivo de cínico louvor por parte dessa mesma imprensa. O que não deixa de ser fake news.

Um exemplo: o presidente tem sido apresentado por essa gente como uma figura diplomática importante e até de proa no cenário internacional. A “grande imprensa” está cheia desse tipo de notícia, tecendo loas às dispendiosas viagens que o presidente faz mundo afora.

Mas a verdade, muito clara para quem vive fora, ou para quem tem discernimento, é a de que a diplomacia brasileira, principalmente pelas declarações atabalhoadas do presidente, é irrelevante.

Acresce a isso o fato de que a corrupção não é tolerada nos países mais importantes, e não há como fazer lá fora o que se faz aqui: ignorar o passado do presidente e do seu círculo mais próximo, e seu comprometimento com o aproveitamento. Ou desconhecer o alinhamento do governo petista com as mais desprezíveis ditaduras de esquerda.

E há a cumplicidade evidente da imprensa com algo mais. O que é mais prejudicial para a sociedade brasileira: a publicação de uma notícia mentirosa ou a não publicação de uma notícia verdadeira? É difícil de dizer, mas não é difícil de constatar, para quem tem outras fontes de informação que não seja a “imprensa tradicional” daqui, que muita coisa importante é escondida, pois não interessa ao governo ou a outras partes do establishment, que venha à luz. São as no news, as não notícias, ou notícias que, ainda que importantes, não interessa ao governo trazer a público, e por isso não saem na mídia brasileira.

Uns poucos exemplos, entre muitos

1

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já havia sido eleito, em princípios de 2022, o melhor presidente de Banco Central do ano 2021 pela revista britânica “Banker”.

Recebeu nova premiação no início deste ano: foi eleito melhor presidente de Banco Central da América Latina em 2022 pela revista americana “Latin Finance”, de Miami. O leitor não viu nem verá essa importante notícia na “grande imprensa”. Campos Neto foi feito inimigo pelo governo Lula da Silva e não pode aparecer positivamente na mídia, ainda que em fatos.

2

As recentes viagens do presidente Lula para o exterior têm sido brindadas nos países visitados por ruidosas manifestações de residentes, brasileiros ou não, principalmente com foco na corrupção. Assim foi em Portugal, na Espanha e no Reino Unido.

Em Portugal, as manifestações mais constrangedoras não foram as das ruas. Vários deputados portugueses levantaram cartazes de protesto contra a presença do presidente na Assembleia da República de Portugal e até interromperam seu discurso. As repercussões locais foram grandes. Aqui, pouco ou nada foi a público. A imprensa, uma das grandes responsáveis pela eleição de Lula da Silva tenta preservá-lo.

3

Desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o ensino brasileiro tem sido desvirtuado para abrigar uma parcela de pregação ideológica e seguir a pauta de esquerda.

Não buscou os caminhos de claro sucesso, como os da Coreia do Sul, de Singapura ou da Finlândia.

O resultado tem sido catastrófico, mas não há sinais de mudança. O desempenho de nossas universidades é vergonhoso nas avaliações internacionais. Não foi diferente no que respeita o ensino médio. O Pisa, programa de avaliação internacional no setor, nos coloca nos últimos lugares, desde que entrou em ação, no ano 2000.

Para completar, dias atrás, a imprensa internacional publicou o resultado da avaliação denominada PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study) ou Estudo Internacional de Progresso em Leitura, que é aplicada a cada cinco anos (desde 2001) por uma importante associação holandesa. O Brasil, que dela participou pela primeira vez, ficou no vergonhoso 39º lugar, entre 43 nações avaliadas, enquanto Singapura e Hong Kong ficaram com os primeiros lugares.

O programa mede a capacidade de leitura e apreensão do texto lido em crianças ao fim do 4º ano básico, isto é, crianças pelos 9 a 10 anos de idade. A nossa imprensa, para não criticar o método de ensino que o establishment faz questão de manter, esconde esses resultados.

A imprensa parece não perceber que o problema do nosso ensino é talvez o mais urgente que enfrentamos, de cuja solução decorre a solução de outros problemas sérios. Isso precisa mudar, se queremos um futuro melhor para o nosso povo, e não apenas para essa elite dirigente.

Daniel Ortega: ditador nicaraguense | Foto: Reprodução

4

A perseguição aos cristãos na Nicarágua chegou ao paroxismo.

O ditadorzinho de opereta Daniel Ortega expulsou freiras, fechou os estabelecimentos de ensino católicos, tirou do ar as emissoras de rádio religiosas, fez condenar um bispo (Rolando Alvarez, de Matagalpa) a 26 anos de prisão por protestar contra o comunismo, mantém outros padres presos sem julgamento.

Daniel Ortega bloqueou as contas bancárias das igrejas, deixando os religiosos sem recursos até para alimentos. Lição para nossos padres da Teologia da Libertação. E nada sai na “imprensa tradicional”. Afinal, Ortega é amigo do peito de Lula e do petismo.

Vivemos mesmo tempos muito estranhos. Estranhíssimos.