Entenda por que um país precisa ter ministros qualificados e criativos e não pirotécnicos

26 maio 2024 às 00h01

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O sucesso de um governo — e vai aí um truísmo — se deve em grande parte às qualidades de quem o chefia.
Governar pede sabedoria de um governante, antes de tudo. Sabedoria não é o bastante, governar pede outros atributos, como a sensibilidade e a honestidade, mas conhecer o alcance de um governo é essencial para quem governa.
Como conhecimento se adquire pela vivência e pelo estudo, uma trajetória de vida operosa sem dúvida é importante, mas também não o bastante.
Ninguém aprende tudo pela experiência, donde conhecer pelo estudo o espaço que se vai governar, sua história, sua potencialidade, as qualidades de seu povo, sua economia, sua geopolítica, é importante, ou melhor, importantíssimo.
Governantes que se destacaram — e o presidente Juscelino Kubitschek foi um símbolo — eram homens de grande vivência profissional e política, mas também de sólida e vasta cultura intelectual.
Como também ninguém governa sozinho, a escolha de um ministro de Estado se reveste da mesma importância. Conhecer uma pasta, ser um profissional que se identifica com suas finalidades, ter competência no que se vai fazer, é da mais alta importância para um sucesso ministerial. E, é claro, um ministro deve atuar para toda a sociedade, sem desvios políticos ou ideológicos que privilegiem um ou outro grupo. Conheci ao longo de mais de oito décadas de existência vários governos e muitos ministros.
Ministros que fizeram a diferença no Brasil
Nos momentos mais tranquilos ou nos mais críticos, um bom ministro sempre fez a diferença. Vou citar alguns casos, para conhecimento do leitor menos vivido.
1
Em princípios de 1974, os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), por razões geopolíticas do Oriente Médio, principalmente pela Guerra do Yom Kippur, multiplicaram por quatro os preços do barril de petróleo exportado, causando uma crise mundial.

O Brasil, que importava cerca de metade de seu petróleo, foi muito atingido em sua balança comercial. O presidente era Ernesto Geisel, preparado pela vivência (tinha sido presidente da Petrobrás) e muito estudioso. Tinha como ministro das Minas e Energia Shigeaki Ueki, um advogado que fora também diretor da Petrobrás. Era um erudito. As reações do presidente e do ministro refletiram a competência e o conhecimento:
— Assinaram o acordo nuclear Brasil-Alemanha, que permitia a criação de oito usinas nucleares, que não dependeriam de petróleo.
— Quebraram o monopólio da Petrobrás, permitindo que empresas estrangeiras viessem ao país e aumentassem rapidamente a produção, diminuindo nossa dependência da Opep.
— Criaram o Proálcool e desenvolveram motores próprios para o combustível 100% nacional, que logo estariam, aos milhões, rodando nas cidades e estradas do país, poupando petróleo. Aproveitaram para isso os estudos de um engenheiro do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Urbano Ernesto Stumpf, que pesquisava motores para combustíveis não derivados do petróleo, álcool principalmente. Em dois anos, a balança comercial brasileira estava outra vez equilibrada. Vantagem de toda a sociedade brasileira.
2
Em 1973, teve início no Brasil, sem que se soubesse sua origem, uma epidemia de meningite. O surto teve rápido aumento, atingindo em 1974 proporções alarmantes.

O ministro da Saúde era um médico microbiologista discreto, Paulo de Almeida Machado. Atrás de sua discrição, contudo, estavam uma capacidade em vivência médica e um preparo intelectual invejáveis.
Diplomado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Paulo Machado tinha diversos cursos de especialização, no Brasil e no exterior. Professor universitário, foi ainda diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), onde fez uma gestão muito operosa.
Paulo Machado reagiu rapidamente à epidemia, e conseguiu, no laboratório francês Merrieux (um dos poucos capazes de produzir vacinas contra meningite), contratar doses suficientes para imunizar toda a população vulnerável.
O Brasil tinha 90 milhões de habitantes e Paulo Machado contratou 80 milhões de doses. Ocorre que o laboratório não dispunha de capacidade para essa produção, e foi necessário construir mais uma fábrica, com colaboração brasileira.
Ao final, com ajuda das pistolas de vacinação, algo novo para a época, fez-se uma enorme campanha de imunização e o mal foi debelado. Lucraram todos os brasileiros, independentemente de sua crença e ideologias.
3
Até a década de 1970, grandes áreas de cerrado, no Centro-Oeste principalmente, não se prestavam à agricultura ou à pecuária. Eram solos pobres em nutrientes, geralmente ácidos, de pouquíssimo valor comercial.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi fundada em 1973, na busca de aproveitar esses solos, entre outras metas tecnológicas.
Em março de 1974, assumiu o ministério da Agricultura um jovem engenheiro agrônomo, Alysson Paulinelli. Em quatro anos à frente do ministério, Paulinelli iria deixar um legado que é referência mundial, utilizando principalmente os estudos da Embrapa, e os transformando rapidamente em tecnologia voltada para o campo.
O cerrado passou a produzir alimentos em abundância e a preços acessíveis. Hoje o Brasil é o maior exportador mundial de alimentos, e muito deve ao trabalho de Paulinelli no ministério. Seu nome, no ano passado, foi merecidamente lembrado para o Prêmio Nobel da Paz. De seu trabalho, se beneficiam todos os brasileiros, independentemente de cor, credo, raça ou preferência política.
Ueki, Paula Machado e Paulinelli são exemplos de grandes ministros, competentes, operosos, cujas atuações só vieram em benefício de quem mais precisa de um Estado eficiente e correto, ministros que nunca pensaram em benefícios pessoais ou parciais para apaniguados, e só viram o conjunto da população brasileira. Ministros assim são espécie em extinção.
40 mil e nenhum é sumidade
O governo do presidente Lula da Silva tem quase quarenta ministérios, e nem um dos titulares é sumidade em sua área.
Em vez de sumidades, tem-se nulidades, e sem destaque intelectual. Ou pior: nulidades, se não ajudam, não prejudicam. Mas existem os que até atuam negativamente.
Para exemplificar, existe uma ministra da Igualdade Racial (seja lá o que for que isso represente), que se apresenta como Anielle Franco. Engano a começar pelo nome, pois seu nome verdadeiro é Anielle Francisco.
Sua qualificação para ocupar o ministério é ser irmã de Marielle Francisco (que também se apresentava com nome trocado, Marielle Franco), vereadora assassinada numa guerra de submundo no Rio de Janeiro, e cuja morte foi explorada politicamente à exaustão, por pensarem os seus companheiros de partido que o mandante seria ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A casa caiu quando se descobriu que o mandante era um companheiro, cabo eleitoral de Dilma Rousseff. Mas Anielle já era ministra. Ficou em evidência quando usou um jato da FAB para assistir um jogo de futebol em São Paulo. E mais recentemente, por uma proposta estapafúrdia: a de que a distribuição de alimentos no desastre do Rio Grande do Sul começasse não pelos mais necessitados, mas por seus “companheiros” quilombolas, macumbeiros de terreiro e ciganos. E pediu votos aos flagelados.
Quanta competência, quanto estudo, quanta inteligência e quanto preparo. E que, como se vê, vem em benefício de toda a sofrida sociedade brasileira. Um abjeto exemplo.