Pedro Aleixo para Costa e Silva, na apresentação do AI-5: “Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”.

Quanto mais baixo o status social ou mais frágil psicologicamente é uma pessoa mais influenciável ela é à posição de autoridade. Uma criança com poder de controlar uma roda gigante em um parque de diversões é extremamente rigorosa no número de voltas que o equipamento dá. Um guarda de trânsito, de nível social inferior, tende a ser muito rigoroso com os infratores (um francês chegou a falar em “microfísica” do poder).

Ilustrativo desse comportamento é um “caso” ocorrido em um quartel. Um general chegando cedo ao serviço é abordado por um recruta: “Por favor, dá um fogo aí? Estou louco para fumar o meu cigarro”. Ato contínuo o general acendeu o isqueiro e o ofereceu ao recruta. Este acendeu o cigarro e agradeceu: “Obrigado, general”

O oficial, guardando o isqueiro no bolso, olhou com firmeza para o recruta: “Moço, vou dar-lhe um conselho. Não se atreva a pedir fogo para um sargento. Você iria para o xilindró — sem sombra de dúvida”.

Em teoria, as pessoas de nível social inferior se realizam em posição de poder. Há que se ter cuidado em situações em que um indivíduo detém uma posição de poder superior ao seu nível. O poder tem efeito inquestionável na psicologia das pessoas. Raros são os que em posições de mando não se deixam contaminar.

O caso do dono da manteiga

Não faltam casos a demonstrar a existência do uso e abuso da autoridade. Um comissário de bordo em pleno voo serve um lanche a um passageiro da primeira classe. Este solicita ao comissário que lhe sirva mais manteiga. Ante a recusa, o passageiro retruca: “Estou na primeira classe e tenho direito a um tratamento diferenciado”. Nova recusa. Diz o passageiro: “Eu sou senador da República”. Nova recusa.

Impacientando-se com a obstinação do funcionário, o senador diz, exaltando-se: “Sou o maior acionista desta companhia aérea. Exijo mais manteiga. Quem você pensa que você é?” Ao que o comissário responde: “Eu sou o dono da manteiga”. E não serviu o senador. Assunto encerrado.

Portanto, é prudente identificarmos os donos da manteiga para não nos decepcionarmos nos nossos relacionamentos. Peça fogo a um general, mas não peça manteiga a quem detém uma autoridade superior ao seu status. Eles são perigosos.

Em uma empresa privada, os responsáveis constataram que os melhores guardas de segurança eram os indivíduos de baixo QI ou nível social. Eram os mais rigorosos no cumprimento das ordens de segurança. Os mais bem dotados tendiam a fazer concessões ou exceções. Eles não necessitam de mostrar autoridade para se realizar.

Se a polícia também constatou que o mais rigoroso zelador da ordem pública são os menos dotados e só os contrata, a sociedade corre um risco ao ter uma tropa na rua com revólver e cacetete.

Consciente do risco, tive a seguinte experiência. Fui abordado no trânsito. Soprei no bafômetro. Por solicitação do guarda, saí do carro, coloquei as mãos na parede de um muro para ser revistado se portava armas. Olhei para o policial e, tendo presente estar ele exercitando a sua autoridade, fiz mansamente tudo o que ele mandou. Obedeci mesmo na condição de um idoso que não apresenta o mínimo risco de algum ato violento. Mas ele cumpria rigorosamente as instruções recebidas. E no seu semblante estava visível que o seu ego foi às nuvens. E eu não deixei por menos — frágil como sou senti-me lisonjeado por ser visto como um perigo para a sociedade. Meu ego também foi às nuvens.