Flash Gordon, uma ficção criada para contar a sua visita ao planeta Mongo e o encontro com o diabólico Imperador Ming, the Merciless. Este seriado era a grande diversão nos cinemas nos anos 1940. O herói encantava os jovens com o domínio da comunicação instantânea e da locomoção interplanetária para combater o mal. Isto em uma época em que ninguém ousava imaginar transmissão de imagens pelo ar, telefones sem fio e voos espaciais. A comunicação das emissoras de rádio transmitiam mais chiado do que voz humana. Os telefones eram um piada de mal gosto – poucos, caros e ineficientes. Os aviões voavam baixo, sendo mais um esporte do que um meio de transporte.

Era uma ousadia dos escritores de ficção insinuar a possibilidade da televisão, do telefone celular, dos robôs e do deslocamento pelo espaço aéreo. Aquilo, que era tido como devaneio de loucos, hoje está à mão. O homem já foi à Lua , o céu está saturado de satélites e foguetes já desceram em Marte. Tudo mudou e com elas a primazia dos escritores de ficção científica que cederam espaço para os novos visionários, os gênios da nova tecnologia.

A internet foi um novo Big Bang. De lá para cá ,depois de grandes avanços, seguiram-se os algoritmos e agora estamos entrando na fase da inteligência artificial. Os robôs ameaçam tornar o ser humano obsoleto. Eles fazem de tudo… e melhor! Nas fábricas, nos armazéns, na direção dos carros e na logística substituem com vantagem o trabalhador. Vão além. Substituem os médicos nos diagnósticos mais simples e os advogados nas questões correntes, civis e fiscais. E muito em breve estarão substituindo os religiosos nas igrejas, celebrando missa, distribuindo hóstias e dando a extrema unção. Parece ficção?! Mas a ficção do passado é hoje a nossa realidade.

Qual o papel do ser humano no futuro?

Enquanto as máquinas proliferam, os casais não querem mais procriar. A população, principalmente quando enriquece, tende a decrescer. A China já estabilizou, sem controles de natalidade e sem ter ainda tirado da miséria toda a sua população. Nesta tendência estaremos caminhando para o fim da humanidade. Os robôs estão ocupando os espaços. A Amazon tem uma fabricação própria de robôs para operar os seus centros de distribuição e entrega de produtos. Além das suas lojas de vendas de alimentos sem gente, onde só não substituíram o consumidor. O Porto da Califórnia está totalmente robotizado. Neste mundo da robótica vai sobrar pouco espaço para os humanos, além dos vendedores, os trabalhos de desenvolvimento, programação e manutenção dos robôs. Até que outros robôs os substituam.

Como toda inovação, a revolução tecnológica avança randomicamente . Acontece em setores , países e níveis profissionais diferentemente. Uns avançam, outros ficam temporariamente para trás, sem aos menos darem-se conta da sua obsolescência. Há na iniciativa privada muitas empresas adequando-se e liderando com inovações. O que não acontece, como regra, na administração pública.

Este descompasso de estágios civilizatórios amplia o desajuste entre a administração pública e a privada. De um lado as empresas do setor competitivo estão modernizando as suas operações, diminuindo a necessidade de espaço de escritórios, de fábricas, reduzindo pessoal, viagens e reuniões presenciais… Com custos menores e mais ágeis ,visando a produtividade, ficando mais competitivas. Enquanto a administração pública continua na mesma. Os seus custos e complexidade só aumentam.

O setor público ficou para trás, continua com os mesmos métodos e cacoetes do passado.Temos um choque cultural entre o setor público e o privado, que deverá rebelar-se contra essa ineficiência e atraso.Não faz mais sentido não termos eliminado, trocando por processos tecnológicos, a administração pública. Se podemos ter as urnas eletrônicas nas eleições e o Big Brother do Banco Central para controlar as movimentações financeiras, por que não ter processos eletrônicos para simplificar e enxugar o restante da máquina do governo?

Flash Gordon, de uma ficção virou uma realidade. A modernização do setor publico, outra ficção, um dia terá que tornar-se uma realidade, desinchando a obesa administração do governo. Desejável que seja antes do fim da humanidade.