Brasil precisa esquecer a fantasia de que o Estado é indutor de desenvolvimento
20 outubro 2024 às 00h00
COMPARTILHAR
Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), poderoso ministro do rei Luís XIV da França, no século XVII, interessado no desenvolvimento econômico, reuniu os mais importantes empresários do país e lhes propôs ajuda: “O que eu posso fazer para ajudá-los?”. Legende, um comerciante, teria dito: “Laissez faire, laissez aller, laissez passer, le monde va de lui-même” (“Deixai fazer, deixai ir, deixai passar, o mundo vai por si mesmo”). A expressão também é conhecida na forma grafada com hífen (laissez-faire).
O dito do empresário Legende consubstancia, em poucas palavras, uma teoria econômica, que propõe uma diminuição da interferência política. Assim, restringe-se também a atuação do Estado na economia. Caberia ao poder público apenas a fiscalização e regulamentação.
Foi Adam Smith (1723-1790), o mais importante teórico do liberalismo econômico, que, teorizando sobre “a mão invisível”, afirmou: “Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu ‘auto-interesse’”.
Adam Smith acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental. A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não só à queda do preço das mercadorias, mas também a constantes inovações tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção e vencer os competidores”. Laissez-faire, sublinhou ele.
Laissez-faire passou a ser uma chamada à ordem dos adeptos da economia de mercado. É a ação individual que propicia o melhor para todos. A contrapartida, a crença de ser o governo o indutor do desenvolvimento, só tem acumulado fracassos. Os governos são o retrato no espelho do fracasso empresarial.
O Brasil não aprende com os erros
Infelizmente, o Brasil não aprende com os erros. Os governos do país acreditam que, substituindo a “mão invisível” pela do governo, estão tirando o país da miséria e da péssima distribuição de renda.
Uma lista dos empreendimentos governamentais fracassados — se somados — certamente causariam espanto. São refinarias no Rio de Janeiro e em Recife, é a fracassada “ brincadeira” de produzir sondas e navios (Sette Brasil), é a aventura com o monopólio da informática para produzir computadores (Cobra) … e por aí se foram bilhões de dólares de prejuízo. Sem esquecer o fracasso à proteção da indústria nacional e a zona Franca de Manaus — que, depois de décadas, só servem para onerar o consumidor nacional.
A China tornou-se um exemplo vivo por ter vivido, em menos de um século, as duas situações. Sob o regime comunista (estado empresário) só gerou miséria e sofrimento à sua população. Com parcial liberação da economia ( laissez-faire), em três décadas coloca o país como a maior economia do mundo. Além de poder ostentar o título de ser o país que mais cidadãos tirou da miséria. A mão invisível fez rica uma nação que a mão do governo tinha feito pobre e injusta.
Quem não aprende com os erros está sujeito a repeti-los. É o que estamos insistindo em fazer no Brasil. O governo continua a acreditar ser o indutor do desenvolvimento — vem aí a indústria naval 2 (a número 1 faliu com 20 bilhões de prejuízo), como um exemplo. Melhor seria “deixai fazer, deixai ir, deixai passar, o mundo vai por si mesmo” para vencermos uma estagnação da economia que comemora quatro décadas.