No passado, as mulheres tinham com o engravidar um grande problema. Não só lhes tirava a liberdade de determinar o tamanho da prole como as privava do sexo por simples prazer. Tinham como alternativas à abstinência : ou enfrentar os inúmeros partos ou os abortos com risco de vida. Muitas que engravidavam solteiras eram severamente punidas: – pelas famílias, que não aceitavam um bastardo; – como pela sociedade que as considerava vadias; – e como pelos possíveis jovens que exigiam a virgindade como condição básica para casar. Quantas foram internadas em conventos e tiveram que doar os rebentos? Diz a história que Luís XIV, O Rei Sol , teve um filho de cor, que foi desterrado. Teria tido como pai um dos servidores da rainha.

As medidas anticoncepcionais conhecidas eram o coito interrompido, pouco seguro como se sabia, ou as tripas de animais, substituídas nos tempos modernos pelas popularmente conhecidas camisinhas. Uma série de ervas e crenças eram adotadas , mas os resultados eram pífios. Na idade média ficaram famosas as nobres da corte da Lucrécia Bórgia, que tinham como método para ter uma vida extraconjugal, aproveitar-se da gravides para trair os maridos. Usavam a gravidez para dar vazão aos seus instintos. Como as gravidezes eram sucessivas os tempos de abstinência sexual eram poucos. Ai a libertinagem era total.

Com o advento da pílulas anticoncepcionais, que ensejou a liberação sexual, o sexo ficou livre e seguro. Hoje as meninas iniciam as atividades sexuais na puberdade, sem precisar casar. A evolução da ciência afetou a profissão mais antiga do mundo, matou os prostíbulos, onde os jovens saciavam as suas necessidades, e retardou os casamentos. Além de gerar um fato duplo: a redução da idade para a perda da virgindade das mulheres e o aumento da idade para os casamentos. Morreu de morte natural o tabu da virgindade.

Tudo na vida é relativo. A contrapartida à atual e desejada liberdade sexual das mulheres foi ,de um lado, a eliminação da disposição dos rapazes a casar cedo e, de outro, o “ encalhe das jovens”. Casa-se mais tarde e a prole é limitada. A gravidez foi substituída pela pílula anticoncepcional como solução ao sexo livre. A população mundial tende a decrescer. Fala-se até em acabar pela redução da procriação. O que é agravada pela onda da aceitação geral e crescente do homossexualismo, que não procria. Era de esperar-se que a experiência íntima, antes das núpcias, resultasse em menor número de rompimento do contrato matrimonial. Mas, não . O número de separações aumentou. Os divórcios cresceram. Chama a atenção os matrimônios duradouros. Parece que, de ambas as partes, o tempo tido para conhecer o universo dos parceiros e a própria experiência pré-nupcial não garantem um casamento “até que a morte os separe”.

Essa situação não passa desapercebida para as mães de filhas casadoiras . Não é incomum nas reuniões de amigas o inconformismo com as filhas solteiras sem terem um parceiro fixo. Elas como dizem: “ vão ficando” . Em uma ocasião. Um grupo de senhoras discutiam o caso. Diziam elas que , nos tempos normais ( para elas estes são tempos anormais ) as moças namoravam firme antes dos 18 anos e casavam até os vinte e dois. Tendo casado cedo, tinham tempo de ver os herdeiros crescidos ainda na relativa mocidade. Eram avós antes dos cinquenta anos. Agora, concordavam todas, tinham em casa moças lindas sem nenhum pretendente à vista. Não entendiam e, portanto, não se conformavam.

Um dia, em uma reunião dessas, uma mãe manifestando-se surpresa por não ter um genro em vista, dizia – minha filha é uma moça bonita, tem curso universitário, cultiva as melhores etiquetas sociais, tem uma cultura literária e musical como poucas e já viajou conosco por todo o mundo. Acreditem, nunca teve um namorado e nem “ficou” com nenhum rapaz. O que acontece? Dá para acreditar que os moços estão cegos para a beleza, para os dotes intelectuais e a moral elevada?

Na roda delas era uma voz só: todas tinham casos iguais. E eram unânimes em assumir que as filhas não ambicionavam nem um rapaz rico e muito menos casariam por sexo. Queriam um companheiro para dividir as coisas da vida. Se nem riqueza e nem sexo eram desejadas, por que não encontravam um bom partido? Perguntavam.

Um passante, marido de uma delas. Ouvindo a conversa, intrometeu-se e disse: – ouvi o motivo das suas inquietações. Vou meter o bedelho, sem ser chamado, por ter a solução para uma das suas filhas. Tenho um afilhado solteiro muito bonito, simpático e elegante. Tem finesse! Depois de viver a vida intensamente resolveu que vai escolher uma moça como essas que vocês descreveram para formar um lar. Eduardo é o nome dele. Edu na intimidade. Filho de pais riquíssimos, trabalha como hobby, não necessita. E faz questão de seguir uma vida de luxo. Mora só em uma mansão com seis empregados, não perde um concerto musical ( aliás toca piano como um virtuoso ), frequenta só os melhores restaurantes e viaja frequentemente para o exterior. Faz questão de conhecer todos os países do mundo. Edu é um filho amoroso e dedicado. Está aí a caça que vocês procuram! Posso ajudá-las?

Durante as descrições da personalidade do Edu, todas, mas todas sem exceção, balançavam as cabeças e imploraram : – apresente esse seu afilhado para as nossas filhas. Podemos marcar um jantar em casa com todas elas para ele escolha uma delas. Temos certeza de que ficará encantado com as nossas meninas.
Uma pergunta, porém, fez uma delas: por que, com tantas qualidades e virtudes, o Edu conseguiu não casar?

Minhas senhoras, disse o padrinho, não faltaram pretendentes. Mas Edu sempre recusou-se a casar com uma interesseira. Quer amor puro. Para ele só é amor de verdade se não está condicionado à riqueza — detesta as mercenárias; as focadas em sexo— , repudia a luxúria; e as egocêntricas — que só pensam em si mesmas, não respeitam a liberdade de escolha dos parceiros. Uma das escolhas do Edu é um costume do qual não abre mão: dorme de camisola rosada com rendinhas da mesma cor.

A indignação foi geral: – CAMISOLA ROSADA COM RENDINHAS ?! Não isso é demais! JANTAR CANCELADO!