COMPARTILHAR

Quando os idealistas interferem no mercado procurando o ótimo, acabam pondo o bom a perder

A Natureza é um fato concreto. Perceptíveis são as florestas com as suas espécies animais e botânicas, é o ar que respiramos, é a mudança climática… Sabidamente essenciais para a sobrevivência da vida no planeta. A Ecologia, muito acertadamente, é hoje uma preocupação universal. Felizmente, tomamos consciência da importância da sua preservação e da inconveniência da intromissão humana no seu funcionamento. A natureza encontra o seu esplendor sem a ação humana. No seu estado natural dispensa a mão do homem. Equilibra-se por si só. As interferências externas são perturbadoras da sua ordem. Sem, com isto, poder-se afirmar que não ocorram situações de desequilíbrio, mas estas recuperam-se com o tempo, se respeitada a sua integridade.

Quando o homem interfere, tentando melhorar o que é perfeito, ao ignorar que o maior inimigo do bom é o ótimo, o resultado são remendos sem fim. São como raízes de Tiririca, uma puxa a outra. Portanto, quanto menos a humanidade interferir na natureza, melhor. E, em havendo necessidade, que o faça atuando nas causas e não no seu efeito. Por exemplo, a camada de ozônio não deve ser eliminada evitando os automóveis, estes não são a causa, mas o combustível. Como aliás, acertadamente está sendo feito com os carros elétricos.

Pintura de Wolfgang Lettl

Outro fator importante para as condições da vida humana é a Economia. O sistema econômico, ao contrário do ecológico, é uma abstração. Uma floresta existe concretamente. Os mecanismos de mercado, não. O que torna o seu funcionamento menos inteligível. Não é possível, ver, pegar, cheirar… os possíveis efeitos da emissão da moeda, das taxas de juros, da oferta e procura… todos fatos que se refletem no chamado mercado. Uma figura de ficção, pois o mercado é tão-somente o reflexo das relações entre os agentes econômicos. O mercado é como o palco de um teatro onde atores se interagem. Desta ação é que resulta o espetáculo. O palco como o mercado são neutros. Já a queima de fósseis é um fato concreto. Não o sendo os bilhões de transações que ocorrem no mercado. O mercado, portanto, é um retrato da natureza. Deve ser deixado intocado para encontrar o seu próprio equilíbrio.

Entretanto, nas duas naturezas, a ecológica e a econômica, quanto menos o homem interfere no livre funcionamento, melhor. Mas, na prática há intromissão nos dois sistemas. Na ecologia o homem destrói espécies, na economia ele distorce o funcionamento do mercado, ambas podem provocar reações indesejáveis. Faz sentido, portanto, a necessidade de quem defenda a ordem natural. Neste aspecto, no Brasil, a consciência ecológica existe e luta-se pela preservação da natureza.

Infelizmente, a mesma consciência de defesa da outra ordem natural — a econômica — é limitado a poucos. Não são muitos os que reconhecem que as distorções de mercado devem ser combatidas na causa e não nos seus efeitos. Efeitos estes que se manifestam pela ação negativa dos monopólios, dos cartéis, nas crises de abastecimentos… Tornando legítima uma intervenção corretiva, que será saudável se for na direção de defender: na natureza a ordem natural; e na economia a competição livre em bases éticas. Aceitando que os ajustes, como é próprio da natureza, pedem algum tempo para mostrar resultados e que os desequilíbrios serão momentâneos e passageiros. A economia e a ecologia devem ser preservadas no estado natural, o mais possível. Isto é o ideal. O governo deve limitar-se a defender a ordem natural na ecologia e na economia dos seus infratores. Quando os idealistas interferem no mercado procurando o ótimo, acabam pondo o bom a perder.