A China comunista só deu certo porque copiou o modelo capitalista de Singapura
05 fevereiro 2023 às 00h00
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O Muro de Berlim não foi só uma divisa geográfica que desunia as duas Alemanhas. Foi fundamentalmente um marco na história das ideologias. A sua queda, se não foi o fim da história, como preconizou o filósofo americano Francis Fukuyama, que assegurava, que doravante só restaria no mundo como opção a democracia liberal, foi o fim da ideologia comunista. Com o desmantelamento da União Soviética (URSS), restou no mundo comunista a China e uns poucos inexpressivos países como Cuba, Albânia e Coreia do Norte.
Na China, entretanto, o regime estava nos seus estertores. Nos finais dos trinta anos do governo de Mao Tse-tung ( 1976), um poeta tirano, o país vivia um caos econômico e político. Com a sua morte, assume, em 1978, Deng Xiaoping como secretário-geral do PCC, líder da área direitista do partido, que viria a ser o responsável pela fundação da China moderna. Ele viveu em Paris com uma bolsa de estudos, onde foi, simultaneamente, operário, bombeiro e ajudante de cozinheiro. Fez curso de graduação de comunismo em Moscou. Tinha por vivência e mentalidade uma visão prática da vida. Não era um poeta como Mao, mas um realista.
Como primeiro-ministro chinês, Deng fez visitas aos EUA, Japão e Singapura para observar as economias que estavam dando certo. Destas, o impressionou o modelo singapurense. Um governo baseado na meritocracia, boa governança e ausência de corrupção. Singapura era um casamento de democracia autoritária e total liberdade econômica, que colocou uma ilha pobre de recursos em um dos países mais prósperos do mundo. Singapura, com tributação baixa, ambiente favorável ao empreendedorismo e o primeiro lugar no Ranking de Liberdade Econômica, saiu da condição de um entreposto colonial pobre e violento para ser um dos quatro Tigres Asiáticos. Atingindo a condição de estar entre as quatro mais ricas regiões do mundo medidas por renda per capita.
Quando Singapura separou-se da Malásia, tornando-se um país independente, teve como primeiro-ministro Lee Kuan Yew, de 1959 a 1990. Com um governo forte, leis severas, mas com ambiente favorável aos negócios, o país desenvolveu-se tornando um modelo a ser imitado. Lee foi estudante da London School of Economics, onde lecionaram Friedrich Hayek, Karl Popper e outros expoentes do pensamento liberal. Os resultados do acerto do seu governo, copiado pela China, são eloquentes se analisados por qualquer parâmetro, mas especialmente com o Brasil.
Confira os dados sobre o Brasil e Singapura
Competitividade: Singapura 1º x Brasil 71º
Liberdade econômica: Singapura 1º x Brasil 144
Facilidade para empreender: Singapura 2º x Brasil 124º
Horas gastas por ano para pagar imposto: Singapura 64h x Brasil 1.501horas
Liberdade Individual: Singapura 30º x Brasil 109º
IDH: Singapura 9º x Brasil 79º
PIB per capita: Singapura 3º x Brasil 90º
Carga tributária: Singapura 14,1% x Brasil 32,3%
Pisa (média): Singapura 2º x Brasil 68º⠀
Deng, uma mente aberta e disposto a ouvir, tomou Lee como referência. São muitas as ocasiões em que se aconselhou com ele. Aproveitando do bom relacionamento, enviou 22 mil funcionários chineses para estudar Singapura. Seguro do caminho a seguir, inicia uma reforma da economia de baixo para cima. Começa pelos municípios com uma total abertura nas famosas Zonas Francas de Livre Comércio. Uma revolução dentro de uma economia estatizada. A abertura da economia de comando para a de mercado, não aconteceu sem as resistências dos ideólogos do partido. Deng, porém, foi pragmático: “Não importa a cor do gato, desde que cace o rato”. Frase que ficou como a marca do estadista.
Nascia, assim, com o comando do denominado “chefe das reformas” uma nova China, que tornou-se a primeira economia mundial, tirando da miséria milhões de chineses. Deng é, pois, o fundador da China moderna. Os seus gatos, mais capitalistas do que os capitalistas do Ocidente, caçam os ratos em todos mercados mundiais. Enquanto nós outros ficamos bordando a ideologia do “tudo pelo social”, gerando distorções e desemprego, os chineses pragmáticos caçam os nossos ratos. Sem resultados, ficamos pobres de ratos, mas ricos de ideais — que não pagam as contas. A diferença está em quem sabe copiar o que deu certo e os que insistem em andar em más companhias. Referendando a crença popular dos chineses de que “neste mundo nada se cria, tudo se copia”… de preferência o que funciona.