O meu amigo Irapuan da Costa Júnior, colunista do Jornal Opção, um lúcido e corajoso defensor da liberdade individual, dividiu comigo em recente tertúlia a preocupação com a atual tendência de crescimento do totalitarismo. A nossa preocupação , a dele e a minha, é que a liberdade individual está em perigo e as vítimas ( todos nós) não estão  plenamente conscientes dessa ameaça.

Ocorreu-me, ao escrever este texto, a seguinte  figura para ilustrar a atual ameaça. Imagine um cidadão da Califórnia, feliz com a sua vida de gloriosas conquistas, mas ignorando  que as placas tectônicas a seus pés  podem, ao se mover,  promover um terremoto, como está previsto acontecer um dia. A felicidade dele é efêmera, pois está a beira do abismo e não sabe.

O Globalismo ( assunto do meu artigo nesta coluna sob o título A Jornada da Humanidade, de 23.06.24), uma ameaça mundial, está sendo implantado no mundo e nós, como o feliz californiano, o estamos ignorando. Neste andar da carruagem,  a qualquer hora as placas do totalitarismo  se movem e vamos despertar da nossa ingenuidade.

Por oportuno,  em recente livro,  “À Beira do Abismo”, do professor e colunista da Gazeta do Povo, Daniel Lopez, da Vide Editorial, $62, 218 pág., publica uma coletânea de textos curtos, em linguagem jornalística, dando a sua visão geopolítica sobre o Globalismo e alerta para o que entende  será o fim do mundo — a supremacia do totalitarismo..

Sugiro a leitura para todos os que não querem ser ingênuos, como o californiano que olha as aparências sem se ater às ameaças. Forças ocultas existem e vale a pena desvendá-las. O Globalismo é  uma ameaça global. A tendência ao totalitarismo está  em crescimento entre nós  — o que deve ser motivo para  brados de alerta. A predominância da concentração de poder no governo é uma ameaça que afetará para pior as nossas vidas. Estão em ação políticas para concentrar nos governos o poder sobre os cidadãos.

Daniel Lopes, como bom intelectual, não é um alarmista. Ele aponta a ameaça, analisa os fatos e expõe os possíveis desdobramentos. Na maioria dos artigos, como cacoete, termina pedindo uma benção divina. Como se existisse “alguém” preocupado com os jogos de poder dos  humanos. Se esta possibilidade fosse real seria a negação do prometido livre arbítrio.

Entre as manipulações usadas pelos autoritários para constranger a liberdade individual está a dicotomia entre a obediência à Lei ou às autoridades constituídas. Exigem eles,  os totalitários , que uma determinação  ( jurídica ou política ) seja seguida sem contestação.Ordem dada…ordem cumprida.  O que foi a linha de defesa do carrasco nazista Eichmann . Defendeu-se ele no julgamento dos criminosos de guerra, em Nuremberg: “comandei os campos de concentração exterminando os judeus por seguir ordem dos meus superiores. Não tinha como desobedecer”.

Aí entra a questão— qual ordem deve prevalecer? Como fica a obediência à autoridade se ela não tem amparo legal? Como fica a nossa subordinação se uma ordem violenta os nossos valores morais? Há o  caso de liberação de conscritos ao serviço militar, em caso de crença religiosa, como é o caso dos ortodoxos em Israel.

No recente caso do X ( Tweeter ) com o Superior Tribunal Federal ( STF ), em que uma ordem judicial foi desobedecida,  apresenta-se a dicotomia entre o que diz a Constituição e o que determina o judiciário. A desobediência do X foi justificada com a alegação de ser ilegal descumprir a Constituição e imoral violentar a liberdade de expressão.

Elon Musk, dono do X, faz história com sua luta contra o autoritarismo,  em insubordinação ao intervencionismo vigente na Califórnia, transferiu a sede das sua empresas  para o Texas. E também, por coerência, encerrou as atividades da empresa no Brasil.

 As placas tectônicas estão se movendo. A vítima será a própria liberdade  individual. Estamos à beira do abismo.