Demissão de aliados do vice-prefeito Agenor Mariano da Prefeitura de Goiânia marca o fim da aliança

O fim da aliança entre PT e PMDB na capital, iniciada nas eleições de 2008, era apenas uma questão de tempo desde meados do ano passado. Oficialmente, na versão peemedebista, a gota d’água foi o lançamento da candidatura do ex-prefeito anapolino Antônio Gomide ao governo do Estado. Obviamente, o PT não leva esse fato em conta, mas é certo que a sistemática de críticas dos peemedebistas à administração de Paulo Garcia geraram um efeito acumulativo. Ainda assim, também oficialmente, o fim da aliança para os petistas foi o posicionamento público do vice-prefeito Agenor Mariano, que malhou pesado a proposta de aumento de IPTU enviada pela Prefeitura para a Câmara Municipal em sua conta pessoal no Twitter.

Não precisava ter sido da forma que foi. Fim de casamento pode ser amigável quando as duas partes reconhecem que não há mais motivação para se manterem unidas. Era esse o caso. Para o PMDB, a questão é simples: como aliado, o candidato do partido, qualquer que seja ele, teria que defender a administração de Paulo Gar­cia dos ataques dos adversários durante a cam­panha sucessória do ano que vem. Essa é uma herança eleitoral que os peemedebistas não to­param carregar. A imagem do governo municipal cristalizou-se negativamente e, na melhor das hipóteses, poderá se recuperar um pouco se tu­do funcionar bem daqui pra frente. Muito pou­co, por melhor que possa ser o desempenho.

O PT sempre percebeu que deveria lançar candidato próprio para tentar resguardar a imagem do partido na eleição porque o PMDB emitiu inúmeros sinais de que não iria bancar uma campanha de defesa. Então, a não ser que os petistas estivessem dispostos a abrir mão dessa posição, o único jeito seria se separar do PMDB e voltar a trilhar caminho independente.

Ou seja, tanto no PMDB como também no PT, estava muito claro o fim das conveniências para a manutenção da aliança. Quando a situação chega nesse ponto, as principais lideranças dos dois lados precisam se sentar à mesa de negociações e acertar a separação com o mínimo desgaste para ambas as partes. Mas isso aparentemente nem foi tentado. Agenor Mariano simplesmente reuniu a pólvora e riscou o fósforo, e obrigou Paulo Garcia a acionar seus canhões.

A última pancada do vice-prefeito foi num cenário nacional. Durante convenção do PMDB, em Brasília, Agenor usou figura de linguagem incomum e totalmente deselegante, ao dizer que o PMDB, pelo menos em Goiânia, teria que “vomitar o PT”. A resposta do prefeito, desta vez, foi dada com a caneta. Imediatamente, ele teria mandado de volta pra casa os cargos comissionados indicados pelo vice, incluindo a joia da coroa, a presidência da Comurg.

Paulo Garcia, assim, não apenas respondeu ao agressivo discurso de seu vice como mandou um recado velado aos vereadores peemedebistas, que mal e mal ajudam na manutenção mínima de uma base de sustentação na Câmara. E o recado é muito claro: a partir de agora, quem votar fora do compasso do prefeito vai perder o pequeno exército de cargos que mantém na folha de pagamento da Prefeitura. Ou seja, acabou a brincadeira.

Além de fechar o playground da relação política Prefeitura/base, há certa ex­pectativa sobre se Paulo Garcia vai ou não abrir possíveis segredos guardados até agora sobre herança maldita recebida ao suceder Iris Rezende, em 2010. Em entrevista quinta-feira, 19, no Jornal da TBC, apresentado pelo jornalista Paulo Beringhs, o vereador peemedebista Wellington Peixoto garantiu que o PMDB está absolutamente tranquilo em relação a esse tema espinhoso. E chegou a dizer que Iris entregou a Prefeitura para Paulo Garcia com a situação financeira boa.

Com isso, ele acabou jogando a batata quente nas mãos do prefeito: se estava tudo em ordem, por que a administração do petista ainda hoje enfrenta dificuldades para cumprir com as mais elementares tarefas do governo, como recolhimento de lixo, manutenção de áreas verdes, e planejamento adequado de manutenção dos postos de saúde?

No início do ano passado, com a cidade afogada numa seriíssima crise do lixo, o prefeito mandou embora o secretário Dário Campos, que cuidava das finanças desde a administração de Iris, e colocou em seu lugar o principal especialista do PT nessa área, Cairo Peixoto. Aos amigos, Cairo disse ter ficado impressionado com a situação que encontrou, mas ao abrir um pouco a caixa preta, acabou gerando uma crise com o PMDB, o que forçou o prefeito Paulo Garcia a trocá-lo pelo atual secretário, Jeovalter Correia, que por sinal é do PSB. O novo secretário concluiu o levantamento financeiro iniciado por Cairo, e admitiu que existia um passivo na dívida flutuante vencida na casa dos 400 milhões de reais. Esse buraco teria sido a tal herança que tanto se comenta.

Toda essa situação pode acabar revelando o que levou a administração de Paulo Garcia a amargar uma das mais terríveis reprovações da história da Prefeitura de Goiânia pela população. Falta de capacidade administrativa do próprio Paulo, herança maldita deixada por Iris ou uma soma de todos os fatores?