Ex-maior e mais poderoso partido político de Goiás, o PMDB se encontra numa encruzilhada que vai definir seu futuro

O PMDB no dilema de apoiar Caiado ou ir para a disputa com Iris outra vez | Fernando Leite/Jornal Opção
O PMDB no dilema de apoiar Caiado ou ir para a disputa com Iris outra vez | Fernando Leite/Jornal Opção

O PMDB já foi grande, muito grande. Imen­samente grande, se me permitem falar assim. Em 1982, quando do retorno das eleições diretas para governadores de Estado, no primeiro e mais importante passo de retorno lento e gradual à normalidade democrática no país, o PMDB arrebatou multidões de goianos. Olhando de longe, desde agora até aquela eleição, e especialmente se levar em conta somente o resultado das urnas, vai parecer que foi uma coisa fácil, sem riscos e praticamente sem resistência dos derrotados. O PMDB passeou nas urnas com a vitória de Iris Rezende.

De perto, a visão crítica revela que a história de 82 foi recheada de fortes emoções e grande dose de negociação e ousadia. A ditadura ainda gerava muito medo, e as ameaças de retrocesso eram constantes. Às vésperas da eleição, Goiânia amanheceu coberta com cartazes apócrifos que reforçavam o medo coletivo que se sentia das baionetas.

Apurados os votos, que naqueles tempos eram somados na ponta do lápis, num processo que demorava alguns dias, emergiu das urnas libertárias esse PMDB que ainda hoje se percebe grande no Estado de Goiás. Se fosse possível quebrar os elos do tempo e espaço e retirar aquele PMDB de 82 para inseri-lo nos dias atuais, o PSDB e toda a aliança governista estadual seriam pouco mais que nanicos. Até porque quase toda a estrutura partidária que aí está era parte integrante do PMDB.

Esses tempos de forte hegemonia política acabaram. O PMDB, por mais que possa se fortalecer nos próximos anos, jamais voltará a ser o que já foi um dia. O que está em jogo, portanto, não é como retornar à fase áurea, mas, sim, como sobreviver às intempéries atuais.

As cinco derrotas consecutivas que o partido sofreu desde 1998 foram avassaladoras. E não foram apenas os insucessos nas urnas que transformaram o PMDB em um partido ainda forte dentro do contexto, mas que nem de muito longe pode se apresentar como grande e competitiva força político-eleitoral em Goiás. Ao longo dessa história iniciada em 1982, o PMDB encolheu no que se refere ao debate interno e, com isso, passou por um processo de seletividade de lideranças, expurgando junto qualquer possibilidade de renovação. O partido envelheceu e se tornou decadente.

Agora, mais uma vez, a história do PMDB goiano se apresenta com viés de futuro: qual o caminho a ser adotado, o de novos expurgos internos ou de reconciliação geral? A resposta a essa equação vai determinar o que o partido terá condições de construir tanto politicamente como, e consequentemente, no campo eleitoral. Na última eleição, o PMDB se viu reduzido ao ponto extremo de sua trajetória. Sua relevância se limitou ao desempenho em Goiânia e Aparecida de Goiânia. Em todas as demais cidades, salvo um caso ou outro de particularidades locais, o partido foi massacrado.

Se tivesse vencido as eleições, o PMDB estaria de volta ao Olimpo dos vencedores?

Dificilmente. O partido perdeu sua condição orgânica, e se resumiu à figura de Iris Rezende. E é isso o que agora se apresenta no debate sobre o futuro: mantém-se a linha que produziu vitórias nas décadas de 1980 e 1990, e derrotas depois disso, ou reconcilia-se internamente e amplia os horizontes do debate entre as diversas alas? Em outras palavras, o PMDB pode tentar somar suas divisões ou simplesmente diminuir ainda mais o que já está pequeno.

Tanto numa decisão como na outra, não será muito fácil para o PMDB recuperar prestígio. O caminho é longo. A diferença é que num caso, o de reconciliação e ampliação dos horizontes do debate interno, ofertam ao partido a possibilidade de construir novos alicerces, enquanto no outro, o de caças às bruxas, vai se apurar imediatamente, mas com o terrível efeito colateral de caçar junto o próprio debate orgânico.

É desse divã que o PMDB sairá. O partido poderá penar as intempéries internas e partir numa direção com o campo de visão política ampliado, ou se manter limitado à sua visão unicamente irista de todo o processo. Tanto em um caso como no outro, certamente o PMDB não poderá alijar a liderança de Iris Rezende. A diferença é apenas a de campo de discussão e debate interno. Ou unicamente irista, e aí sem qualquer contestação, ou com o pensamento irista incluído, tornando-se assim mais plural diante de todas as demais correntes de atuação internas. Não deixa de ser um grande dilema: crescer e somar mesmo sem pensamento único, ou diminuir o que está dividido. Uma coisa parece inexorável. Diante de tudo o que se está vendo, o PMDB entrou em uma área de risco. Se cair mais um pouco, vai deixar de ser um dos protagonistas da política goiana para se tornar caudatário de lideranças que nem sequer frequentam suas instâncias internas. Sem somar, o PMDB não pode descartar a possibilidade de ter que apoiar o PT em 2016 e aceitar uma vice de Ronaldo Caiado em 2018. Ou isso, ou Iris mais algumas vezes.