Solidariedade vai melar o acordo do centrão com tucano Geraldo Alckmin?
22 julho 2018 às 00h00
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Tweet do pré-candidato do PSDB a presidente da República deixou o deputado Paulinho da Força (SD) preocupado com discussão sobre volta do imposto sindical
Os partidos do chamado centrão que negociavam apoio ao pré-candidato Ciro Gomes (PDT) de repente mudaram de lado. DEM, PR, PP, PRB e SD abandonaram as tratativas de coligação com o pedetista por insegurança sobre o perfil estourado, declarações impulsivas e agressivas do ex-ministro, além da postura contra as privatizações.
Na quinta-feira, 19, tudo estava certo e os quatro partidos mostraram mais do que simpatia. Praticamente bateram o martelo de que os principais partidos do centrão no Congresso Nacional estarão com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida pela Presidência da República. Mas bastou um tweet na conta oficial do pré-candidato tucano para o deputado federal Paulinho da Força, presidente nacional do Solidariedade, começar a reclamar e ameaçar a fortalecida nova aliança.
Ao contrário do que está circulando nas redes, não vamos revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhista. Não há plano de trazer de volta a contribuição sindical.
— Geraldo Alckmin 🇧🇷 (@geraldoalckmin) July 20, 2018
É do interesse do Solidariedade que a contribuição sindical – também conhecida como imposto sindical – volta a ser paga de alguma forma. Paulinho da Força teme que a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que inicialmente não dependeria de uma verba obrigatória descontada dos salários dos empregados para sobreviver, e que caminha ao lado do PT, se sobreponha à Força Sindical, que o presidente do SD lidera.
Antes, quem namorava, e até mudava seu discurso meio que a contragosto para contar com Paulinho da Força, DEM, PP, PR e PRB, mas principalmente o Democratas e o Partido Progressista, era o pedetista Ciro Gomes. O PR estava bastante atraído e pretendia fechar negócio com o pré-candidato do PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro. Mas tudo indica que Valdemar Costa Neto teria ficado assustado com a falta de delicadeza do militar reformado Bolsonaro na tratativa com diretores estaduais da sigla. Não era amor, não era.
Ao anunciar apoio ao tucano, o PR e os outros quatro partidos do centrão fizeram – caso assim fique a definição até o fim das convenções, em 5 de agosto – com que Alckmin pulasse de 1 minuto e 18 segundos de tempo de TV do PSDB em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos na campanha de TV, a partir do dia 31 de agosto, para 4 minutos e 30 segundos. Esse será o tempo que o pré-candidato do PSDB terá se a aliança com DEM, PP, PR, PRB e SD for mantida para o registro da chapa, que vai até o dia 15 de agosto.
Nessa jogada, a que restou a um nome que até o momento não decolou nas pesquisas de intenção de votos – tem apenas 7% no último levantamento estimulado Datafolha/Folha de S.Paulo -, Alckmin começa a repartir os cargos no governo e presidência da Câmara e Senado antes mesmo de disputar o voto do eleitor nas urnas. Adversários já preparam o discurso para acusá-lo de adotar a mais suja pratica do fisiologismo, como representante da velha política nas eleições.
Desistências
A jogada de Alckmin e do PSDB tirou definitivamente do páreo Flávio Rocha (PRB), que resolveu voltar suas atenções às atividade do grupo Riachuelo, avançou no terreno do já fora da disputa deputado Rodrigo Maia (DEM), diminui Aldo Rebelo (SD) da lista de pré-candidatos, pode transformar Josué Gomes (PR) em seu vice na chapa e ainda tende a levar o PSD, do postulante Guilherme Afif Domingos, do Sebrae, que recentemente concedeu entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, como pré-candidato a presidente. Lembram do senador Álvaro Dias (Podemos), que queria o apoio do centrão sem cogitar o diálogo com PSDB e MDB? Por enquanto segue sozinho.
A verdade é que a política de coalizão, ou se quiserem chamar de política de cooptação, obriga que os partidos busquem alianças nem sempre tão coerentes para garantir possibilidade eleitoral e de governança. Ciro Gomes, que tenta se colocar como o representante mais viável da esquerda no pleito deste ano, tentou mudar seu discurso para a centro-direita, o que não colou muito. O resultado foi ver o centrão, que dialogou a ponto de fechar com o pedetista, principalmente PP e DEM, pularem fora após serem atraídos pelo PSDB, com ajuda do PT e MDB, que pressionaram para que ninguém desse corpo à pré-candidatura de Ciro.
Resta a Ciro esperar a movimentação do Solidariedade, que pode ou não romper o apoio quase certo a Alckmin, e tentar fechar acordo com o PSB, que inicialmente caminharia com o tucano, mas se afastou do PSDB ao ver o ex-prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), entrar na disputa pelo governo de São Paulo contra o governador Márcio França (PSB), ex-aliado de Alckmin.
O PT olha ainda com distância para o PSB que Ciro quer atrair, mas está mais próximo mesmo é do PCdoB, que tem como pré-candidata a presidente a deputada Manuela D’Ávila. Há até conversas que dão conta de uma possível oferta da vice a Manuela na chapa com o ex-presidente preso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantido na disputa até que Justiça Eleitoral decida se o registro de candidatura do petista, que só deve ser apresentado no prazo final, será ou não aceito.
A corrente que tem ganhado pelo entre os filiados do Partido dos Trabalhadores é a de que a sigla não deve lançar outro nome até o último momento, com a crença de que os recursos da defesa se arrastarão até o fim do primeiro turno. Se Manuela e o PCdoB aceitarem a vice do PT, ela será a segunda mulher a desistir da pré-candidatura. Na verdade, a primeira delas foi rejeitada pela convenção nacional do PMN no sábado, 21, em Brasília: a jornalista Valéria Monteiro.
Corrida pelo vice
Depois de perder o PR, Bolsonaro correu atrás do general Augusto Heleno (PRP), que rejeitou a proposta de ser vice na chapa do PSL. Foi a vez de recorrer ao também general do Exército Hamilton Mourão (PRTB). Só que o PRTB tem pré-candidato, Levy Fidélix, que é presidente do partido. O jeito foi, até o momento, se mostrar satisfeito com o que sobrou, a advogada, professora da USP e uma das autoras do pedido de impeachment que vingou contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Janaína Paschoal.
A aposta de Bolsonaro para compensar os apenas 8 segundos de tempo de TV que terá durante a campanha: pedidos de direito de resposta no programa dos outros candidatos sempre que for citado. Ao menos um aliado de peso, mas que não é da estrutura partidária nacional, o deputado do PSL tem. Aplaudido no último encontro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o parlamentar mostra que seu apoio entre a elite brasileira não é algo que pode ser ignorado. Mas, assim como Ciro Gomes, o desafio será conter o pré-candidato de dizer absurdos durante a campanha.
Ex-partido de Bolsonaro, que não topou lançar o deputado federal na corrida ao Palácio do Planalto, o PSC confirmou na sexta-feira, 20, a pré-candidatura do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Casto. Ao contrário do presidenciável da sigla em 2014, Pastor Everaldo, até agora o postulante do PSC não abriu a boca para defender temas conservadores como a defesa da família formada por um homem e uma mulher e a defesa da vida contra o aborto.
Outro nome da esquerda que tenta ser o sucessor de Lula, mas ainda sem o apelo eleitoral nas pesquisas, é o presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. Com o apoio do PCB na chapa, o Psol de Boulos lançará como vice a indígena Sônia Guajajara. O problema de ser comparado em sua visibilidade política com um possível herdeiro de Lula é o fato de o Psol ter surgido de uma ala dissidente do PT, e que critica o fato de Boulos se assemelhar muito àquilo que o princípio de fundação do partido nega.
João Amoêdo (Novo) é um dos poucos que sobreviveu e que, até o momento, manterá seu nome como representante do liberalismo e de uma figura da iniciativa privada na política. Até o momento, sua chance eleitoral efetiva é praticamente nula. O mesmo acontece com a ativista sindical Vera Lúcia, que virá para a disputa em chapa pura do PSTU. Ao contrário de Boulos e Manuela, é favorável à prisão de Lula e defende uma completa mudança de paradigma administrativo no governo federal.
Marina Silva (Rede) aposta em uma rede de apoiadores voluntários e sistema de doação online que não rendeu nem R$ 80 mil até o momento ao cofre da campanha da fundadora do partido em 2015. Sem apoio de outra sigla, Marina também sofre do mesmo problema que Bolsonaro enfrentará durante a campanha, que é a falta de tempo no rádio e na TV, os dois abaixo dos 10 segundos.
Outro pré-candidato, o deputado federal Cabo Daciolo, ocupa um lugar deixado pelo concorrente do PSL, que chegou a ter sua imagem usada na propaganda partidária na TV do Patriota. O partido deixou de se chamar PEN e mudou o nome para Patriota a partir de negociação com Bolsonaro, que antes de pensar em se filiar ao PSL deixaria o PSC para ser pré-candidato a presidente pelo Patriota. O que não veio a acontecer.
E o Meirelles?
E Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda, que queria o PRB de Flávio Rocha na sua vice, já pensa em acusar Alckmin e o centrão de fisiologismo. O entendimento está certo, mas Meirelles precisa lembrar que se tornou ministro da Fazenda de um governo que só passou a existir com o apoio do PSDB, e que seu partido, o MDB, não abrirá mão de uma aliança, mesmo que apenas no segundo turno, se o tucano estiver na reta final da eleição e o ex-integrante da gestão Temer não. Vale recordar que desde a redemocratização os emedebistas nunca ficaram de fora da formação do governo federal.
Diferente de Amoêdo, o PSTU entra na disputa para se posicionar ideologicamente. O pré-candidato do Novo pretende ser uma espécie de renovação. O problema é que a reta final, que marca a realização das convenções partidárias e últimos ajustes nas coligações, tem deixado bem claro que não há espaço ou vontade no mundo político de permitir uma renovação. Talvez, na hora de dar seu voto, nem o eleitor, que adora dizer que “tudo que está aí” não receberá seu voto, pode vir a escolher um nome conhecido. Até mesmo abrir mão de escolher, seja por descrédito total no sistema político partidário eleitoral ou em uma demonstração de que não quer qualquer um dos pré-candidatos disponíveis.