PTB balança o coreto
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Possível candidatura de Luiz Bittencourt a prefeito de Goiânia mexe com o quadro sucessório
O que parecia um caminho previamente traçado e sem grandes surpresas foi abalado na última semana com a confirmação de que o ex-deputado federal Luiz Bittencourt será o nome do PTB na eleição de Goiânia, no ano que vem. Seu nome foi colocado pelo presidente regional da legenda, deputado federal Jovair Arantes, mas não causou muita sensação. Parecia apenas um balão de ensaio lançado como contrapeso da balança de negociações políticas. Se a intenção de Jovair era essa, não é mais. Bittencourt coube como uma luva perfeita em meio ao marasmo que se formava, e a possibilidade de ele realmente disputar a sucessão do prefeito Paulo Garcia (PT) é imensa.
Na semana passada, Bittencourt ocupou o espaço destinado ao PTB no rádio e na televisão, e o recado foi absolutamente direto: o partido terá candidato a prefeito de Goiânia, ele próprio. Mas é claro que apenas isso não basta. Ele terá que abandonar seus negócios particulares e se dedicar novamente no trabalho de “formiguinha” para conseguir se situar entre os eleitores. No mundo político, sua inserção foi instantânea. Fora dele, obviamente que ainda não.
Mas quais as chances de Luiz Bittencourt ser candidato e, mais do que isso, reunir condições para vencer a disputa? A primeira parte é fácil por inúmeros fatores. Inicialmente, o impacto causado no mundo político diante da mera possibilidade da candidatura dele revela que há, sim, um vácuo na sucessão de Paulo Garcia. Os três principais nomes até aqui, Iris Rezende (PMDB), Waldir Soares (PSDB) e Vanderlan Cardoso (PSB), são, digamos assim, pouco impactantes enquanto novidade. Nenhum deles centraliza. Ou seja, há espaço para um nome que possa captar esse protagonismo. Bittencourt se encaixa nesse perfil.
Além desse fato, ele está no partido certo e na hora certa para confirmar candidatura. O PTB, embora seja aliado em nível estadual, sempre lançou candidatura própria em Goiânia, independentemente da posição majoritária da base aliada estadual. Provavelmente, diante desse histórico, é óbvio concluir que o PTB está mesmo disposto a seguir a receita das eleições anteriores. Em outras palavras, o partido não costuma blefar. E Bittencourt é o único nome do PTB em condições de protagonizar na disputa. Juntou-se a mesa e a fome. Resta saber apenas se ele tem vontade realmente de comer.
Quanto à possibilidade de vencer ou não, é absolutamente impossível prever, mas a chance de vitória existe, sim. Bittencourt tem uma base ainda sedimentada em Goiânia, inclusive entre peemedebistas, e circula com extrema facilidade sobre qualquer tema no debate sobre os problemas da cidade e suas possíveis soluções. Ou seja, seu discurso é temático, prático, de fácil entendimento e devidamente forte. Diante dos três principais adversários, Bittencourt ganha fácil qualquer debate sobre Goiânia.
É claro que apenas um bom discurso não é, e nunca foi, fator preponderante para definir uma vitória ou não nas eleições. As condições políticas são sempre vitais para a formação de uma boa chapa proporcional, além das coligações partidárias. Candidato do “eu sozinho” dificilmente surpreende positivamente no final da campanha, salvo em raríssimas oportunidades.
Esse tipo de dificuldade Bittencourt não deve enfrentar. Ele tem trânsito absolutamente tranquilo no Palácio das Esmeraldas e dentro da base. Sua única área de atrito tem um caráter muito mais pessoal do que político. O ex-prefeito Nion Albernaz, que disputou com ele a Prefeitura de Goiânia em 1996, ainda não teria digerido a agressividade do discurso dele naquela eleição, vencida por Nion. É problema? Claro que é, mas um tanto quanto periférico em relação ao global. Ele poderá até não contar com o PSDB em sua coligação, mas certamente terá inúmeros tucanos e, mais do que isso, não enfrentará a oposição do governador Marconi Perillo.
Por fim, quanto às chances de vencer, é necessário observar os principais adversários. Iris Rezende é, sem dúvida nenhuma, o mais forte de todos. Se lança favorito como sempre, mas menos favorito do que no passado. Vanderlan Cardoso vive desde já o mesmo drama que o persegue em todas as disputas: o isolamento. Até aqui, ele não conseguiu sequer apontar para uma coligação consistente. Isso é fatal. Waldir Soares, que causou na eleição para deputado federal no ano passado, garante que será candidato de qualquer jeito, inclusive, e se for o caso, fora do PSDB. Ele tem discurso forte e consolidado quando o tema é segurança pública, mas terá a mesma força ao tratar de questões do dia a dia da população, como o transporte coletivo ou engenharia de trânsito? Em resumo, Waldir é uma perfeita incógnita.
Com um discurso bem posicionado, e na esteira da péssima imagem da administração do prefeito Paulo Garcia, que não conseguiu se recuperar dos desgastes registrados no início do mandato, Bittencourt cresce por ocupar um vácuo político e de perspectiva. Não é blefe, não.