Por que deu tudo errado?
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As eleições deste ano resultaram em autêntico desmonte das hostes
oposicionistas em Goiás. Da euforia inicial à depressão total, o que houve?
Afonso Lopes
A imagem mais forte da euforia que dominou as alas oposicionistas em Goiás talvez seja a do publicitário e marqueteiro político Duda Mendonça, um mago de inquestionável competência. No final de janeiro, pelas mãos do então pré-candidato peemedebista Júnior Friboi, Duda esteve em Goiânia e garantiu, entre outras coisas, que o governador Marconi Perillo fatalmente seria derrotado no segundo turno “contra qualquer adversário”. Friboi acabou desistindo da briga interna no PMDB, mas o prognóstico do marqueteiro baiano não condicionava a candidatura do empresário a um possível sucesso eleitoral da oposição. “Contra qualquer adversário”, sentenciou ele na ocasião.
Se essa é a imagem que melhor sintetiza o clima que dominava a oposição no início deste ano, está longe de ser a única. Antes disso, no auge da crise financeira de 2011, nos primeiros meses do terceiro mandato, a oposição, principalmente o PMDB, emitia sucessivos sinais de que não acreditava que o governo conseguiria se recuperar. Depois, em 2012, quando explodiu a CPMI do Cachoeira, o PT nacional enxergou uma oportunidade sem igual para detonar de vez a liderança de Marconi Perillo. E, nesse embalo, a oposição materializou manifestações públicas muito mais barulhentas do que numerosas com o slogan de “Fora, Marconi”. Era o auge da euforia de uma vitória eleitoral que seria verdadeiro mamão com mel, mas que jamais se concretizou.
Um mês após as eleições, com as emoções de todos voltando ao leito original, não deixa de ser oportuno levantar fatos e ações que fizeram a realidade se impor diante do sonho eufórico e extasiado da oposição em Goiás. O que houve entre 2011/2012 e 2013/2014? Por que a oposição sofreu a sua pior e mais contundente derrota em cinco eleições?
Não é fácil agora e nem será fácil no futuro encontrar todas as explicações possíveis, nos mínimos detalhes, que resultaram na superação da mais grave crise político-eleitoral pelo governador Marconi Perillo. Jamais na história recente se assistiu a um quadro geral como esse, em que alguém vai ao subsolo do desgaste de sua imagem e se recupera de maneira tão contundente. Nesse sentido, toda essa trajetória carrega uma altíssima oportunidade de estudos aprofundados sobre as eleições de 2014. Isso, certamente, se fará de forma mais apropriada no futuro. Neste momento, e com todos os fatos ainda quentes na memória coletiva, há a possibilidade de contaminação da qualidade da análise pelo frescor da emoção.
Ainda que seja assim, não há como não apontar a eleição deste ano como um episódio que se perpetuará como exemplo, como lição. Como jamais se viu em outra disputa eleitoral no Estado de Goiás.
De maneira político-eleitoralmente infantil, além de obviamente superficial, opositores de todos os matizes resumem a recuperação de Marconi e sua quarta vitória a um único fator: investimentos em publicidade. O tema, aliás, foi severamente explorado na campanha. Mas por que essa acusação não rendeu nada em termos práticos para os acusadores? Porque, provavelmente, o dia a dia vivido pela população era outro, no sentido exatamente oposto. Em outras palavras, não era só propaganda. Era realidade. Além disso, a população não engoliu emocionalmente a farsa da acusação porque os acusadores, quando governaram, também utilizaram do mesmo expediente de comunicação social.
Outro ponto indicado pelos opositores foi a parcialidade da imprensa. Ora, mas quando a imprensa em Goiás, e no Brasil, não foi opinativa? E nem por isso em 1998 perdeu as eleições. Por sinal, provavelmente, em termos comparativos, a imprensa goiana este ano estava muito mais dividida do que naquela eleição. Em 98, e diante dos fatos, a imprensa unanimemente indicava que Iris Rezende seria eleito com sobras. A tal ponto que as pessoas, quando entrevistadas, diziam que iriam votar em Marconi, mas diziam ter certeza de que Iris venceria.
Também não foi por causa da imprensa que o PMDB atravessou uma pré-campanha sangrenta internamente. No início, com Vanderlan, que deixou o partido, e por último com Friboi. E nem foi ação jornalística que levou o comando nacional do PSB a rejeitar o acordo entre Vanderlan Cardoso e Ronaldo Caiado, fato que desencadeou um processo natural de encolhimento de Vanderlan e retração em sua capacidade de ampliar sua coligação. Também não foi a imprensa que empurrou os partidos tradicionalmente aliados incondicionais do PT para outras coligações, fato que deixou a campanha de Antônio Gomide falando sozinha.
O terceiro ponto no chororô dos opositores foi sobre um suposto inchaço de funcionários públicos na máquina administrativa estadual. Faz algum sentido essa acusação?
Aparentemente, pelo menos do ponto de vista do equilíbrio fiscal e da lei de responsabilidade, não faz sentido algum. Por sinal, o governo que rompeu os limites legais com gastos com funcionários não foi o estadual, mas o de Goiânia, comandado pelo principal aliado de Iris Rezende.
Enfim, a oposição cansou de ver problemas em Marconi e não se discutiu internamente. Em nenhum momento a oposição foi humilde o suficiente para relevar desejos e posições pessoais em nome do objetivo comum. Os opositores se embriagaram no canto da sereia de que “qualquer adversário venceria” sem levar em conta que estavam enfrentando um político absolutamente centrado administrativamente e totalmente dedicado eleitoralmente.
Marconi não venceu pela quarta vez por causa dos muitos erros cometidos ao longo do tempo pelos opositores. Venceu porque é um sujeito que acredita nele mesmo, e trabalha bastante para superar obstáculos. Se não fosse ele, não haveria para a base aliada 1998, e muito menos 2014. Mas como será sem ele, Marconi, em 2018? Para a base, o trabalho começa já, e será mais duro ainda.