Por que Demóstenes tem crescido na base?

COMPARTILHAR
É nítido: na corrida interna na base aliada estadual por uma das vagas para candidatura ao Senado, o ex-senador, agora no PTB, tem aparecido cada vez mais, e vai ganhando espaço

Se não há disputa na cabeça da chapa, com a candidatura do governador José Eliton (PSDB) à reeleição completamente pacificada — com o devido registro de divergência isolada do ex-deputado federal e ex-secretário Vilmar Rocha, presidente regional do PSD —, e uma das duas vagas para o Senado destinada ao ex-governador Marconi Perillo, a última vaga nesse grupamento tem disputa bastante acirrada.
O afunilamento foi iniciado ainda no segundo semestre do ano passado. A primeira pretendente à vaga a desistir foi a deputada federal Magda Mofatto, presidente regional do PR. Ao perceber que a luta seria desgastante, ela de forma inteligente anunciou sua desistência e não perdeu tempo, dando início ao trabalho visando a reeleição. O segundo nome a se afastar um pouco da vaga é exatamente o de Vilmar Rocha. Ao entender que não teria preferência para sua pretensão, exagerou nas reclamações, atacou até aquele que hoje é governador do Estado, e se distanciou do processo.
O episódio Vilmar pode ter servido de alerta para os políticos com maior vivência política e convivência partidária. O senador-herdeiro Wilder Morais, que chegou a receber sinal verde para avançar com sua candidatura à reeleição de ninguém menos que Marconi Perillo, não entendeu que a peleja não estava encerrada previamente. Após a lua de mel inicial, ele se tornou distante, quase alheio às movimentações dentro da base. Foi nesse vácuo que surgiu com muita força a também senadora Lúcia Vânia (PSB), vitoriosa, como Demóstenes Torres, nas eleições de 2002 e 2010.
Wilder demorou a perceber que a fila tinha andado e estava fora dela. Quando finalmente conseguiu avaliar a situação já era tarde demais. Reclamou nos bastidores, com alguma, mas não total, discrição, e obteve no máximo uma suplência como prêmio de consolação. E não foi qualquer suplência, mas a do atual líder das pesquisas e quem detém a maior perspectiva de vitória este ano, Marconi. Não aceitou, se distanciou ainda mais e passou a admitir que poderia, e foi, conversar com os candidatos oposicionistas Daniel Vilela (MDB) e Ronaldo Caiado (DEM). Ele tinha como trunfo a presidência regional do PP, e provavelmente imaginou que arrastaria todo o partido com ele nessa empreitada inusitada. Isolado, e derrubado com a chegada do deputado federal e ministro Alexandre Baldy, retornou ao DEM, de onde saiu em 2012 ao assumir a vaga até então de Demóstenes.
Lúcia Vânia tinha, dessa forma, caminho livre para consolidar de maneira peremptória e absoluta sua candidatura à reeleição ao Senado pela chapa da base aliada estadual. Um a um, todos os seus concorrentes diretos foram deixando a área livre, ou por perceber dificuldades, ou por errarem de forma a permitir um vácuo na atuação política permanente junto à base, perto e no dia a dia da militância.
Sinal amarelo
Essa situação confortável permaneceu inabalável até que um sinal amarelo passou a piscar. No Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli concedeu, provisoriamente, autorização para a elegibilidade do senador cassado Demóstenes Torres. O ministro entendeu que, do ponto de vista da Justiça, Demóstenes venceu todas as etapas, através de derrubada de provas obtidas ilegalmente, ou no julgamento do mérito de algumas acusações, inclusive dentro do próprio sistema de controle interno do Ministério Público, não restando, no entender dele, qualquer impedimento legal para a recuperação de seus direitos políticos, suspensos por decisão do Senado em 2012. Depois disso, a segunda turma do STF confirmou o parecer de Dias Toffoli.
Desde o primeiro momento, o ex-senador, que foi recebido com tapete vermelho no PTB, avisou que lutaria para disputar, pela base aliada e somente dentro dela, a condição de candidato ao Senado. Sobre a possibilidade de disputar vaga de deputado federal, Demóstenes Torres deixou claro: não mata e morre para ser candidato, mas se vier a disputar a eleição, será para o Senado. E acrescentou: candidato ou não, continuará na base aliada estadual.
Surgiu nesse ponto a velha máxima de que não existe vácuo na política. Como a senadora Lúcia Vânia tem estilo mais isolacionista de atuação, Demóstenes encontrou total liberdade para estreitar laços com a base, e vem recebendo cada vez maior número de apoio à sua candidatura. Enquanto isso, embora ela própria não tenha sinalizado nessa direção, alguns adeptos da senadora insinuaram que se for preterida internamente poderá encontrar abrigo em outra chapa, nesta caso, na oposição.
O que se sabe é que Demóstenes Torres cresceu e apareceu após a liberação do STF, mas a disputa pela segunda vaga ao Senado dentro da base aliada estadual está longe de ser definida. O que mudou é que Lúcia Vânia não está mais sozinha, e tem contra ela um sobrevivente que já esbanjou garra suficiente para ser levado a sério. Quem vai terminar o processo à frente é uma outra história, cujo final só se saberá depois. Que o jogo será muito interessante parece não haver dúvidas. São dois craques, cada um com seu estilo. l