No dia 15 de janeiro de 2021, este jornalista que vos escreve publicou um artigo intitulado ‘MDB terá novo ciclo de Iris e Maguitos?’. O texto, escrito e publicado nesta mesma coluna dois dias após a partida do ex-prefeito e ex-governador Maguito Vilela e nove meses antes do falecimento de Iris Rezende – que na ocasião do artigo já havia declarado sua aposentadoria -, expunha a preocupação com um vácuo deixado não só no MDB, mas na política goianiense com a saída de campo de dois de seus líderes mais proeminentes. Três anos depois, em pleno ano eleitoral, é inegável que a ausência de Iris e Maguito e o jeito deles de fazer política (referido por alguns como em “extinção”) expõe uma campanha e um ambiente político menos coesos, mas a movimentação que hoje se nota talvez responda à questão levantada no título do artigo mencionado.

Aqui, não é possível falar em divisão do MDB. Ora, divergências e atritos internos são naturais em todo e qualquer partido (“O próprio nome já diz: ‘partido’”, costuma citar o pessedista Vanderlan Cardoso). E muito menos em perda de poder – o MDB conta hoje com a maior bancada da Câmara Municipal de Goiânia, levando-se conta a solidez da chapa de candidatos a vereador do pleito deste ano, há uma grande chance desse status ser mantido. No entanto, perguntar não ofende: em um cenário de Iris e Maguito entre nós, estaria o MDB sem candidato próprio à Prefeitura de Goiânia como ocorre neste ano?

Novamente, não há que se falar em divisão, mas poderá haver quem diga que a ausência de um emedebista no páreo se deve à falta de coesão do partido, desacerto esse que, tampouco, é um traço exclusivo do atual MDB – vale lembrar a trabalheira que o PT, maior partido da federação PT-PCdoB-PV, teve neste ano para conseguir consenso em torno de um nome petista em um cenário em que os outros dois partidos tentaram puxar para eles o protagonismo (o PV de Cristiano Cunha, por exemplo, chegou a romper com a petista Adriana Accorsi em Goiânia durante algum tempo). No entanto, o que se nota é um MDB em um período de transição em que, ao mesmo tempo em que olha saudoso para os líderes de um passado nada distante, já prepara os novos para a nossa e as futuras gerações.

No artigo publicado em 2021, destaco dois nomes em específico. O primeiro é o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha. Vencedor de sua última eleição com 96% dos votos, quando foi reeleito prefeito de Aparecida, Mendanha até que tentou, mas foi impedido de disputar a eleição para a Prefeitura de Goiânia neste ano (uma vez que foi eleito e reeleito para um cargo no Executivo, Gustavo Mendanha ficou vedado, conforme a legislação, de concorrer a um terceiro mandato consecutivo). Conta-se nos bastidores que esforço não faltou, uma vez que o ex-prefeito teria sido o primeiro escolhido do governador como candidato ao Paço Municipal.

O capital político que deixou de ser aplicado em sua própria campanha em Goiânia, no entanto, não foi desperdiçado. Assumindo o ônus de ser chamado até de “traidor” por ter se negado a bancar a reeleição de Vilmar Mariano, Mendanha articulou com maestria, sugeriu o nome e mergulhou de cabeça na campanha de Leandro Vilela, sobrinho de Maguito Vilela. Hoje, não é possível desassociar os dois. Gustavo e Leandro, quase uma “dupla sertaneja”. O projeto de Leandro Vilela passou a ser, inclusive, o “termômetro” para o projeto do próprio ex-prefeito aparecidense em 2026. Se não for lançado ao Senado pela base governista, há quem já aposte em uma chapa para o governo de Goiás com Mendanha na vice e Daniel Vilela na cabeça.

Vilela é, inclusive, o outro nome citado no artigo ‘MDB terá novo ciclo de Iris e Maguitos?’, de 2021. E novamente, a aposta de três anos atrás também parece se concretizar. Atual vice-governador do Estado, Daniel Vilela tem sido preparado pelo próprio Ronaldo Caiado (que pretende se lançar na corrida pelo Palácio do Planalto) para sucedê-lo no Palácio das Esmeraldas em 2026. O filho de Maguito Vilela está na liderança de vários projetos essenciais para o governo no âmbito político: de articulações no interior goiano e condução de relações diplomáticas e comerciais com outros países, até obras de destaque como a reestruturação do Estádio Serra Dourada, a marca ‘Daniel Vilela’ está cada vez mais presente.

Filha de Iris Rezende, a advogada e empresária Ana Paula Rezende é outra figura que parece estar sendo preparada por sua própria trajetória para liderar. Em entrevista recente ao Jornal Opção, Ana disse que, após a morte do pai, pensou que se afastaria por completo da política – ambiente em que nasceu e cresceu. Mas descobriu logo que a decisão não ficaria de pé por muito tempo. Claro, é inevitável identificar os traços e atributos do prefeito de Goiânia em Ana Paula. Ponderada e técnica, a advogada sabe se conectar com as pessoas e costuma despertar a memória afetiva do goianiense de forma frequente. O apelo para que ela, que desde sempre acompanhara o pai na política somente nos bastidores, se lançasse como candidata veio intensa e de várias direções, mas a resposta foi negativa.

“Eu ficava pensando: ‘Eu não tenho experiência política, eu não tenho a sabedoria que ele tinha, eu não posso colocar em risco a história do meu pai’. Porque ali, se não desse certo, não era a minha vida que ia mudar, a vida da minha família. Era a vida de um milhão e meio de pessoas que estariam sob a minha responsabilidade”, disse Ana Paula Rezende, na entrevista. No entanto, se é falta de experiência na política que provoca receio na advogada, a questão parece estar sendo trabalhada. A filha de Iris entrou de forma convicta na campanha do candidato a prefeito Sandro Mabel, e ela mesmo já estaria se preparando para se lançar na corrida a uma cadeira ou na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal, em 2026. Além disso, os olhos se voltam, também, para Ana Paula quando o assunto é sucessão na presidência do MDB em Goiás.

Mas nem só de MDB vive a nova liderança. Filha de um dos prefeitos mais lembrados pela população de Goiânia, Darci Accorsi, a delegada da Polícia Civil e deputada federal, Adriana Accorsi, que hoje disputa a cadeira no Paço Municipal, desponta sem sombra de dúvidas como a líder da esquerda e centro-esquerda de Goiânia e de Goiás, e um dos nomes de maior destaque no cenário nacional – seguindo os passos do pai. Adriana está em sua sexta eleição: disputou e venceu, por três vezes, a eleição para deputada (duas vezes estadual e uma federal). Disputou pela primeira vez o cargo de prefeita em 2016, quando ficou em quinto lugar. Quatro anos depois, em 2020, tentou novamente e subiu duas posições, ficando em terceiro. Hoje, a petista está empatada em primeiro lugar nas pesquisas com Sandro Mabel, candidato apoiado pelo governador Ronaldo Caiado.

Com os exemplos do passado, concretizam-se os feitos do presente e do futuro. Hoje, ouve-se que jamais teremos outros líderes como Iris Rezende e Maguito Vilela – dois nomes que ajudaram a pavimentar o caminho da política goianiense. O que é totalmente verdade. Assim como se mostra provável que, em 40 ou 50 anos, vai se ouvir que Goiânia não voltará a ter líderes como Gustavo Mendanha, Daniel Vilela e Adriana Accorsi. E fica a lição: os líderes são formados no cotidiano. A avaliação do legado é que fica para a posteridade.