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O ano era 2016, e a seguinte afirmação estampava a chamada do site Agência Brasil: “PMDB tem maior número de prefeitos, mas PSDB foi o partido que mais cresceu”. A edição brasileira do El País, extinta em 2021, por sua vez, manchetava: “PSDB se consolida como vencedor das eleições municipais 2016”. Já a Folha de S. Paulo cravou: “Mais eficiente das siglas, PSDB elegeu 47% de seus candidatos a prefeito”.

Era um dos anos áureos para os tucanos. Ao todo, 1,7 mil tucanos disputaram o pleito de 2016 e 803 foram eleitos prefeitos. Isso sem contar os quase 5,4 mil vereadores que se elegeram pela legenda nesse ano. O número de prefeitos do PSDB eleitos representou, ainda, um aumento de 15% se comparado ao da eleição de 2012, quando a sigla levou 695 tucanos ao poder municipal.

O cenário da época, com Dilma “impitimada” e o PT sendo escolhido como o alvo da malhação de Judas, sem dúvidas teve sua contribuição para a euforia tucana. “O PMDB e o PSDB se beneficiaram muito do clima contra a [presidenta cassada] Dilma [Rousseff] e contra o Lula, e surfaram nessa onda”, explicou um cientista político, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em entrevista à Agência Brasil.

Mas o antipetismo que se consolidou naquela época parece não ter sido suficiente para frear o declínio já anunciado do partido que, outrora, foi um dos maiores do país.

Em 2020, apesar da queda brusca no número de candidatos tucanos eleitos, o PSDB, que passou de mais de 800 prefeitos eleitos em 2016 para 520 em 2020, ainda mantinha uma posição digna no ranking das siglas com maior peso. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2020, os cinco partidos que mais elegeram prefeitos naquele ano foram MDB, PP, PSD, PSDB e DEM (que mais tarde se fundiu ao PSL, dando origem ao União Brasil).

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Ciente e preocupado com a decadência em curso do partido, o PSDB decidiu agir. Em novembro de 2023, durante a 16ª convenção nacional do partido, a sigla, até então comandada pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, escolheu o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, como novo presidente nacional dos tucanos. Aliado de Perillo, Aécio Neves disse na época ter ficado “imensamente feliz” com a eleição dele para a direção do PSDB, e citou um “compromisso de fortalecer o partido”.

Hoje, dois anos após o ex-governador de Goiás assumir o partido, a declaração de Aécio soa risível, quase sarcástica. Isso porque, sob Marconi, o PSDB se esfarelou: reduziu, quase extinguindo, sua presença no Legislativo em todas as esferas; diminuiu o número de prefeitos eleitos e quase zerou a quantidade de governadores.

O partido passou de 803 prefeituras conquistadas em 2016, para 273 em 2024. No segundo turno do pleito do ano passado a legenda foi derrotada em todas as capitais em que disputou. No Legislativo municipal, o PSDB passou de 5.360 para 3.002 em 2024. No federal, a queda foi ainda mais feia. Em 2018, os tucanos elegeram 29 deputados federais. Em 2022, esse número caiu para 13. Em 2025, a bancada do PSDB na Câmara conta com apenas 11 parlamentares.

Quando se fala em governo estadual, o cenário de terra arrasada salta à vista. Hoje, o PSDB conta com apenas um único e solitário governador, Eduardo Riedel, do PSDB, que já sinalizou que também não deve permanecer na sigla por muito tempo. Outros, como Eduardo Leite e Raquel Lyra, já se adiantaram e bateram asas do ninho tucano. A situação de debandada é tão escancarada que até mesmo o vice-presidente do PSDB, Duarte Nogueira, ex-prefeito de Ribeirão Preto, abandonou a legenda e migrou para o PSD de Kassab.

Em Goiânia, capital em que o candidato do PSDB foi derrotado na última eleição municipal, figurando em quarto lugar, os representantes mais proeminentes do tucanato também não devem seguir por muito tempo balançando a flâmula do tucanato. Aava Santiago é uma delas. Segundo apurado pelo Jornal Opção, a migração da vereadora para outra sigla não é mais questão de se, mas de quando.

Perillo, na direção de um carro sem motor e que perde suas peças pelo caminho, parece assistir à situação atônito e perdido. Ora tentando polarizar com o PT, ora buscando se alinhar com o bolsonarismo, o ex-governador atira para todos os lados tentando acertar um foco que ajude a resgatar uma militância tucana que não existe mais.

A sobrevida política do partido se tornou prioridade, e até uma tentativa de fusão (ou seria incorporação) foi feita, e totalmente fracassada. Me disse um renomado jornalista de Goiás, há algum tempo, durante uma conversa sobre os bastidores políticos de Goiás e do Brasil: “Ninguém quer se aliar com o PSDB, porque ninguém quer servir de novo hospedeiro pra partido que já ganhou alcunha de parasita”.

As lideranças mais influentes do PSDB já migraram para outras siglas, e as que permanecem discutem quando farão o mesmo. A legenda encolhe em número e relevância, assistindo, inerte, ao próprio ocaso. É o fim de um partido que já disputou o poder nacional, agora resumido ao ruído seco e incômodo de um tucano sem voo.