Uma longa disputa travada com boatarias, ‘disse-me-disse’, troca de acusações e decisões judiciais. É a perfeita descrição para a situação da chapa do candidato à Prefeitura de Goiânia, o senador Vanderlan Cardoso, do PSD, que deu o grito de guerra no início de agosto, quando anunciou como seu vice o médico e ex-vereador Paulo Daher. A confirmação de Daher, presidente do PP em Goiânia, na chapa de Vanderlan foi feita durante a convenção pessedista, evento realizado justamente para anunciar os nomes do partido que estariam no pleito goianiense deste ano.

Praticamente no mesmo momento em que Vanderlan dava entrevistas sobre a escolha de seu vice (escolha essa que permaneceu misteriosa por meses até ser revelada na convenção, não tanto por discrição, mas por indefinição – ou falta – do nome), a poucos quilômetros dali, deputado federal Adriano do Baldy, do mesmo partido de Daher, desautorizava o presidente metropolitano e garantia a permanência da legenda progressista com o pré-candidato do governo, Sandro Mabel (UB).

Começava, a partir de então, o imbróglio. A cúpula estadual do PP acusou Daher e Vanderlan de complô para levar o partido para a coligação do pessedista, em uma suposta tramoia que teria atropelado a comissão provisória e seus candidatos para subverter a orientação original – de que a sigla progressista deveria ficar com Sandro Mabel. O ex-vereador, por sua vez, rebateu dizendo que nenhum apoio a Mabel havia sido decidido na convenção e que sua posição de presidente metropolitano lhe garantia a autoridade de conduzir a legenda, incluindo colocá-la como membro da coligação de Vanderlan Cardoso.

Com um Alexandre Baldy tímido e arredio, se referindo à ata da convenção de Daher como “fraudulenta”, mas sem vir a público de forma contundente contra a suposta trama dentro de seu partido (ora, ele – presidente estadual do PP –  havia dado sua palavra ao governador de que o partido estaria com o candidato dele, no caso, Sandro Mabel), e um Adriano do Baldy gritando aos quatro ventos que Paulo Daher havia golpeado a própria legenda ao seguir o caminho oposto ao pedido pelos candidatos a vereador, as primeiras decisões judiciais proporcionaram acachapantes derrotas para a direção estadual, apontando que, sim: Daher tinha direito de manter o PP junto ao senador e prefeitável Vanderlan.

Porém, enquanto uma ala de apoiadores cantava vitória pela manutenção do presidente metropolitano do PP na vice de Vanderlan Cardoso, outra já profetizava nos bastidores a sina da chapa. A informação que circulava nos círculos pessedistas é que Sucena Hummel, presidente licenciada do Conselho Regional de Contabilidade de Goiás, já preparava seu traje oficial de vice de Vanderlan.

Não deu outra. Na última semana, Paulo Daher apresentou pedido de renúncia de sua candidatura a vice-prefeito de Goiânia na chapa com Vanderlan após o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) decidir pela remoção do Partido Progressistas da campanha do senador. A decisão, no entanto, também impedia a legenda de se unir à coligação de Sandro Mabel, forçando uma redistribuição do tempo de TV que acabou favorecendo Mabel e prejudicando Vanderlan. em nota, a coligação Goiânia que Queremos, de Vanderlan, declarou que “todo o processo de aliança entre PSD e PP ocorreu rigorosamente dentro da lei, em convenção legitimamente convocada para tal finalidade e com a concordância das autoridades partidárias”.

“Respeitamos e acataremos a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás. No entanto, manifestamos a nossa discordância e tomaremos as medidas cabíveis para reverter a sentença junto ao Tribunal Superior Eleitoral”, finalizou a nota, em um tom amargo de quem diz “Vamos cair lutando”. É claro que, internamente, Vanderlan e aliados já aceitam que foram derrotados. Tanto é que o pessedista, cumprindo o prognóstico dos realistas, já anunciou Sucena Hummel como sua vice na chapa.

Talvez, jamais venha à tona o que se passou na mente de Daher e Vanderlan ao acreditarem que uma articulação tão atabalhoada pudesse prosperar. Mesmo que haja um quê de verdade no argumento de que a direção estadual sabia do plano de unir o PSD com o PP – legenda que já estava prometida para apoiar Mabel, o escolhido de uma das figuras de maior capital político hoje em Goiás, leia-se governador Ronaldo Caiado -, não se pode cogitar que um “exército de um homem só”, leia-se Paulo Daher, conseguisse validar a tese de que sua iniciativa era fruto de um consenso dentro de seu partido. Não com os dirigentes estaduais gritando a plenos pulmões de que ele, Daher, havia enganado seus correligionários para garantir seu próprio nome como vice em uma chapa.

Aqui não se trata se julgar o mérito de quem merecia, ou não, ficar com o PP, mas sim de expor o quão ingênuo foi um dos lados ao não estudar o cenário e enxergar para onde apontavam as chances. O que tivemos, ao final, foi um Vanderlan que simplesmente escolheu uma nova vice e seguiu com sua campanha, e um Daher que corre o risco de ter queimado quase todo o seu capital político em uma aventura que pode ter proporcionado alguns momentos de euforia, mas que, em última análise, não valeu o ingresso.