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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, parece estar decidido que seu projeto para 2026 já está consolidado: vai disputar a reeleição (pleito no qual tem grandes chances) e não se fala mais nisso. O republicano, que tem feito reiteradas falas sobre a questão, afirmando com todas as letras que quer permanecer no Palácio dos Bandeirantes, chegou a se reunir na última semana com quase 60 deputados estaduais da base aliada para um almoço no qual sinalizou uma aliança em torno de seu projeto.

Conforme apurado pela CNN, presentes no evento revelaram que o chefe do Executivo paulista disse que se sentia “em dívida com os deputados” e que considerava o Parlamento “sócio de seu governo”.

O movimento de Tarcísio, de aproximação com o Legislativo de São Paulo, é claro que apenas confirma, de fato, o que ele tem dito há tempos: não tem interesse de disputar o Palácio do Planalto. Diz-se que o governador chegou a se movimento para isso logo no início das articulações (que começaram ainda em 2024), com a esperança de receber a “bênção” do ex-presidente Jair Bolsonaro.

No entanto, após uma sequência de “crises de Luís XIV”, Bolsonaro, que trocou o “Estado sou eu” ao sair da presidência da República por “O candidato sou eu”, ao manifestar desejo de voltar para ela, parece ter deixado os planos presidenciais irem embora com a correnteza.

Acontece que, pouco mais de um ano depois, o cenário é completamente diferente. E é impressionante a quantidade de acontecimentos jurídicos e políticos que mexeram de forma radical no quadro eleitoral que se desenha para 2026.

O mais importante deles, talvez, seja justamente a saída permanente de Bolsonaro do jogo. Condenado a mais de 27 anos de prisão por planejar e liderar uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que já estava inelegível antes, não tem mais qualquer possibilidade de ser candidato a qualquer coisa no ano que vem. O ex-mandatário está em prisão domiciliar há dois meses e agora concentra suas forças primeiro em cuidar da saúde (ele segue com uma crise de soluços interminável e chegou a ser diagnosticado com câncer de pele) e em não ser mandado para a cadeia. Ou seja: tentará permanecer preso em casa mesmo.

Contudo, Bolsonaro sabe que, mesmo em tamanho estado de fragilidade, precisa passar o bastão do movimento ao qual deu início e que moldou a direita no Brasil tal qual é hoje, e isso inclui escolher um nome que apoiará como candidato à presidência da República no ano que vem.

Passada a “crise de Luís XIV”, o ex-presidente já estaria admitindo a aliados que aceita a candidatura de Tarcísio de Freitas para o Planalto – desde que sua esposa, Michelle Bolsonaro, esteja na vice. Diz-se que, mesmo escolhendo uma pessoa de fora do seio familiar bolsonarista, Bolsonaro faz questão de ter alguém ligado a ele percorrendo o Brasil junto com o escolhido.

No final das contas, Jair Bolsonaro pode abraçar o projeto que o Centrão há tempos sugere (ou exige) dele. Não é de hoje que as alas centristas do Congresso e do agronegócio pressionam o ex-presidente para anunciar uma decisão, justamente pelo receio do encolhimento da influência bolsonarista em um jogo político já acontece a pleno vapor.

Com Bolsonaro dando um aval direto, por óbvio Tarcísio ode recalcular a rota, abrir mão da reeleição e, sim, disputar a presidência. Mas vale questionar: ele será capaz de sustentar o projeto. Tarcísio de Freitas é um gestor habilidoso, mas fraco politicamente. Em uma disputa contra um animal político como Lula da Silva, que deve estar no páreo em 2026, o governador de São Paulo pode perder as estribeiras e dar vexame.