Disse um cientista político em entrevista recente ao Jornal Opção: “Há tempos não vemos uma eleição tão aberta e com tantas indefinições como esta”. O especialista fazia referência ao pleito municipal de Goiânia, e a se levar em conta o sobe e desce de candidatos, as discussões para alianças e as negociações que precederam a escolha do nome de cada partido que disputa agora a cadeira de prefeito, ou prefeita, de Goiânia, as palavras não poderiam ser mais acertadas.

As primeiras pesquisas de intenção de voto traziam nomes antes tidos como fortes, mas que ficaram pelo caminho. Como exemplo, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, que foi impedido pela legislação de concorrer (conforme a chamada “PEC do Terceiro Mandato”, em vigor, um político não pode concorrer a um mandato no Executivo se tiver sido eleito para a mesma função nos dois pleitos anteriores), e o deputado federal Gustavo Gayer que, a pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro, saiu da corrida e deu lugar ao deputado cassado Fred Rodrigues.

Essas mesmas pesquisas deixavam de trazer, ainda, o nome de um dos candidatos mais aguardados e que, naquela altura, tecnicamente ainda não existia: o candidato do governador. Isto é, aquele que concorreria ao Paço Municipal dispondo de todo o aparato da base governista e do apoio de Ronaldo Caiado, que conforme levantamentos dos institutos Genial/Quaest e AtlasIntel, é o mais bem avaliado do Brasil. Em termos políticos e eleitorais, ter em sua campanha um nome com esse status é, sem sombra de dúvidas, algo a se almejar.

Guiado pelas pesquisas qualitativas que indicavam que a população goianiense era afeita a um candidato com perfil gestor, mas que, ao mesmo tempo, tivesse experiência política, Caiado escolheu Sandro Mabel para representar a base na disputa eleitoral. Mabel foi um dos últimos a confirmar sua entrada na disputa. Empresário de sucesso (o candidato declarou mais de R$ 313 milhões em bens, conforme registrado no sistema do Tribunal Superior Eleitoral), ele não escondeu que não pensava em disputar, e só o fez porque “respondeu a uma convocação do governador”.

Até aquele momento e nos meses que seguiram, mesmo com a definição do candidato caiadista, os levantamentos evidenciavam, mais uma vez, o fato de que o pleito atual é único em vários aspectos. Um deles foi justamente a da inexistência da polarização esperada. Em primeiro lugar nas intenções de voto, empatados tecnicamente, passaram a figurar Adriana Accorsi, do PT, e o senador Vanderlan Cardoso, do PSD, que, caminhando sozinho, confirmou seu nome na corrida quase junto com Sandro Mabel.

Nada da antiga e tradicional polarização PT x PSDB que dividia temporariamente o país nas eleições presidenciais – o candidato tucano, Matheus Ribeiro, aparece ora em quinto, ora em sexto lugar, explicitando com essa colocação o tamanho da queda sofrida pelo PSDB nas capitais -, e muito menos da recente (ou não tão recente assim) oposição petismo x bolsonarismo, rivalidade que também pautou as últimas eleições presidenciais, mas que, agora, parece esgar tão em voga como uma calça boca de sino – com o candidato bolsonarista Fred Rodrigues aparecendo em quarto lugar na maioria das pesquisas.

Os números revelavam que, verdadeiramente, o goianiense clamava por um gestor com propostas. No entanto, a parcela que optava por um candidato propositivo e com experiência, e que não fosse do PT (leia-se: Adriana Accorsi tem os dois, experiência e propostas, mas ainda afugenta parte do eleitorado, sobretudo tido como de direita e centro-direita, por causa de seu partido) parece, agora, migrar sua afinidade com o desenrolar das campanhas eleitorais. Sandro Mabel, que até pouco tempo não conseguia atingir os 15% nas pesquisas, agora aparece liderando e se descolando da segunda colocada, Adriana Accorsi. O fato é que Vanderlan Cardoso, que aparenta, segundo mostrado nos levantamentos, ter perdido o posto de candidato gestor para Mabel, agora corre o risco de, caso os prognósticos se concretizem, ficar nem em terceiro, mas em quarto lugar.

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Vamos aos números. Na pesquisa estimulada do Opção Pesquisas, feita nos dias 2 a 4 de setembro e divulgada no dia 8, Vanderlan aparecia com 17,6% das intenções de voto, já abaixo de Sandro Mabel (20,6%) e Adriana Accorsi (21,2), mas à frente de Matheus Ribeiro (8,5%) e Rogério Cruz (7,3%). O bolsonarista Fred Rodrigues, por sua vez, aparecia com minúsculos 7,2%. Já na pesquisa do Opção Pesquisas feita entre os dias 12 e 15 de setembro e divulgada no dia 18, Vanderlan subiu e bateu os 20,3% das intenções de voto na estimulada, atrás de Adriana Accorsi (22,4%) e de Sandro Mabel (25,7%), que teve a maior subida. No entanto, Fred Rodrigues, que antes aparecia em sexto lugar, teve a segunda maior variação positiva e passou de 7,2% para 11%, ficando logo atrás de Cardoso.

Já na pesquisa mais recente do instituto, realizada entre os dias 23 e 25 de setembro e divulgada ontem, sábado, 27, Vanderlan figurou com 14,8%, enquanto Fred Rodrigues apareceu com 10,9%. Ou seja: a distância entre os dois passou de 9,3 pontos para apenas 3,9. Caso a tendência de queda de Vanderlan se mantenha e a de Fred se estabilize, não é improvável que tenhamos um segundo turno entre Adriana Accorsi e Sandro Mabel, conforme apostado tanto pelo QG da petista quanto pelo QG do governista, com Fred Rodrigues em terceiro lugar e Vanderlan Cardoso, em quarto.

Vale destacar que, até aqui, a situação política do senador até dentro de seu próprio partido já não era das melhores. Cardoso, além de caminhar sozinho e com chapa pura, após ter perdido na Justiça seu vice do PP, não conta com o apoio nem mesmo do PSD, cuja maior ala apoia, hoje, Sandro Mabel. O pessedista perdeu o suporte desde nomes proeminentes da sigla como Vilmar Rocha, Francisco Júnior e Lucas Kitão (que deixou a legenda para se filiar ao UB de Caiado), até a juventude pessedista, cujo presidente também decidiu entregar o cargo para apoiar o candidato da base caiadista.

Mas não para por aí. O projeto simultâneo de Cardoso, e até mesmo mais almejado por ele, é o da candidatura de sua esposa, Izaura Cardoso, em Senador Canedo. Circulou nos bastidores que o candidato de Goiânia chegou a cogitar abrir mão da corrida na capital para entrar de cabeça na campanha de Izaura, o que não aconteceu. Talvez, tivesse sido a melhor decisão. Há quem diga que Vanderlan Cardoso foi um dos melhores prefeitos de Senador Canedo, o que rendeu, e rende, a ele uma boa aprovação no município. Porém, apesar, do Cardoso, Izaura não é o Vanderlan.

O senador entrou como pôde na campanha da esposa, mas devido aos seus próprios projetos em Goiânia, parece não ter sido suficiente. Conforme levantamento estimulado do Opção Pesquisas feito entre os dias 18 e 20 de setembro e divulgado no dia 23, Izaura aparece em segundo lugar na corrida pela Prefeitura de Senador Canedo, muito atrás do primeiro colocado, o atual prefeito Fernando Pellozo, que figura com 34,4% das intenções de voto. Circulam, porém, pesquisas que colocam a ex-primeira-dama em terceiro lugar, atrás de Cristiane Pina, esposa de Júlio Pina.

Como é sabido, pesquisa é retrato de momento, não sentença. No entanto, não é impossível, mas improvável que, a poucos dias da votação, haja uma mudança tão significativa a ponto de alçar Izaura Cardoso ao primeiro lugar na corrida.

A situação não é boa para os Cardoso. Com risco de perder em Goiânia e em Senador Canedo, Vanderlan se sujeita ao perigo de sair desta eleição com um capital político consideravelmente menor do que quando entrou, fato que pode, inclusive, fazê-lo repensar seus passos para 2026. Como dito, a situação não é boa, e se alguma vez Vanderlan Cardoso disse “Não pode piorar”, a Lei de Murphy parece ter levado como um desafio, e não como uma reclamação.