Governo Lula parece já ter se conformado com o fato de que não sabe se comunicar

28 junho 2025 às 21h00

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Uma pesquisa da AtlasIntel/Bloomberg, divulgada no início de dezembro do ano passado, trouxe números preocupantes, embora ainda não desesperadores, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo. Segundo o levantamento, a gestão do petista era desaprovada por 47,3% dos entrevistados, enquanto 47,1% aprovavam seu desempenho. O governo resolveu agir.
Na época, a menos de dois anos das eleições (pleito que Lula deve disputar como candidato à reeleição), era impensável para o Planalto aceitar que a desaprovação presidencial beirasse os 50%.
O chefe do Executivo federal decidiu, então, mexer no maior alvo de críticas de sua administração: a comunicação. A impressão era de que nada do que o governo fazia em benefício da população chegava, de fato, ao seu conhecimento. O índice elevado de reprovação refletia isso.
Saiu Paulo Pimenta, e assumiu a Comunicação o publicitário Sidônio Palmeira. Nome próximo ao PT desde os anos 2000, Sidônio comandou, em 2006, a campanha vitoriosa do então líder do governo no Senado ao governo da Bahia; participou dos bastidores da eleição de Rui Costa e teve atuação intensa na campanha presidencial de Fernando Haddad em 2022.
Sidônio é considerado um nome de peso na área da comunicação e foi visto como uma “boia” para o governo Lula em meio ao mar revolto da impopularidade. Assim, menos de seis meses após sua posse à frente da Secom, a expectativa era de que o índice de desaprovação diminuísse a um patamar aceitável para um presidente em exercício. Mas o que antes era 47% de desaprovação, subiu para 57%.
Desde o início do semestre, o governo federal tem enfrentado crise após crise, ora oriundas do Congresso e da forte oposição, ora causadas por tropeços da própria administração. A derrota mais recente no Congresso, envolvendo o IOF, ainda está fresca na memória e foi especialmente amarga para o Planalto.
Após ver o Parlamento derrubar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, o famigerado IOF, Lula optou pelo embate e agora avalia judicializar a questão. O tema, naturalmente sensível por envolver impostos, virou munição para a oposição, que tem explorado o episódio como um exemplo de um governo que tenta aumentar tributos, mas foi impedido por adversários “preocupados com o país”.
Tal narrativa ganhou força aos olhos da população, reforçando a imagem de um governo que não consegue se comunicar de forma eficaz.
E entre as crises mais danosas, talvez a do escândalo no INSS tenha sido a pior, e expôs, mais uma vez, a fragilidade da comunicação do Planalto.
Quando a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União descobriram o esquema bilionário de fraudes no instituto, o governo perdeu a oportunidade de mostrar que a fraude teve origem em 2019, durante a gestão Bolsonaro, e foi desbaratada agora, já sob Lula. Em vez disso, a narrativa que se consolidou foi a de “mais um escândalo de corrupção do PT”. Os índices de desaprovação refletem esse impacto.
Apesar das repetidas crise, o governo tem, sim, seus bons feitos. Nesta semana, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE, mostrou que a taxa de desemprego caiu 0,6 ponto percentual no trimestre encerrado em maio, atingindo 6,2% – o menor índice da série histórica.
Já em fevereiro, os investimentos diretos no Brasil somaram US$ 9,3 bilhões, frente aos US$ 5,3 bilhões registrados no mesmo mês de 2024. segundo o boletim do Banco Central. Um dos maiores valores da série histórica, iniciada em 2025.
A formação bruta de capital fixo (FBCF), por sua vez, cresceu 6,9% em 2024 em relação ao ano anterior, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Dados assim poderiam, e deveriam, ser explorados à exaustão pelo governo. No entanto, parecem restritos à bolha petista, sem eco junto à maioria da população.
De fato, parece que o governo petista ainda não aprendeu com seus erros de comunicação, e continua derrapando com força. O resultado, caso não mude de rota, pode ser uma surpresa bastante desagradável em 2026.