Friboi ou Iris, o dilema final do PMDB

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Qualquer que seja o desfecho da disputa interna, maior partido oposicionista goiano vai dividido para as urnas deste ano

A única mexida no tabuleiro da corrida eleitoral deste ano em Goiás que eletriza o mundo político é no PMDB. De um lado, o maior líder da história local peemedebista, Iris Rezende, o homem que derrotou até hoje todos os que ousaram questionar sua hegemonia interna. Do outro, quem diria, um recém-chegado. Júnior Friboi, um milionário que sempre investiu grana alta em em todas as eleições mesmo sem nunca ter disputado um só cargo público, e jamais ter passado com seriedade e dedicação por convivências partidárias. Por que a surpresa? Ora, Friboi pode superar Iris Rezende mesmo jogando na casa do adversário e, mais do que isso, conseguir o que monstros sagrados da política goiana, como Mauro Borges, Henrique Santillo, Irapuan Costa Júnior e Nion Albernaz, somente sonharam obter.
Fora esse aspecto inusitado, o que valerá é o resultado dessa disputa. Iris não é bobo nem está velho e superado. Nem interna nem externamente. Ele se mantém como o mesmo Iris de sempre, atento e com enorme capacidade de agregar à sua liderança. Continua sendo um mito da política, capaz de surpreender e renascer. Como fez há exatos dez anos, ao encerrar período sabático de dois anos em sua fazenda, brigar por candidatura e ser eleito com relativa folga prefeito de Goiânia. A eleição de 2004, por sinal, foi uma das disputas mais acirradas desde a redemocratização do país, na década de 1980, com pelo menos cinco candidaturas consideradas fortíssimas (além de Iris, Pedro Wilson, Sandes Júnior, Darci Accorsi e Rachel Azeredo). Por menos de 3% Iris não fechou a disputa já no prieiro turno. Portanto, não se trata de um líder sem carisma e enferrujado.
Mas poderá ser superado pelo novato. Se dependesse apenas dos deputados federais e estaduais, Friboi aplicaria um tremendo chocolate em Iris: 3 a 1 entre os federais (Leandro Vilela, Pedro Chaves e Sandro Mabel contra Dona Iris), e 6 a 1 entre os estaduais (apenas o presidente regional do partido, Samuel Belchior, estaria ao lado de Iris). Em relação aos prefeitos e vereadores, nenhuma certeza. Um lado diz que tem apoio sobrando, o outro aponta que reina absoluto nesse território. Na realidade, é aí que a coisa vai ser decidida.
Isso não significa que a disputa vai até a convenção. Pode ser definida antes se um dos lados perceber que não conseguirá sobreviver a esse day after, e abandonar a candidatura. Friboi garante que não vai desistir, como fez, por exemplo, o fugaz pretendente Henrique Meirelles, em 2010. Iris, dentro do seu estilo, não cogita se garantir na convenção. Ele quer definir essa situação antes disso.
Quem será o sobrevivente do PMDB ainda não se sabe, mas é muito pouco provável que a unidade interna não tenha sido a primeira grande vítima dessa disputa cercada de acusações por todos os lados. Os iristas insinuam promessas e malas de dinheiro fácil nas hostes de Friboi, e que esses teriam sido os maiores argumentos de sedução do neopeemedebista. Os defensores do empresário, ele próprio à frente, reclamam que por volta de outubro do ano passado, véspera do prazo final de filiações, Iris dizia que não era candidato a governador, o que foi entendido como vácuo a ser preenchido. Assim, e com outras palavras, acusam Iris de estar quebrando a palavra empenhada. Iris dá de ombros e manda beijinhos repetindo um mantra: não disse que não seria, apenas que não era candidato.
Ou seja, fogo cruzado bastante pesado. E a artilharia de ambos nem começou os bombardeios mais intensos. O que Iris, por exemplo, e na intimidade, diria a respeito de Friboi o superar dentro do PMDB e aposentá-lo agora? Não se sabe, mas quem conhece o discurso ágil e agressivo do líder peemedebista sabe que ele costuma ser devastador nessas horas. Friboi também tem procurado evitar palavras mais pesadas sobre o tal compromisso de Iris, que ele não estaria disposto a cumprir agora, o de não se candidatar.
Mas como evitar a divisão após uma disputa como essa? Não é tarefa simples. Se Friboi vencer, a imagem de Iris estará sacramentada pela decadência irreversível – mesmo que, alternativamente, ele dispute e vença para o Senado, o que soará como prêmio de consolação bancado pelo vitorioso. Se for Iris o vencedor, Friboi também se sentirá usado por lideranças peemedebistas que o empolgaram ao vislumbrar as promessas das tais malas recheadas. Daí que um ou outro, quem perder a disputa dificilmente terá ânimo para lamber as feridas, sacudir a poeira da derrota e se empolgar com a campanha do vitorioso. Seria necessária uma altíssima dose de desprendimento pessoal para uma coisa assim acontecer. Uma dose tão elevada que se vê somente nas raras almas especiais da raça humana, mas jamais no mundo político, planeta em que somente os ¨brutos¨ sobrevivem e fazem história.