Força do PT em Goiânia depende, em parte, do legado do passado… E isso não é bom
04 agosto 2024 às 00h00
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Desde sua fundação em Goiás, na década de 80, o Partido dos Trabalhadores conseguiu eleger três prefeitos na capital Goiânia: Darci Accorsi, em 1992; Pedro Wilson, em 2000, e Paulo Garcia, que assumiu no lugar de Iris em 2010 e foi eleito novamente prefeito em 2012. Para uma cidade citada por uns e outros como “direitista e conservadora”, o histórico de Goiânia de eleições de prefeitos não só petistas, como de centro (leia-se MDB e PSDB), chama atenção.
Somando-se ao fato de que a atual candidata do partido para o Paço Municipal, Adriana Accorsi, figura em primeiro lugar na maioria das pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento, surge a conclusão: com a cidade sendo conservadora ou não, o PT tem força na capital de Goiás. Mas até que ponto isso é reflexo dos passos atuais da legenda, e não do legado dela na capital? Se os atuais bons número do PT resultam somente da segunda opção, ele corre – um grande – perigo.
Em entrevista recente ao Jornal Opção, um cientista político traçou um desenho do Partido dos Trabalhadores: uma legenda grande e que, de fato, se comporta como partido – com plenárias, reuniões, correntes internas que disputam o poder. Um partido tradicional nos moldes europeus. Mas que, por razões diversas, parece ter parado no tempo, pensando, equivocadamente, ainda viver na época área da pulsação jovem e ideológica.
Segundo o cientista, os grandes líderes petistas, os pioneiros do partido estão aos poucos saindo de cena, se retirando do jogo, e os espaços em vacância não têm sido preenchidos proporcionalmente. Isso não quer dizer que o PT não esteja trabalhando nos jovens e novos, mas poucos, quadros que chegaram ao partido nos últimos tempos. Mas que o empenho para fazer deles os novos líderes parece não estar sendo suficiente para fazer a sigla se reinventar.
Mesmo as posturas de repúdio e oposição do partido parecem continuar as mesmas de 20 anos atrás. Juventude e lideranças do partido ainda torcem o nariz e falam em ‘golpismo’ a qualquer menção de PSDB, sigla que já não polariza com o PT há anos (ora, temos hoje na vice-presidência da República Geraldo Alckmin, tucano tradicional por décadas. Quem não se lembra dos ‘memes’ do tucano vermelho quando Lula o anunciou como seu vice, para contragosto da ala extrema-petista do partido?).
“Se reinventar” é justamente o verbo que tem faltado aos outrora grandes partidos. Justamente o PSDB de Marconi Perillo pode ser citado como outro exemplo. O ex-governador de Goiás perdeu os holofotes há anos e, agora, tenta voltar a eles da forma disparatada e até risível ao tentar trazer de volta, como mencionado, a já morta polarização PT x PSDB.
E é curioso notar este fato: na entrevista ao Jornal Opção, o cientista político usa praticamente a mesma “bandeja de tinta” para desenhar o perfil atual de PT e PSDB. Os dois partidos parecem gêmeos siameses em alguns aspectos. Nasceram esquerda, elegeram presidentes do Brasil, escolheram caminhos distintos, polarizaram, ficaram ultrapassados e, hoje, sonham em retomar os dias de glórias.
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