Começam a surgir críticas à secretária da Economia na Assembleia, mas titular prefere diálogo
02 junho 2019 às 00h00

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Questionada em sua atuação por deputados estaduais, responsável por pasta que cuida das finanças do governo diz que “debate é inevitável em uma democracia”

Desde a manhã de quinta-feira, 30, quando a secretária estadual da Economia, Cristiane Schmidt, concedeu entrevista à Rádio Sagres para falar sobre os repasses do duodécimo à Assembleia Legislativa, um ruído na comunicação gerou um princípio de crise entre parte dos deputados estaduais e a titular da pasta responsável pelas finanças do governo Caiado. As afirmações de Cristiane de que era preciso optar entre construir uma nova sede da Assembleia ou terminar o pagamento do salário de dezembro dos servidores e fazer investimentos em outras áreas deixaram o parlamentar Henrique Arantes (PTB) contrariado.
O deputado petebista foi à tribuna do plenário da Casa destinada à situação, no lado direito, e teceu críticas às declarações da secretária na entrevista. Chegou a dizer que parecia ter ficado como mentiroso ao dizer que o Estado não repassa o percentual correto do duodécimo à Assembleia. E recebeu o apoio do presidente do Legislativo, o deputado estadual Lissauer Vieira (PSB), que pediu respeito aos 41 parlamentares que fazem parte da Legislatura iniciada em fevereiro.
Houve até quem defendesse que o título de cidadã goiana à secretária, que é natural do Rio de Janeiro, fosse negado pelos deputados, como foi o caso de Lêda Borges (PSDB). A parlamentar chegou a dizer que Cristiane passou a ser persona non grata. A solução foi evitar uma convocação, como queria Henrique Arantes, e fazer um convite para que a titular da Secretaria da Economia vá à Assembleia na terça-feira, 4, prestar esclarecimentos aos deputados.
Cristiane defende que o Estado tem repassado de duodécimo mais do que as gestões anteriores destinavam ao Legislativo, o que chega a R$ 3 milhões mensais além dos R$ 42 milhões por mês em custeio da Assembleia. De acordo com Lissauer, que concedeu entrevista ao Jornal Opção na sexta-feira, 31, a discussão não é sobre qual gestão do Estado passou mais ou menos dinheiro à Casa, mas o não cumprimento do percentual integral do duodécimo, que seria uma reivindicação constitucional dos parlamentares.
“Nós temos que ter a nossa autonomia orçamentárias, nós somos um Poder. A Constituição fala que 3,4% [porque 0,4% é dos tribunais] da receita corrente líquida do Estado é para o Poder Legislativo. É só isso que nós estamos exigindo”, defende na entrevista Lissauer. Ao ser comunicada sobre a reivindicação de Henrique Arantes, que chegou a dizer que o ideal seria um valor de até 5%, a secretária disse à coluna Conexão que é algo que pode ser conversado.

Sem reclamações
De acordo com Cristiane, as declarações dadas durante a entrevista concedida à Rádio Sagres na quinta-feira não foram reclamações direcionadas aos parlamentares ou ao Legislativo estadual. “Se entenderam como crítica eu lamento. Não foi uma crítica o que disse”, comentou. E completou que “se os deputados querem [discutir o duodécimo], é um direito e essa discussão deve ser feita”. “Lissauer tem sido um cavalheiro neste aspecto. Está buscando o diálogo e a harmonia, assim como nós [governo] estamos.”
“Toda hora estão colocando palavras na minha boca que eu não falei”, declarou a titular da Secretaria da Economia. Cristiane afirmou que até a discussão sobre a pesquisa da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial) houve uma incompreensão sobre o que ela disse. O levantamento apontou que 74,3% dos goianos aprovam a política de incentivos fiscais na atração de empresas para o Estado. “Não critiquei a pesquisa da Adial, só quero entender a metodologia utilizada”, disse.
O fato é que a ida da secretária à Assembleia nesta semana será importante para que todas as reclamações que os deputados têm a fazer sejam esclarecidas ou colocadas na sessão em que a titular da Economia for recebida na Casa. “A minha relação é a melhor possível com os deputados.” Cristiane afirmou que não tem uma relação próxima com o deputado Henrique Arantes pelo fato de não ser política, mas sim técnica. “Recebo todos de forma igual. Quero que todos sejam muito bem recebidos, sem privilegiar a ou b.”
A titular da pasta fez questão de enfatizar que o presidente da Assembleia tem sido bastante correto em sua tratativa com a equipe do governo. “Lissauer foi à Secretaria semana passada. O recebi como receberia qualquer outro deputado. Agora precisa marcar. Tenho uma agenda muito extensa”, descreveu Cristiane. Sobre a sugestão de aumentar os repasses que hoje o Estado faz do duodécimo à Assembleia, a secretária defendeu que o assunto pode ser colocado na pauta: “Vamos discutir o valor sugerido”.
Sair? Quem? Eu?
Sobre especulações que davam conta de uma possível saída de Cristiane da pasta, mas que não foram confirmadas por integrantes do governo, a secretária disse nunca ter pensado nisso. “Que eu saiba não há qualquer insatisfação do governador. Pelo contrário. Acompanhei o governador em Brasília na semana passada e nossa relação não poderia estar melhor.”
Cristiane disse que a “relação com os colegas secretários não poderia ser melhor”. “Tenho profundo respeito e admiração por todos eles. São profissionais de uma enorme envergadura. Todos muito técnicos.” E destacou que é preciso ter sensibilidade com a situação econômica do Estado. “Vivenciar uma calamidade financeira é um drama. Sem união e compreensão de toda a sociedade sobre este tema, não caminharemos para um bom resultado. Goiás precisa da nossa união”, observou a secretária.
Até então, as críticas direcionadas à atuação de Cristiane como secretária da Economia vinham da oposição, como as feitas pelo deputado estadual Talles Barreto (PSDB) na quarta-feira, 29. “O governo não sabe o que quer. O governo tem uma secretária literalmente incompetente. Não acredito que o próprio governador seja capaz de ainda acreditar nela.” Para o tucano, não há da parte de Cristiane “interação com o quadro da Sefaz [hoje Secretaria da Economia], nem com as pessoas que ajudam na arrecadação do Estado”.
O problema é que as reclamações que antes eram da oposição começam a encontram respaldo até no presidente da Casa. “Ela ainda tem que provar que [economia] é a área dela, porque até hoje não sabemos realmente ao certo se realmente é. A população goiana ainda não conhece o perfil da secretária. Creio e espero que ela prove isso ao longo dos anos ou no tempo que ficar aqui.” Mas a fala de Lissauer vem seguida de respeito à atuação de Cristiane como titular da pasta. “Acredito que a secretária tenta fazer um esforço junto ao governo, com toda a equipe, para tirar o Estado da crise.”
Na terça-feira, quando a secretária Cristiane Schmidt for à Assembleia ouvir as demandas dos deputados, teremos uma ideia de como estão os ânimos na Casa com a titular da Economia. Para o bem do Estado, a esperança é de que o diálogo seja mantido.