Cautela na escolha do vice reflete lição aprendida em Goiânia
14 abril 2024 às 17h29
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Faltando pouco mais de dois meses para a realização das chamadas convenções partidárias, eventos onde os pré-candidatos já posicionados no páreo serão consagrados por seus partidos para representá-los nas eleições municipais, os nomes que deverão estar ao lado das cabeças de chapa em Goiânia permanecem nebulosos. Apesar de alguns cotados conhecidos, nenhum pré-candidato confirmou, até o momento, quais os escolhidos para acompanhá-los. A demora e o mistério para a definição tem explicação: quem hoje governa Goiânia é justamente aquele eleito vice na última eleição. Isso lembra aos demais, e ao próprio prefeito, que vai pleitear a reeleição, não só o poder e o impacto da escolha, mas que a noção de “vice decorativo” há tempos ficou para trás.
A escolha do, ou da, vice da chapa é o segundo passo de um processo fruto da articulação e aglutinação de apoios e partidos em ano eleitoral. Porém, em muitos casos esse passo é dado até antes da escolha do cabeça da chapa. Na eleição de 2020, o atual prefeito Rogério Cruz, hoje no Solidariedade, foi alçado à condição de vice de Maguito Vilela, do MDB, após uma aliança entre os emedebistas e o então partido de Rogério, o Republicanos. “Recebo com muito entusiasmo, é um partido grande, forte, é um partido que repercute muito na capital”, disse Vilela, na ocasião, após o fechamento do acordo.
Na época, Rogério chegou a conceder entrevista declarando que, apesar de sua posição na igreja (o prefeito é pastor licenciado da Igreja Universal) e de suas convicções partidárias e políticas, estaria no Paço Municipal como vice-prefeito, caminhando ao lado do filho de Maguito, o hoje vice-governador Daniel Vilela.
Mas como disse o cineasta Woody Allen certa vez, “Se você quer fazer Deus rir, conte a ele seus planos”. Ou seja: não importa o quanto você planeje e desenhe com esmero um projeto, o dia seguinte é imprevisível e tem acontecimentos imponderáveis. Tal qual a eleição municipal de 2020.
O plano de Maguito era ser prefeito. O de Rogério, ser vice. Mas no dia 13 de janeiro de 2021, o prefeito vencedor das eleições e, naquele momento, licenciado, Maguito faleceu na UTI de um hospital de São Paulo, aos 71 anos. O ex-governador de Goiás havia vencido a Covid-19, mas acabou perdendo a luta para uma grave infecção pulmonar. E como manda a Lei, com a morte de Maguito, Rogério ascendeu ao posto de prefeito da capital goiana.
A transição, o redirecionamento dos planos políticos e a construção da base do ex-vereador foram feitos a duras penas. Um dos primeiros partidos a romper com ele, inclusive, foi justamente o MDB. Mais de 20 auxiliares do governos ligados ao MDB entregaram seus cargos motivados por uma série de mudanças promovida por Rogério e que, para os emedebistas, estaria provocando uma “um desvio na rota” antes traçada por Maguito.
As mudanças efetuadas e os passos iniciais de Rogério eram simplesmente os naturais para qualquer nome que ocupasse o Paço Municipal e enveredavam para um objetivo óbvio: construir sua gestão com seus próprios nomes de confiança, implantando seu próprio plano de governo. Afinal, infelizmente por uma fatalidade, era ele o novo prefeito. Além de natural, deveria ser o esperado que mudanças de rota acontecessem. Porém, mesmo que Rogério tivesse começado seu governo com uma popularidade galopante e a adesão integral da base herdada do cabeça da chapa, o simples fato de ter sido eleito como vice já profetizava que a caminhada seria difícil.
O cientista Guilherme Carvalho, em entrevista recente ao Jornal Opção, sintetizou bem a situação do prefeito: “Ele assumiu a Prefeitura [de Goiânia] sem ter uma base política construída. Ele teve que construir isso aos poucos pra chamar de sua”.
Deixando de lado o mérito dos “comos” e “porquês” da atual gestão, o fato é que os atuais pré-candidatos, incluindo o próprio prefeito, estão atentos para a realidade demonstrada na prática de que o eleitor espera ver refletida no vice parte da imagem daquele que o escolheu para pleitear o cargo no Executivo municipal. Afinal, já é consenso tanto para os cidadãos quanto para os políticos que a imagem do prefeito fica colada à do vice, e as impressões da gestão que ficarão guardadas na mente dos eleitores dependerá, e muito, da sintonia que os dois terão ao longo do mandato.
Alguns dos pré-candidatos já deixam claro quais as características da vice dos sonhos. É o caso de Sandro Mabel, do União Brasil. O empresário vem afirmando que gostaria que sua vice fosse uma “Mulher e evangélica”. A descrição aponta para várias nomes dentro da política, entre eles, Mayara Mendanha, ex-primeira-dama de Aparecida de Goiânia. Já para Adriana Accorsi chegou-se a cogitar que o vice poderia ser indicado por outro pré-candidato, Vanderlan Cardoso – possibilidade cada vez mais distantes.
Resta saber se aqueles que estarão na corrida pelo Paço Municipal realmente aprenderam a lição da importância de um vice, e empreguem esse aprendizado em seus projetos.