Candidatos de Goiânia estão cientes da dádiva que receberam este ano?
18 agosto 2024 às 00h00
COMPARTILHAR
No último dia 16 de agosto, sexta-feira, tiveram início as campanhas eleitorais para vereador e prefeito nas mais de 5 mil cidades do Brasil. Em Goiânia, os candidatos, que tiveram até o dia 15 deste mês para registrar seus nomes no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – sete candidatos foram confirmados para o pleito – agora começam com força total as ações para promoção de seus nomes. Os candidatos já divulgam seus jingles, exibem orgulhos seus números de urna e anunciam suas primeiras ações de campanha, que vão de caminhadas a reuniões e discursos inflamados de palanque. No ar, paira o sentimento pungente e eufórico da política, como times de algum esporte entrando em campo, tal qual uma abertura olímpica, com os atletas chegando vibrantes em seus barcos. Parece ter sido há tanto tempo, mas há quatro anos, o cenário era muito, muito diferente.
Em março de 2020, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou em Genebra, na Suíça, que a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, passava, a partir daquele momento, a ser caracterizada como uma pandemia. “Atualmente, existem mais de 118 mil casos em 114 países e 4,2 mil pessoas perderam a vida. Outras milhares estão lutando por suas vidas em hospitais. Nos próximos dias e semanas, esperamos ver o número de casos, o número de mortes e o número de países afetados aumentar ainda mais”, afirmou Tedros, na época.
Em poucos meses, os casos de Covid-19 passaram de milhares para milhões, mas junto com a doença, vieram os esforços imediatos das autoridades em tentar conter o avanço assustador da ameaça invisível. Órgãos sanitários e especialistas passaram a divulgar com a ênfase pedida pelo momento as medidas sanitárias – consenso no meio científico – necessárias para conter a proliferação do vírus Sars-Cov-2. O uso constante de álcool em gel, o uso de máscara, o isolamento e o distanciamento social foram as mais essenciais e destacadas, e foi nesse cenário de medos, incertezas e, sim, terror, que as eleições municipais aconteceram.
Leia também: A corrida dos novatos: candidaturas a vice de Goiânia têm como ponto em comum a inexperiência política
Em 2020, a campanha eleitoral para prefeito e vereador teve início no dia 27 de setembro. Morna e frustrante: esses podem ser os termos mais adequados para definir uma campanha restrita em quase tudo. Devido ao aumento de casos de Covid-19, a Justiça Eleitoral vetou uma série de eventos e iniciativas que, em épocas normais, seria inimaginável que faltassem em uma campanha eleitoral. Caminhadas, reuniões, visitas, grandes aglomerações eufóricas e atentas ao discurso de seu candidato no palanque, tudo isso foi substituído por reuniões pelo Zoom, lives, encontros em espaços abertos com espaços de, no mínimo, um metro e meio entre os presentes e articulações virtuais. Abraços e até apertos de mão viraram lenda, mito.
E mesmo com todos os cuidados tomados na época, houve aqueles que tombaram. Sedado no hospital, o emedebista Maguito Vilela, chorou ao receber a notícia de que havia vencido a eleição para o cargo de prefeito de Goiânia. A informação foi dada à família por uma enfermeira do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, de acordo com o filho de Maguito, o hoje vice-governador Daniel Vilela. Pouco tempo depois, Maguito morreria, vítima das complicações e sequelas provocadas pela doença do coronavírus.
Maguito Vilela foi uma entre milhares de vítimas do vírus. No Brasil, foram mais de 712 mil vítimas. Em Goiânia, mais de 8 mil pessoas perderam suas vidas para a doença. Foram 482,5 mil casos confirmados e 24,8 mil internações.
Quatro anos depois, candidatos anunciam o lançamento de suas campanhas com caminhadas massivas, explodindo em gente e vigor. Abraços, apertos de mão, corpo a corpo. Aquele corpo a corpo com o qual a política é feita, e que não existe sem ele. O contato direto com a população, olhos nos olhos, com a promessa de um futuro mais digno.
Hoje, falar em “pandemia” chega a soar estranho. A impressão que temos é de algo longínquo, antigo, um acontecimento quase que saído de um livro de história, ou relatado por nossos pais. A superação da tragédia nos obriga, justamente, a recordar que até 2022 leitos ainda estavam lotados de atingidos pela Covid-19, que muitos deles morreram tentando puxar um ar que não havia, que muitos pais ficaram sem filhos, que muitos filhos ficaram sem pais. Sufocados, agonizando, levados por uma das maiores desgraças que já se abateram sobre nossa geração.
Que hoje, ao saírem às ruas para tentar garantir votos, os candidatos se lembrem da dádiva que lhes foi devolvida. Que agradeçam às forças superiores às quais são devotos de fé – independente de religião -, mas também à ciência e àqueles que dedicam suas vidas a ela, vencendo o negacionismo e a anticiência. Uma pandemia foi superada, mas a um custo alto. Que saibamos dar valor a isso.