Retrospectiva: as maiores descobertas científicas e avanços tecnológicos de 2022

Astronomia: Buraco negro mais próximo

Examinando os dados divulgados pela espaçonave Gaia, os astrofísicos descobriram um buraco negro a pouco mais de 1.560 anos-luz da Terra. Batizado de Gaia BH1, este buraco negro está duas vezes mais perto da Terra do que o buraco negro mais próximo conhecido anteriormente. Mas esse recorde não deve durar muito tempo; estima-se que existam cerca de 100 milhões de buracos negros na Via Láctea. Como buracos negros são invisíveis por definição, é difícil detectá-los, mas quando Gaia, que está mapeando com precisão um bilhão de estrelas, liberar seu próximo lote de dados em alguns anos, buracos negros ainda mais próximos podem aparecer.

Arqueologia: a primeira cirurgia da história

No dia 7 de setembro deste ano, pesquisadores da Griffith University de Southport, na Austrália, publicaram na revista Nature evidências de que tinham encontrado a amputação mais antiga da história (até agora). Os arqueólogos encontraram a ossada de uma criança que viveu na ilha de Bornéu, na Indonésia, e que teve a perna esquerda removida cirurgicamente há 31 mil anos. 

Os ossos encontrados tinham marcas cicatrizadas da amputação e indicavam que o jovem sobreviveu por pelo menos seis a nove anos após a cirurgia. O jovem deve ter morrido aos 19 ou 20 anos de idade. Como não há sinais de esmagamento ou cortes por mordidas de animal no local da amputação, os pesquisadores suspeitam que a causa da amputação tenha sido um problema médico.

Antes dessa descoberta, a mais antiga amputação conhecida era a de um fazendeiro francês, cujo antebraço esquerdo foi removido cirurgicamente há 7 mil anos. A descoberta muda o foco geográfico e temporal na busca pelo surgimento da medicina pré-histórica. 

Biologia: Maior bactéria 

Em 24 de junho, na revista Science, o biólogo marinho Jean-Marie Volland, revelou ter descoberto uma espécie de bactéria com cerca de um centímetro de comprimento. As bactérias normalmente são microscópicas, mas a espécie Thiomargarita magnifica, que vive em florestas de mangue das ilhas Antilhas, no Caribe, são cerca de 50 vezes maiores do que a segunda maior bactéria conhecida até então. 

O coautor do estudo, Olivier Gros, biólogo marinho da Université des Antilles Pointe-á-Pitre em Guadalupe, França, descobriu o T. magnifica pela primeira vez ao coletar amostras de água em manguezais marinhos tropicais. Ele afirma ter confundido os longos filamentos brancos com algum tipo de eucarionte (animais ou fungos ou plantas). Mas alguns anos depois, análises genéticas mostraram que os organismos eram na verdade bactérias. Um olhar mais atento ao microscópio revelou ainda sacos contendo DNA das células. 

Enquanto o material genético da maioria das bactérias flutua livremente dentro da célula, a T. magnifica empacota seu DNA dentro de um saco cercado por uma membrana. Esse compartimento é uma característica das células maiores e mais complexas. A descoberta se classifica como uma das mais importantes das de 2022 porque, anteriormente, se acreditava que a desorganização do material genético era um limitante para o crescimento das bactérias. A nova descoberta muda a maneira de pensar as bactérias e a organização celular, abrindo possibilidades para que o surgimento do núcleo tenha se dado de forma diferente na história evolutiva. 

Engenharia de Computação: Supercomputador mais rápido

Um supercomputador chamado Frontier processou operações matemáticas com uma velocidade alucinante neste ano. Foram 1,1 quintilhão de operações por segundo. Isso torna a máquina, operada pelo Oak Ridge National Laboratory, no Tennessee, o primeiro computador exascale – uma medida de desempenho para super computadores. Espera-se que a computação Exascale leve a avanços em todas as áreas do conhecimento, desde a ciência do clima até a saúde e a física de partículas.

Medicina: embriões sintéticos

Dois relatórios deste ano revelaram como produzir em laboratório os estágios iniciais da vida dos mamíferos. Cientistas utilizaram células-tronco de camundongos para gerar um embrião incipiente sem necessidade de óvulos ou espermatozóides. À medida que crescem, esses embriões sintéticos derivados de células-tronco podem formar proto-corações, cérebros e vísceras. Mas a semelhança com embriões naturais de camundongos desaparece rapidamente. As versões sintética e natural correspondem a apenas cerca de oito dias de desenvolvimento. Ainda assim, o estudo dos aglomerados semelhantes de células-tronco humanas pode um dia oferecer uma maneira de investigar a embriologia humana sem depender de fetos rais, que representam uma barreira ética para essas pesquisas.