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José Dirceu: mensaleiro vai cumprir restante da pena em liberdade / Foto: Ricardo Padue/Brasil Notícia
José Dirceu: mensaleiro vai cumprir restante da pena em liberdade / Foto: Ricardo Padue/Brasil Notícia

O poder federal deixou a divulgação de fatos impopulares para depois da eleição presidencial, de modo a não prejudicar a candidatura da presidente Dilma. O Execu­tivo, por exemplo, deixou para depois o aumento dos juros básicos de 11 para 11,25%.

Na mesma quarta-feira, comunicou mais um baque na economia: por causa da paralisação econômica, o aumento na arrecadação de impostos e contribuições foi de apenas 0,7% nos primeiros nove meses deste ano em relação ao mesmo período em 2013, descontada a inflação. A previsão inicial do governo era de 3,5%. Mau sinal para o próximo ano.

No Judiciário, veio uma contribuição do ministro amigo Luís Roberto Barroso, no Supremo Tribunal Federal. Ele deixou divulgar na terça-feira algo que poderia ter feito uma semana antes: liberou o companheiro Zé Dirceu para a prisão residencial.

Antes de sair das grades, Dirceu terá de esperar até a nova terça, dia 4, quando se apresenta à Vara de Execuções Penais, em Brasília, para conhecer formalmente as regras do regime domiciliar, que lhe permite sair para o trabalho e dormir em casa. Se saísse 11 dias depois, completaria na prisão um ano dos sete anos e 11 meses a que foi condenado pelo mensalão.
No mesmo dia, na cidade italiana de Bolonha, a Corte de Ape­lação mandou soltar o mensaleiro petista Henrique Pizzolato. Ex-diretor de marketing do Banco do Brasil que fugiu do país ao ser condenado a 12 anos e sete meses de prisão. Ao soltá-lo, os italianos negaram a sua extradição pedida pelo governo brasileiro.

Henrique Pizzolato: mensaleiro petista teve extradição negada na Itália / Reprodução
Henrique Pizzolato: mensaleiro petista teve extradição negada na Itália / Reprodução

Com a coincidência desse desfecho para cada um, Zé Dirceu e Pizzolato formam, neste pós-reeleição, duas faces distintas que compõem o alívio para mensaleiros. No caso de Dirceu, o ministro Barroso evitou que o refresco fosse anunciado antes da eleição presidencial. Quanto a Pizzolato, foi uma coincidência, naturalmente.

Se as duas situações fossem conhecidas dias antes, passariam aos brasileiros uma imagem de impunidade que seria prejudicial à reeleição. No mínimo, Dirceu e Pizzolato avivariam a lembrança dos eleitores quanto ao crime do mensalão, com prejuízo à imagem e votos do PT.

Apesar da indignação com que o governo posou em Brasília a respeito do desprezo italiano pelo pedido de extradição de Pizzolato, a soltura do companheiro lá na Itália causa alívio. Se vier ao Brasil, será preso como foragido da Justiça. Se viesse preso com a extradição, poderia, de alguma forma, contar o que sabe sobre o mensalão.

Enfim, a lembrança viva da impunidade relativa de mensaleiros serve como advertência sobre o futuro de políticos e outras pessoas que estão sendo comprometidas pela Operação Lava Jato sobre os roubos na Petrobrás. Com mais quatro anos no Planalto, o esquema petista incriminado poderá se valer da circunstância de ser governo proteger nas investigações e punições que, pelo andar da carruagem, um dia deverão acontecer.