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José Alexandre Felizola Diniz-Filho é professor titular do departamento de Ecologia & Evolução da Universidade Federal de Goiás (UFG) e coordenador geral do Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (INCT-EECBio). O cientista explica como as pesquisas do Instituto unem genética e ecologia para antecipar os impactos do aquecimento global.

Um exemplo é a criação de modelos que aplicam informações genéticas à produção agrícola: “A partir de uma lista elaborada juntamente com parceiros, como a Embrapa, podemos mapear uma espécie nativa com interesse comercial, como o baru. Quando o clima muda, a distribuição do baru e outras espécies muda. Enquanto o norte do estado se torna mais quente, o clima de Cerrado se desloca para o sudeste.”

“Fazemos o monitoramento da distribuição vegetal há cerca de 20 anos, então temos muitos dados para subsidiar o mapeamento, mas há alguns problemas. Há possibilidade de o baru se adaptar a um clima mais quente? Mesmo se conseguir migrar para o sudeste, a qualidade de sua produção continuará igual? Essas questões o modelo não responde.”

Com novos estudos conduzidos pelo INCT, possibilidades se abrem. O sequenciamento genético do baru permite identificar genes que proporcionam tolerância à seca ao vegetal, e incorporar essa informação aos modelos. Os modelos atuais presumem que não há evolução, mas novas pressões seletivas podem fazer com que adaptações surjam nas espécies. 

O sequenciamento do genoma e a aplicação dessas informações à ecologia podem prevenir perdas econômicas para produtores e consumidores. O café, por exemplo, teve alta de 77% em um ano, segundo o IBGE, o que levou 39% dos consumidores a mudar para marcas mais baratas e 24% a diminuir o consumo. A razão foram as quebras de safra devido a fatores climáticos — geadas e mudanças no regime de chuvas. 

“Ninguém estava preocupado com café, porque se pensava: ‘já desenvolvemos uma linhagem capaz de sobreviver ao clima mais quente, está tudo bem’”, diz José Alexandre Diniz. “O problema é que o fruto dessa linhagem, em termos econômicos, não têm os mesmos resultados. Não rende da mesma forma”.

José Alexandre Diniz | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Além de aplicações comerciais, a metodologia pode ser aplicada à ecologia no contexto das mudanças climáticas do Cerrado. Com a conscientização sobre a importância da biodiversidade, surgem iniciativas para restauração da vegetação nativa, mas se os esforços forem feitos “de qualquer jeito”, desinformados sobre quais espécies devem fazer parte de reflorestamentos, a iniciativa pode ser ineficiente ou até causar problemas ambientais, diz José Alexandre Diniz.

“Não basta plantar várias árvores nativas como o pequi”, afirma o pesquisador. “É preciso selecionar de onde vêm as mudas de pequi em função do clima de cada região. É preciso levar em consideração as temperaturas que o local apresentará daqui a 20 anos, caso contrário, esse esforço de restauração pode ser perdido. A análise genética e genômica é capaz de basear o planejamento para conservação em médio e longo prazo.”