Pesquisadores do Projeto Oasis registraram onze espécies de peixes da família Rivulidae, popularmente conhecidos como peixes-das-nuvens, todas incluídas na lista de animais ameaçados de extinção. A pesquisa é desenvolvida por Silvana Barbosa, do Instituto Federal Goiano (IFG) e integrante do Instituto Boitatá, em parceria com o pesquisador Dr Werther Ramalho, que é presidente da instituição. O projeto tem a participação do Dr Alessandro Ribeiro e Guilherme Cândido.

O projeto objetiva identificar a presença destes seres em centenas de corpos hídricos do Estado e catalogar as espécies observadas. Segundo Silvana, em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o projeto tem um foco maior no aprofundamento do conhecimento dos animais considerados como invisíveis, tanto pela sociedade em geral e até pela comunidade acadêmica. “Apesar dessa relevância, os rivulídeos ainda são pouco conhecidos pelo grande público. Por serem peixes de pequeno porte e muitas vezes discretos em seus habitats, acabam sendo tratados como “invisíveis”, mesmo desempenhando papéis ecológicos importantes.”

IMG_0320
Pesquisadora Silvana Barbosa | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Além do Instituto Boitatá, o projeto faz parte do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), e contribui para o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Peixes Rivulídeos Ameaçados de Extinção (PAN Rivulídeos) do Instituto Chico Mendes (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A pesquisa ainda deve prosseguir até o ano de 2028 com mais espécies identificadas pela equipe.

A família dos rivulídeos

Segundo Silvana, as espécies contempladas no projeto pertencem à família Rivulidae, peixes que se dividem em dois grupos caracterizados pela ocorrência de chuvas e pela formação das poças temporárias. O primeiro grupo é composto pelos anuais, que surgem apenas durante a estação chuvosa e completam seu ciclo de vida em ambientes temporários. Já o segundo grupo reúne os não anuais, que podem ser encontrados ao longo de todo o ano em ambientes permanentes.

Em Goiás, os animais podem ser encontrados em todas as regiões em pequenas poças de água alagadas durante as chuvas e em pequenos córregos. Segundo a pesquisadora, o projeto contou com maioria de amostragem na região sudoeste do Estado, nos municípios de Serranópolis, Rio Verde, Montividiu, Caçu, Jataí, Santa Helena, Aparecida do Rio Doce. A maioria dos animais são considerados microendêmicos, ou seja, só aparecem naquela localidade do planeta inteiro. Devido à falta de conhecimento, ainda são escassos os estudos que abordam os efeitos ecológicos desses animais. 

Pesquisador Guilherme Cândido no trabalho em campo | Foto: Arquivo pessoal / Silvana Barbosa

O projeto se baseou na apuração dos possíveis locais de ocorrência dos animais, em maioria de difícil acesso em veredas e áreas alagadas. A quantidade e o registro da presença, e ausência, foi feito com evidência fotográficas das espécies encontradas pela expedição, além da captura de um exemplar para a catalogação. Segundo Silvana, a coleta dos rivulídeos foi feita com o uso de peneira, ou puça, a fim de preservar a integridade física do animal.    

Risco de extinção

Contudo, conta que o que foi encontrado é que as circunstâncias locais determinam a presença de outros animais, como a temperatura da água. “Coletando exatamente um mesmo trecho em 36 pontos amostrais, a nossa pesquisa mostrou que a abundância das espécies de outros peixes era influenciada pela temperatura da água, onde a maior temperatura, menos abundante a ocorrência neste local”, explica.

Devido a isso, acende um alerta para as possíveis causas dos efeitos climáticos e como podem estar por trás da diminuição, e extinção, dos animais, com a diminuição do habitat pela expansão do agronegócio e demais empreendimentos que afetem as poças. 

Peixe da espécie Melanorivulus pinima | Foto: Arquivo Pessoal / Silvana Barbosa

Isso é causado, segundo Silvana, pela falta uma legislação específica para contemplar áreas de ocorrências dos animais no licenciamento ambiental emitido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Contudo, afirma que a pasta trabalha para entender o problema, como a partir da elaboração da “Oficina de Avaliação de Riscos de Extinção de Peixes Rivulídeos de Goiás”. 

Conforme explica a especialista, o processo de licenciamento ambiental ainda não contempla de forma específica essas espécies na emissão das autorizações, e a falta de conhecimento sobre elas acaba contribuindo para a degradação de seus habitats. Segundo Silvana, isso acontece porque essas espécies são extremamente sensíveis do ponto de vista do licenciamento, o que reforça a importância de incluir sua avaliação nas etapas do processo.

Durante as expedições realizadas pelo Projeto Oasis em áreas de Goiás e Minas Gerais, a equipe registrou onze espécies da família Rivulidae, todas ameaçadas de extinção. No entanto, três delas (Simpsonichthys zonatus, Hypsolebias brunoi e Simpsonichthys margaritatus) não foram encontradas, o que reforça a preocupação dos pesquisadores quanto ao estado de conservação desses peixes.

Confira a lista das onze espécies ameaçadas: 

  • Cynolebias griseus
  • Hypsolebias brunoi
  • Hypsolebias flammeus
  • Hypsolebias notatus
  • Melanorivulus formosensis
  • Melanorivulus illuminatus
  • Melanorivulus pinima
  • Melanorivulus rutilicaudus
  • Simpsonichthys margaritatus
  • Simpsonichthys parallelus
  • Simpsonichthys punctulatus

Leia também: Goiás realiza primeira consulta pública para mapear risco de extinção de peixes locais 

Extinção dos jumentos no Brasil pode ocorrer até 2030; entenda