O Ministério Público de Goiás (MP-GO) abriu investigação sobre o Complexo Viário Luiz José Costa, conhecido como Viaduto da Avenida Jamel Cecílio, localizado sobre a Marginal Botafogo e inaugurado em 2022, após um laudo técnico do Ministério Público Federal (MPF) apontar vícios construtivos e degradação acelerada da estrutura.

O documento confirma reclamações de motoristas sobre fortes trepidações e identifica falhas graves nas juntas de dilatação e no sistema de drenagem. O órgão estadual cobra explicações da Prefeitura de Goiânia sobre o caso.

O Jornal Opção conversou com um engenheiro que conhece todo o processo, mas que pediu para não ser identificado. Ele questiona o laudo e afirma que os problemas seriam resultado da falta de manutenção.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) disse que “notificou a empresa responsável pela obra para tomar as medidas necessárias e solicitou dilação de prazo ao Ministério Público de Goiás para a apresentação de relatório técnico sobre o Complexo Viário Jamel Cecílio. A obra, inaugurada em maio de 2022, tem garantia de 5 anos.”

Embora não tenham sido constatados danos nas vigas, pilares e apoios, o laudo nº 1130/2025-SPPEA concluiu que o problema está na degradação das bordas das juntas de dilatação, especialmente no componente chamado “lábio polimérico”. O desgaste desse material, considerado incompatível com o tempo de uso da obra, é apontado como responsável pelas trepidações e pode decorrer de falha de execução, especificação inadequada ou subdimensionamento.

Além disso, a perícia identificou falhas no sistema de drenagem. Um dos drenos foi instalado sobre uma viga transversal, em desacordo com o projeto, o que concentra o fluxo de água diretamente na estrutura e acelera processos como lixiviação do concreto e corrosão. Também foram verificadas divergências no espaçamento dos pontos de drenagem, aumentando o risco de acúmulo de água e comprometendo a durabilidade do viaduto.

Diante das irregularidades, a 78ª Promotoria de Justiça de Goiânia encaminhou o Ofício nº 169/2025 à Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana, concedendo prazo de 15 dias para comprovar a substituição do “lábio polimérico” e correção das juntas de dilatação, a adequação do dreno mal posicionado com registro fotográfico ou relatório técnico e a abertura de processo administrativo para apurar responsabilidades da empresa contratada e dos responsáveis técnicos.

O caso também foi remetido ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO), que deverá investigar possíveis prejuízos ao erário em razão da perda prematura da durabilidade da obra e do aumento dos custos de manutenção.

O MPF e o MP-GO reforçam a necessidade de intervenção imediata no tabuleiro do viaduto, com restauração do pavimento e recuperação das bordas, para eliminar as trepidações e garantir a segurança dos usuários. A sociedade aguarda as respostas da Prefeitura e o resultado das apurações sobre uma obra que, apesar de recente, já apresenta desgaste considerado incompatível com sua idade.

Sofrem com crônica falta de manutenção 

Embora a estrutura seja considerada “sadia” e segura, a ausência de cuidados básicos tem gerado transtornos e levantado questionamentos sobre a responsabilidade pela conservação. As informações foram obtidas em conversa com o engenheiro. Segundo ele, o problema não está na execução da obra, mas sim na ausência de manutenção após a entrega. Entre os pontos críticos observados, destacam-se:

Drenos totalmente entupidos: Todos os tubos de drenagem do tabuleiro da ponte estão obstruídos. O acúmulo de terra suficiente para bloquear um cano de 100 mm em uma estrutura inclinada indica um longo período sem limpeza.

“Triplicação” nas juntas de dilatação: A falta de manutenção provoca o fenômeno conhecido como “triplicação” — ruídos e solavancos sentidos pelos motoristas (tatatatá) ao passar. Isso gera a impressão de que a ponte balança, embora seja apenas um problema funcional e de conforto, sem comprometer a solidez estrutural.

Percolação de água: A infiltração por juntas sem manutenção provoca manchas na estrutura e, em um horizonte de 40 a 50 anos, pode evoluir para corrosão das armaduras.

Manutenção inadequada do pavimento: Em áreas de pavimento rígido (concreto), a conservação tem sido feita com aplicação de asfalto por cima, um erro técnico que revela ingerência ou falta de conhecimento especializado.

 “Não é problema de execução, é problema de manutenção… [a estrutura] é sadia, ela tem alguns problemas pontuais de falta de manutenção”, aponta o interlocutor.

O papel do Ministério Público Federal

O caso ganhou repercussão após uma denúncia do Ministério Público Federal, que solicitou esclarecimentos sobre os problemas identificados no tabuleiro da ponte. O interlocutor reforça que os defeitos apontados são de natureza funcional e não estrutural, o que os caracteriza como questões de manutenção.

Além disso, lembra que a obra foi devidamente fiscalizada e aprovada na época da entrega, com relatórios técnicos atestando sua conformidade com as normas vigentes.

Chuvas aumentam o risco de transtornos

Com a intensificação do período chuvoso, a falta de manutenção na drenagem e o estado do pavimento podem agravar os transtornos para os usuários. Apesar da inclinação da ponte ajudar a escoar parte da água, o acúmulo ainda contribui para a degradação e desconforto na pista. O interlocutor também chama atenção para a parte inferior da estrutura, sobre o canal da Marginal Botafogo, onde não há registros de inspeções ou manutenção recentes.

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