A cidade de Goiânia inicia uma nova fase de reorganização urbana com o lançamento de uma força-tarefa emergencial voltada à retirada de fios soltos e cabos obsoletos dos postes da capital. A iniciativa, que integra o programa “Cidade Segura”, foi anunciada pelo prefeito Sandro Mabel em coletiva de imprensa realizada durante reunião com o Ministério Público de Goiás (MP-GO), a Equatorial Energia e representantes das operadoras de telecomunicação. O encontro ocorreu na sede do MP-GO, no Jardim Goiás, nesta quinta-feira, 9.

O objetivo da ação é reordenar a infraestrutura aérea da cidade, promovendo maior segurança, limpeza e organização dos espaços públicos. Estão envolvidos diretamente na operação a Prefeitura de Goiânia, o MP-GO, a Equatorial, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e os provedores de internet.

Segundo o prefeito Sandro Mabel, a operação terá início em novembro e priorizará os setores com maior concentração de cabos pendurados. Estima-se que existam cerca de 75 mil linhas antigas, muitas delas deixadas por empresas extintas, como a Telegoiás. “Esse monte de cabo caindo então não vai existir”, garantiu o prefeito.

Durante a coletiva, Mabel também alertou a população sobre os riscos de contratar serviços de empresas não regulamentadas. “Não compre internet de empresa clandestina. Você vai ficar sem a sua internet”, afirmou. Ele destacou que a Prefeitura irá regularizar os provedores que desejarem se adequar às normas, mas será rigorosa com aqueles que insistirem na clandestinidade.

A proposta inclui a divisão dos custos da operação entre os provedores, proporcionalmente ao faturamento ou ao número de conexões. “Reparta aí. Se vai fazer, tem um custo. Então, reparto pela quantidade que cada uma fatura no mercado ou a quantidade de ligações que ele tem”, explicou o prefeito. Ele também criticou o crescimento desordenado de pequenos provedores: “Hoje qualquer roteador aí coloca. Então é um negócio que tem aumentado demais. Nós vamos andar atrás para que eles se regularizem.

Reação dos provedores

Em resposta às medidas anunciadas, o presidente da Associação dos Provedores Regionais de Serviços de Comunicação Multimídia de Goiás (APRESS-GO), Romenig Junior Antonio de Lima, manifestou preocupação com a condução das ações e a ausência de diálogo técnico com o setor. “O provedor está levando a culpa por uma história de 30 anos de fios nos postes”, afirmou.

De acordo com estudo da empresa SM Engenharia, existem mais de 690 mil linhas telefônicas analógicas desativadas em Goiás, cujos cabos permanecem nos postes. Romenig também denunciou cortes indiscriminados realizados pela Equatorial durante trocas de postes, o que tem gerado prejuízos e perda de clientes. “Se não fizer isso, perde o cliente”, explicou.

A associação propõe um plano de ação inteligente, com notificação por bairro, envio de listas à Anatel e à Prefeitura, além da identificação e denúncia de empresas clandestinas. “Elas declaram uma quantidade de cabos à Equatorial, mas passam muito mais”, alertou Romenig Junior.

“Se a gente parar, a cidade para”

Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o diretor da APRESS-GO, conhecido como Arcanjo, reforçou o papel dos provedores como agentes essenciais da conectividade urbana. “Toda vez que faz o chamado, os provedores quase 100% vêm. Nós mantemos basicamente toda a rede de internet da cidade funcionando”, disse.

O diretor criticou o tom de ameaça adotado por autoridades e alertou para os riscos de cortes indiscriminados. “Se cortarem nossos cabos, hospitais, escolas, polícia… tudo vai parar”, apontou Arcanjo. Ele também destacou a ausência das grandes operadoras nas ações de manutenção: “Você não vai ver a Tim, não vai ver a Claro, não vai ver a Oi. A Oi, principalmente, é responsável por mais de 50% do problema real nos postes.”

Sobre a comunicação com a Equatorial, Arcanjo foi enfático: “Recebo em média 10 notificações por dia, sendo que só uma no ano foi da minha área”. Ele fez ainda um apelo ao prefeito: “Ele falou muita bobagem ali, mas não é culpa dele. É culpa de quem o assessora. O canal de comunicação está deturpado.”

Anatel propõe ação conjunta

Durante reunião técnica em Goiânia, o gerente regional da Anatel, Paulo Aurélio Pereira da Silva, explicou que a agência possui cadastro completo das empresas autorizadas e que redes clandestinas podem ser alvo de interrupção do serviço e apreensão de equipamentos. “Só com essas redes mortas, temos cerca de 14 mil toneladas de fios que não têm mais função alguma”, afirmou.

O gerente propôs uma reunião com o MP-GO e a Prefeitura para tratar da retirada dos cabos obsoletos separadamente dos provedores regulares. “Essa rede está praticamente morta. Vamos notificar a empresa e apresentar um plano para remoção”, explicou.

Ele destacou que apenas a própria operadora pode remover seus cabos, como no caso da Oi. “Nem os provedores nem a Prefeitura têm autorização para isso”, esclareceu. A Anatel se colocou à disposição para apoiar a Prefeitura na identificação de empresas regulares e sugeriu a criação de um fórum consultivo municipal com participação da sociedade civil.

Equatorial reforça atuação

Em coletiva de imprensa, o gerente de relacionamento com clientes da Equatorial Goiás, André Abrão, detalhou o papel da distribuidora no projeto Cidade Segura. “Desde que chegamos ao estado, há dois anos e meio, já emitimos mais de 311 mil notificações”, afirmou.

Abrão explicou que a Equatorial não possui autonomia para multar ou remover fios, uma vez que os postes são concessão federal. “Nosso papel é notificar e prestar suporte técnico. A parte de penalização não está no escopo da distribuidora.”

O gerente revelou ainda que houve aumento de quase 20% nas colisões com postes em 2025, exigindo recomposição rápida da rede. “O que é feito é o recolhimento e disponibilização para as empresas. Às vezes, o cabo cortado fica junto ao poste ou à equipe que aguarda a retirada pela Telecom”, explicou.

Sobre os fios da Oi, Abrão reforçou que a Equatorial participa da força-tarefa com Anatel e provedores para viabilizar a retirada. “Vamos seguir com a fiscalização e suporte técnico, ampliando a efetividade dentro do Cidade Segura”, concluiu.

Mobilização coletiva

Com todos os atores mobilizados — Prefeitura, MP-GO, Anatel, Equatorial e provedores —, o projeto Cidade Segura entra em nova fase, com ações emergenciais e expansão territorial. A promotora Alice Freire, da 8ª Promotoria de Justiça do MP-GO, destacou a urgência da operação. “Com a chegada das chuvas e o aumento da circulação de pedestres e veículos nas festividades de fim de ano, precisamos agir com urgência nos gargalos da cidade”, afirmou.

A expectativa é que Goiânia se torne referência nacional na gestão da infraestrutura aérea urbana. “Se puder fazer em três meses, nós vamos fazer em três meses também”, prometeu Sandro Mabel.

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