A possível retirada da Feira Coberta de Santo Antônio do Descoberto, no Entorno do Distrito Federal, tem provocado forte reação entre feirantes e clientes. A decisão da prefeita, Jessica Do Premium (UB), de promover a desafetação do terreno, aprovada pela Câmara Municipal, e realocar os trabalhadores para o Mercadão Estadual gerou indignação, medo e sensação de abandono entre as mais de 300 famílias que dependem diretamente da feira para sobreviver.

O Jornal Opção entrevistou Dayana Alves, feirante e atual representante informal da feira na cidade, que tem assumido a interlocução com o poder público enquanto a associação passa por processo de regularização. Dayana relata que a prefeita já confirmou a intenção de retirar a Feira Coberta e transferir os feirantes para o Mercadão. O problema, segundo ela, é que não há espaço suficiente para todos.

“No Mercadão não tem espaço para o hortifrúti, não tem espaço para o pessoal dos cereais. Como é que você vai tirar feirantes de um local onde eles estão bem, com espaço para trabalhar. E outra, colocar num lugar que é estadual, enquanto a feira é municipal?”, questiona.

Ela afirma que o local indicado pela gestão municipal não tem estrutura para receber todos os trabalhadores. Além da questão física, Dayana destaca o impacto social. “Vai prejudicar muitas famílias. Todos os clientes falam isso. Eles dizem que tinha que fechar vocês aqui, ou vocês faturam. Mas o que ela fala nas redes sociais é totalmente diferente”, aponta.

O Jornal Opção tentou contato com a prefeita, Jessica Do Premium, que estava levando a sua filha ao médico, e que por esse motivo não poderia falar sobre o assunto no momento. Ela pediu que a reportagem entrasse em contato com o secretário de Comunicação da cidade, Rômulo Parreira, que disse que a feira não será fechada. “Os feirantes irão para o Mercadão Goiano que está em fase de acabamento”, disse por mensagem.

Ao ser questionado se no local que a feira está não vai existir mais, o secretário respondeu que “sim, será fechado e existem alguns projetos para futuramente, mas ainda em estudo”. Por fim, sobre a quantidade de vagas, Rômulo disse que terá vagas para todos os feirantes e que eles já foram cadastrados.

Câmara Municipal

Ao Jornal Opção, o presidente da Câmara Municipal, Vandilson Felipe dos Santos (MDB), negou que exista qualquer decisão ou projeto que determine o fechamento da Feira Coberta, após rumores se espalharem entre feirantes e moradores. Segundo ele, a informação “não passa de especulação”.

Os boatos ganharam força após a aprovação da lei de desafetação, o que levou parte da população a acreditar que o espaço seria desativado. No entanto, Vandilson esclareceu que a medida não altera o funcionamento atual da feira.

“A desafetação apenas permite que, no futuro, caso o local deixe de ser utilizado, o município possa dar outra destinação à área. Não significa fechamento imediato”, afirmou.

Feira tem garantia legal de funcionamento por mais 7 anos

O presidente da Câmara destacou que a Feira Coberta está amparada pela Lei Municipal nº 490/2002, que concede aos feirantes 30 anos de permissão de uso do espaço. Como a lei foi aprovada em 2002, ainda restam sete anos de vigência.

“Eles têm o direito de permanecer até o fim do prazo estabelecido. Não foi aprovado nada que permita a retirada dos feirantes antes disso”, explicou.

Vandilson reforçou que qualquer decisão futura sobre a área, caso a feira deixe de funcionar, caberá ao Poder Executivo, e não ao Legislativo.

Temor entre feirantes não têm base legal, diz presidente

Questionado sobre o receio manifestado pelos trabalhadores, o presidente foi categórico:

“Esse temor não tem fundamento. A feira está amparada pela Lei 490. Não existe nenhuma determinação para fechamento.”

Ele orientou que qualquer cidadão pode consultar a legislação diretamente no site da Câmara Municipal para verificar as garantias legais.

População contrária

Segundo Dayana Alves, a comunidade rejeita a mudança de local. “A população está achando ruim demais. Muita gente chega aqui reclamando. Vai tirar a Feira Coberta daqui e vai para onde? Lá é um ‘minishopping’. Como é que você vai colocar suas verduras lá pra vender?”, comenta.

A representante afirma que há feirantes emocionalmente abalados. “Tem feirante tomando remédio pra dormir, preocupado”, relata.

Votação “às escondidas”

Dayana afirma que a prefeita conversou com os feirantes apenas uma vez, na segunda-feira anterior à votação, quando disse que precisava do espaço para um projeto de melhoria da rodoviária. “A única coisa que ela falou foi que tinha um projeto para melhorar a rodoviária. Foi só isso. Dois dias depois, a desafetação foi votada. Votaram meio que às escondidas, porque não avisaram os feirantes nem a população. Votaram contra a gente”, destaca.

Realocação incerta

Mesmo que a mudança ocorra, a maioria dos feirantes não quer ser realocada. “As bancas são pequenas. Fomos até Águas Lindas para ver. E muito feirante tá com medo de nem ganhar banca lá, porque é sorteio. Lá foi sorteado. A gente teme que seja da mesma forma”, explica.

Dayana também questiona a falta de garantias. “Ela [a prefeita] fala que vai realocar, mas e se chegar na hora e não for? Lá é estadual, não tem nada a ver com a prefeitura”, afirma.

A feirante destaca ainda o caráter familiar do trabalho. “Vivemos daqui, sustentamos nossas famílias daqui. No meu caso, já está passando de pai para filho. Meu filho de 17 anos já me ajuda. É revoltante”, diz.

Representação dos feirantes

Embora esteja à frente das conversas, Dayana reforça que não é presidente da associação, que ainda está em fase de registro. “Sou a feirante que está representando os outros feirantes”, afirma.

Clima de revolta

A representante diz que os feirantes estão dispostos a mostrar vídeos e documentos sobre o que ocorreu na votação. “A gente ficou revoltado mesmo. É chateante”, afirma.

Dayana resume o sentimento geral: “É revoltante. Falta respeito, falta transparência. São mais de 300 famílias. De uma hora para outra, chega um ‘presente’ desses de Natal?”, finaliza.

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