O estado de Goiás se consolida como protagonista na produção de terras raras, minerais estratégicos usados em tecnologia, defesa e energia limpa. Mineradoras como Aclara, em Nova Roma, e Serra Verde, em Minaçu, receberam financiamentos da agência americana DFC (U.S. International Development Finance Corporation), somando cerca de US$ 470 milhões, para expandir a extração. Embora a produção esteja em expansão, o processamento do concentrado seguirá majoritariamente fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos, reduzindo o potencial de geração de empregos qualificados e valor agregado local.

Financiamentos e projetos em Goiás

  • A Aclara recebeu US$ 5 milhões em setembro de 2025 para concluir o estudo de viabilidade do Projeto Carina, em Nova Roma. A construção da mina está prevista para 2026, e o produto terá 95% de pureza, pronto para uso industrial. A empresa planeja construir uma refinaria nos Estados Unidos até 2028, com investimento de US$ 277 milhões, para processar o concentrado e suprir mais de 75% da demanda americana por ímãs permanentes de terras raras pesadas.
  • A Serra Verde, única mineradora de terras raras em operação no Brasil, recebeu US$ 465 milhões para ampliar a mina em Minaçu. A produção de concentrado deve atingir 5 mil toneladas até 2027 e 10 mil toneladas até 2030. Parte do financiamento poderá cobrir despesas operacionais e refinanciamento de dívidas.

Impacto econômico para Goiás

Embora a mineração gere empregos locais, o refino fora do estado significa que Goiás perde a maior parte do valor agregado.
Especialistas apontam que a instalação de refinarias no Brasil poderia:

  • Criar centenas de empregos qualificados e especialização tecnológica.
  • Aumentar royalties e tributos sobre produtos industrializados, fortalecendo a economia local.
  • Reduzir dependência de países estrangeiros para produtos estratégicos, garantindo soberania econômica e tecnológica.

Geopolítica e segurança estratégica

O financiamento da DFC insere Goiás na disputa global entre EUA e China, que domina 60% da extração e 90% do refino mundial de terras raras. Enquanto os americanos buscam acesso seguro a minerais críticos, o Brasil debate como manter etapas estratégicas de processamento no país, agregando valor e know-how tecnológico.

O presidente do Sindicato da Indústria de Mineração Sustentável de Goiás e DF, Luiz Antônio Vessani, destaca a sensibilidade política do tema: “Esses acordos são extremamente delicados. As empresas não podem divulgar detalhes publicamente.”

Perspectiva oficial das empresas e do governo

  • A Aclara afirma que o financiamento não obriga a exportação para os EUA e que os recursos minerais continuam sob controle brasileiro.
  • O secretário de Indústria e Comércio de Goiás, Joel de Sant’Anna Braga Filho, lembra que o estado é hoje “o único das Américas que exporta terras raras”, e ressalta o potencial econômico, mesmo com parte do refino ocorrendo fora do país.
  • A Serra Verde prefere aguardar a conclusão das etapas do financiamento antes de comentar detalhes.

O desafio para Goiás

Com Serra Verde já em operação e Aclara avançando em seus planos, Goiás se torna protagonista global na produção de minerais estratégicos, mas enfrenta o desafio de garantir que a mineração não seja apenas a extração de matéria-prima.

A instalação de refinarias e a geração de tecnologia local podem transformar o estado em um polo industrial de alto valor, aproveitando plenamente o potencial das terras raras e reforçando sua posição na transição energética e tecnológica mundial.

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