Em meio ao cenário alarmante de incêndios florestais que devastaram mais de 90 mil hectares na Chapada dos Veadeiros entre setembro e outubro, o município de Cavalcante discutiu com a comunidade e com as instituições a prevenção e o enfrentamento das queimadas.

Na última quinta-feira, 6, uma audiência pública promovida pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) reuniu mais de 150 pessoas no auditório do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para debater soluções concretas e mobilizar a comunidade.

A promotora de Justiça Úrsula Catarina Fernandes da Silva Pinto, titular da Promotoria de Cavalcante, abriu o encontro destacando o papel essencial da população na construção de uma nova cultura ambiental. “Queremos que vocês sejam multiplicadores. O MP-GO sozinho não muda a realidade das queimadas. Precisamos da força da comunidade e das instituições”, afirmou.

Os dados apresentados pelo capitão Augusto Viana Pires, da Defesa Civil Estadual, revelam que Cavalcante lidera o ranking estadual de focos de incêndio, com mais de 16 mil registros entre julho e novembro. Nacionalmente, o município ocupa a 15ª posição. “O impacto é devastador. Precisamos de ações contínuas e estruturadas”, alertou o capitão.

Uma das principais novidades anunciadas durante a audiência foi a futura instalação de uma sede do Corpo de Bombeiros na cidade. A juíza Isabela Rebouças Maia, titular da comarca local, revelou que a construção será financiada com recursos de transações penais das comarcas de Anápolis e Aparecida de Goiânia. “O Judiciário também constrói soluções. O fogo precisa ser manejado com responsabilidade, pois incêndio florestal é crime, mesmo sem intenção”, destacou.

A audiência contou com a presença de representantes dos três Poderes e de diversas instituições ambientais. A promotora Daniela Haun de Araújo Serafim, coordenadora da Área de Meio Ambiente e Consumidor do MPGO, reforçou o caráter democrático do encontro. “O fogo deve ser compreendido e governado com base na ciência e na legislação. Que a Chapada seja lembrada por sua biodiversidade, não por fumaça e cinzas”, declarou.

O coordenador do Ibama/Prevfogo, Cássio Tavares, trouxe uma perspectiva cultural ao debate, explicando que o uso tradicional do fogo é permitido para comunidades quilombolas, desde que feito de forma segura. “Precisamos falar mais sobre o uso consciente do fogo e menos sobre incêndios”, disse.

Durante as exposições técnicas, a promotora Tarcila Santos Brito Gomes, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), abordou os aspectos legais da atuação do MPGO e a importância da capacitação comunitária. O capitão Augusto Viana reforçou que o plano de contingência municipal em elaboração deve priorizar o combate aos incêndios florestais.

Sayro Reis, gerente da Semad, apresentou iniciativas estaduais como o Comitê de Gestão de Incêndios Florestais e o futuro Plano Estadual de Apoio às Brigadas Voluntárias, que visa fortalecer a estrutura do Corpo de Bombeiros durante o período de estiagem.

Na etapa final da audiência, moradores e moradoras tiveram espaço para compartilhar experiências, sugestões e preocupações. O prefeito de Cavalcante, Vilmar Costa, agradeceu o trabalho das brigadas voluntárias, enquanto o prefeito de Teresina de Goiás, Kleverton Barbosa, destacou a importância da conscientização popular. A presidente da Câmara Municipal, Eriene dos Santos, celebrou a oportunidade de escuta e diálogo.

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