Artigo de Opinião

Djalba Lima
A verdade não caiu de repente – foi assassinada aos poucos, golpe a golpe, até desaparecer do horizonte. No lugar dela, ergueu-se um projeto frio e calculado: a mentira como poder.
Não é apenas distorcer fatos. É acender medos, moldar identidades e redesenhar a própria realidade. Do fantasma do “comunismo” à sombra do “inimigo interno”, da “degeneração moral” ao “perigo estrangeiro”, tudo se torna matéria-prima para narrativas fabricadas com precisão cirúrgica.
Mais do que convencer, a mentira faz uma simplificação perversa do mundo. Cria uma narrativa de confronto absoluto: “nós” – os puros, os patriotas – contra “eles” – a elite corrupta, os traidores, os imigrantes, as minorias. E se veste de moralidade: afirma agir para “proteger a nação” de um mal maior, ainda que inventado. Parafraseando Groucho Marx, esse tipo de política é “a arte de procurar problemas, encontrá-los em toda parte, diagnosticá-los incorretamente e aplicar os remédios errados”.
A filósofa Hannah Arendt alertou:
“O sujeito ideal do regime totalitário não é o nazista convicto nem o comunista convencido, mas aqueles para quem a distinção entre fato e ficção e entre verdadeiro e falso já não existe.”
Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazista, foi mais direto:
“Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade.”
A mentira nunca foi monopólio de um lado político. Mas, em determinados contextos, ela deixou de ser recurso ocasional para se tornar o eixo central da estratégia de poder. Movimentos autoritários de extrema-direita, em épocas diferentes, usaram-na como arma principal.
No passado, o regime nazista teve em Goebbels o arquiteto de uma máquina de propaganda em escala industrial. Na Itália, o fascismo centralizou a manipulação cultural e jornalística no Ministério da Cultura Popular (MinCulPop), dirigido por ministros como Dino Alfieri.
No presente, Donald Trump e Jair Bolsonaro adotaram táticas semelhantes, impulsionados por estrategistas como Steve Bannon. Em todos os casos, o objetivo vai além de enganar: é corroer a confiança nas instituições e substituir a realidade por um roteiro escrito pelo poder.
Mentiras que mudaram a História: das falsificações antissemitas ao golpe no Brasil
Poucas coisas são tão eficazes na política quanto uma conspiração inventada. Um exemplo clássico é Os Protocolos dos Sábios do Sião, falsificação antissemita forjada pela polícia secreta czarista no início do século 20. Apresentado como ata de um plano secreto de líderes judeus para dominar o mundo, o texto plagiava sátiras políticas francesas, distorcendo-as para culpar os judeus por crises econômicas e sociais. Sua circulação pela Europa inflamou perseguições e foi incorporada ao ideário nazista para justificar o Holocausto.
O Brasil teve seu próprio “Protocolo” em 1937: o Plano Cohen. Forjado pelo então capitão Olímpio Mourão Filho, ligado ao integralismo, descrevia um suposto plano comunista para promover insurreições, assassinatos e instaurar uma ditadura soviética. Getúlio Vargas usou o documento para justificar o golpe de 10 de novembro daquele ano, dissolver o Congresso e instaurar a ditadura do Estado Novo.

A era da pós-verdade: quando o fato perde a força
O termo “pós-verdade” foi cunhado em 1992 pelo jornalista Steve Tesich, que alertou para a complacência da sociedade americana diante de mentiras oficiais, como as da Guerra do Golfo e do escândalo Irã-Contras. Ele escreveu:
“Estamos rapidamente nos tornando um povo da pós-verdade, que aceita a mentira como fundamento da política pública.”
Na pós-verdade, fatos objetivos pesam menos que crenças e emoções. O critério de verdade deixa de ser o que aconteceu e passa a ser o que confirma o que eu já acredito. O conceito ganhou o mundo em 2016, ano do Brexit e da eleição de Trump, e foi escolhido pelo Dicionário Oxford como a palavra do ano.
Como a mentira se profissionalizou no século 21
Cambridge Analytica – Empresa britânica que usou dados pessoais coletados ilegalmente do Facebook para construir perfis psicológicos de milhões de eleitores, principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido. Com esses dados, criou campanhas altamente direcionadas com desinformação e apelos emocionais, explorando medos, inseguranças e preconceitos dos usuários para influenciar votos, como no Brexit e na eleição de Donald Trump (2016). Adotou como tática o microtargeting, que é o uso de dados online com o objetivo de personalizar mensagens publicitárias para indivíduos, com base na identificação das vulnerabilidades pessoais dos destinatários.
QAnon – Conspiração nascida em fóruns como 4chan e Reddit com o argumento de que Trump estaria lutando secretamente contra uma rede global de pedófilos satanistas infiltrados no estado profundo (deep state). Espalhou-se como movimento de massas, com adeptos que confundem fantasia com realidade. Foi usada para atacar adversários políticos, deslegitimar instituições e estimular o extremismo..
Steve Bannon – Estrategista político, ex-assessor de Trump, é um dos arquitetos do uso moderno da desinformação como arma política. Defende o conceito de “flood the zone with shit” (inundar o debate público com merda, ou lixo). O objetivo é claro: criar muita confusão e ruído para que a verdade se torne irrelevante. As táticas usadas são “guerra cultural” baseada em fake news, memes, ataques à imprensa tradicional e criação de inimigos imaginários (imigrantes, globalistas, elites).
Astroturfing e as chamadas operações de influência. São movimentos aparentemente espontâneos, mas coordenados por redes de bots e perfis falsos, simulando um consenso artificial.. A meta é simples: criar a sensação de que a maioria já pensa de determinada forma, pressionando políticos, imprensa e sociedade a reagirem a um cenário fabricado.
A mentira em números
Podemos traduzir os resultados dessas estratégias em números assustadores:
Donald Trump – 30.573 declarações falsas ou enganosas no primeiro mandato (21 por dia), conforme o Washington Post Fact Checker.
Jair Bolsonaro – 6.685 declarações falsas ou distorcidas em quatro anos, segundo Aos Fatos, sendo 2.511 sobre a pandemia.
Por que as pessoas acreditam mais na mentira do que na verdade
Há várias teorias sobre a prevalência da mentira sobre a verdade na comunicação. Vamos citar as quatro mais importantes.
Viés de confirmação – Daniel Kahneman mostrou que buscamos informações que confirmam nossas crenças e rejeitamos aquelas que as desafiam.
Velocidade e impacto emocional – Estudo do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, 2018) provou que fake news se espalham seis vezes mais rapidamente que notícias verdadeiras, especialmente em política.
Moralidade intuitiva – Jonathan Haidt demonstrou que julgamentos morais são guiados primeiro pela emoção; a razão só entra para justificar.
Frames linguísticos – George Lakoff explica como palavras moldam pensamento: “estado profundo”, “inimigos do povo”, “comunismo globalista”… Esses termos funcionam como atalhos emocionais. Ao ouvi-los, já sentimos antes de pensar. A guerra política é também uma guerra por linguagem. Quem define os termos ganha a narrativa.
Nem as democracias mais sólidas estão a salvo
O ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 foi consequência direta de uma mentira eleitoral.
No Brasil, a mesma lógica produziu a invasão e depredação da Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, alimentada por narrativas falsas de fraude nas eleições presidenciais.
Na Hungria e na Polônia, governos de extrema-direita corroem instituições usando desinformação e revisionismo histórico.
Ficção ou profecia?
Em “O Homem do Castelo Alto” (1962), Philip K. Dick imagina um mundo em que os Estados Unidos perderam a Segunda Guerra e a realidade é moldada por vencedores autoritários. O livro, apesar de ficção, mostra o risco real: quando a verdade é reescrita e a mentira, institucionalizada, a própria história vira produto de manipulação.
Defender a verdade é resistir
O colapso da realidade compartilhada começa com pequenas mentiras – convenientes, emocionais, repetidas. A democracia não se fragiliza apenas com tanques nas ruas, mas com palavras distorcidas, sentidos sequestrados e confiança pública dilacerada.
Defender a verdade, hoje, é um ato de resistência.
Djalba Lima, jornalista, é editor de Relatos — A Estadão da História.

Somente em junho de 2025, mais de 330 mil brasileiros maiores de 18 anos solicitaram ao governo afastamento de suas atividades profissionais

Filosofia de Nietzsche é marcada pela crítica a moral socrática e aos valores do Cristianismo, embora, não tenha criticado Jesus

Do Fusca dos estudantes goianos à astrologia derrubada pelo calendário, a poesia de Cora costura histórias improváveis

Por Aldenir Paraguassú
A escolha de Belém, ex-sede (capital) da Província do Grão-Pará, atual capital do Estado do Pará e segunda cidade em população, da Amazônia brasileira, com o propósito de um protagonismo amazônico na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima(Conferência das Partes -COP30), já começou a expor e evidenciar males seculares decorrentes de vários fatores dos quais a ausência do Estado (Federação, Governo Federal, ou como queira identificar), é dolorosamente um dos mais significativos.
A história da Amazônia brasileira é marcada pela definição ou não, sempre de fora para dentro, dos preços e valores das suas comodities ambientais e seus benefícios ambientais/climáticos globais como a produção de chuvas e a absorção de carbono da atmosfera, por exemplo.
Essas externalidades negativas, positivas e um determinismo econômico e social às avessas, compõe o cenário quase perfeito para manter o Estado brasileiro à revelia desses interesses e debates.
A desimportância dessa Região/Bioma que é ao mesmo tempo uma das mais antigas e a mais nova a desenhar definitivamente o mapa do Brasil, pós Acre-1.903, registra os piores dados sociais e econômicos do País, que na COP30 em Belém serão expostos inexoravelmente para o mundo.
Sem maiores esforços e ressalvadas as honrosas exceções, não é difícil citar algumas intervenções federais na Região, que estão a merecer de sérias discussões, como é o caso do saneamento (abastecimento de água e esgoto e tratamento sanitário); saúde, educação e habitação.
Também cabe ressaltar a necessária e isenta avaliação da importância atual vis-à-vis a importância passada, de instituições como SUDAM; BASA; SUFRAMA e outros quetais amazônicos.
A pergunta que não cala é COMO PAUTAR UMA NOVA ENGENHARIA, AMIGA DA SUSTENTABILIDADE E MITIGADORA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?
Como disse recentemente no encontro Climate Week 2025, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira: A questão climática não é de ambientalistas, ela é de desenvolvimento econômico e social.
Aldenir Paraguassú
Arquiteto Urbanista, Ambientalista e Doutor Honoris Causa pela IURJ

Por qual motivo conversaria com um ditador igual ao líder dos Estados Unidos se pode falar com esses apóstolos da democracia?

O país que inventou o Pix agora lidera a tokenização de recursos naturais, criando um modelo econômico que vai além do capitalismo tradicional

Antes quem crescia 8% ao ano era o PIB, agora, é a dívida pública que bate recordes a cada semestre

O país chegou a esse piso de poço, desprestigiado a ponto de um anão da economia global nos aplicar um passa-moleque

Envolver jovens com a cultura, oportunidades profissionalizantes e chances de empreender são a saída para a segurança pública

Como um país que quer se apresentar ao mundo como referência ambiental pode aprovar um projeto que legaliza a destruição?

Eclesiastes ensina que os ciclos são parte da sabedoria divina. O que retorna não é castigo, é método. Saber viver o tempo é reconhecer que tudo tem seu momento: plantar e colher, chorar e rir

Os autores do Manifesto Comunista se orgulhariam de ver que as ideias propostas no livro foram ou estão sendo postas em prática

Trump expôs razões políticas e razões econômicas, ambas falsas, para nos sobretaxar acima de todos os outros países com quem os EUA fazem comércio

Para o agronegócio brasileiro vai ser um choque a partir de agosto e essa imposição absurda, antes da ordem de 10%, vai provocar desemprego nessas áreas e perdas entre os empresários nacionais