“Lula Play”: ex-presidente apresenta cartilha com propostas para o mercado de games
23 agosto 2022 às 15h53
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O ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou nesta terça-feira, 23, uma cartilha com propostas de criação de políticas públicas para o setor de games no Brasil. A cartilha foi elaborada de forma colaborativa por um conjunto de 30 profissionais que já atuam no cenário de jogos no país e propõe soluções de geração de empregos, evolução tecnológica, preparação de profissionais e regulamentação de e-sports, dentre outros.
Em entrevista ao Jornal Opção, Henrique Sampaio, jornalista, co-fundador do site Overloadr e um dos signatários da cartilha, explicou que o texto do Marco Civil da Internet – Lei n° 12.965, de 23 de abril 2014, que dispõe sobre previsão de princípios, garantias, direitos e deveres para quem usa internet no Brasil – ajudou a guiar a redação final. “O Marco também foi isso, começou de forma pequena e, a partir do momento em que foi aberto, passou anos sendo debatido”, relembra. O Marco Civil surgiu em 2009 no Poder Executivo, mas só foi aprovado e sancionado em 2014, pela presidenta Dilma Rousseff.
Entre os pontos apresentados no documento, estão sugestões que englobam consumidores, por meio da redução de impostos, mas também incentivos para revisões trabalhistas e educacionais que fortaleçam os trabalhadores e os estudantes interessados em capacitação para o mercado. Além disso, o texto discute questões sociais como combate a racismo, LGBTQfobia, machismo e diferentes crimes digitais observados em ambientes de jogos.
As discussões de formatação da cartilha, disponibilizada na íntegra no site do ex-presidente, começaram ainda em maio deste ano, quando o Instituto Lula fez o convite para Erika Caramello, professora doutora em games e empresária do setor. A partir daí, 30 representantes ligados à área começaram a elaboração das propostas, com foco em suas diferentes áreas de atuação. A versão final conta com a assinatura de 13 membros, mantendo o anonimato de alguns colaboradores que, por questões particulares, escolheram evitar a exposição política.
Segundo o jornalista Pedro Zambarda, que integra o grupo, “as pessoas chamadas ao comitê Lula Play que assinam a cartilha e os que não assinam a cartilha foram esclarecidos sobre os riscos políticos de se assinar um documento associado ao ex-presidente e sua campanha”.
Com o lançamento da cartilha, o grupo espera que a discussão possa ganhar corpo e força, principalmente por meio da participação popular. A estratégia colaborativa, inclusive, é uma das diferenças apontadas em contraste com movimentos anteriores que tentaram aproximar o cenário de jogos digitais de políticas públicas. Para Zambarda, o documento “é o passo um para o setor, uma vez que estamos em período eleitoral. E pode gerar um movimento mais sólido com Lula no governo federal”.
No cenário de games, movimentos como Jogo Justo ou mesmo a aproximação de presidente Jair Bolsonaro (PL) de figuras famosas no cenário, como o jogador de Counter-Strike:Global Offensive Gabriel “FalleN”, dividem opiniões entre a comunidade, acostumada a se frustrar com a associação dos jogos com movimentos políticos.
Henrique reconhece como compreensível a incerteza que a iniciativa Lula Play causa no cenário, por conta do histórico tumultuado da relação entre as partes, mas vê a situação atual como diferente, partindo já de sua criação. “Boa parte dos consumidores entendem que não foi pra lugar nenhum e eles não seriam exatamente tão beneficiados. Foi um movimento que acabou deixando todo mundo com um pé atrás”, pontua. “Dessa maneira, tendo participação popular e saindo de um discussão coletiva, não só de uma única pessoa conduzindo, a gente acredita que tem uma forma mais certeira de levar adiante as discussões para trabalhar vídeo games como política pública”, esclarece Henrique.
Para não reduzir a cartilha a um “documento de petistas”, o texto conta com signatários que se posicionam desde a esquerda radical até liberais, não necessariamente ligados ao PT, mas não há figuras simpáticas ao presidente Jair Bolsonaro e à extrema direita.
Segundo Henrique, o bolsonarismo usou jogos como ponto estratégico para agradar um público de apoio que já tinha, mas não apresentou, de fato, políticas púbicas para o setor. “Jogos e consoles continuam extremamente inacessíveis no Brasil. Quem de fato foi beneficiado foram varejistas, empresas que trabalham com isso, porque as reduções não foram repassadas em totalidade para os consumidores”. Ele cita ainda como prejudicial para o cenário – “ignorado pelo governo” – atos como o desmonte da Agência Nacional do Cinema (Ancine), que afetou o desenvolvimento de jogos por meio do cancelamento de editais.
Agora, o grupo responsável pelo documento espera ampliar a discussão, tanto com a equipe de Lula, para negociar a inserção da pauta no plano de governo do ex-presidente, como por meio de convocação pública, a fim de envolver mais interessados na discussão. “Quando isso de fato se tornar plano de governo, diferentes setores poderão ser ouvidos”, explica. “Não queremos ter só um ponto de partida, mas vários, para que a discussão seja ampla”.