Investigações revelam conexões entre atiradores desportivos e quadrilhas de criminosos
11 setembro 2022 às 13h56
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Criminosos estão usando registros de caçador, atirador e colecionador(CAC), para cometer diversos crimes. No dia 29 de dezembro do ano passado, quatro criminosos disfarçados de policiais civis saltaram de uma falsa viatura no estacionamento do supermercado Nacional, em Guaíba, Região Metropolitana de Porto Alegre (RS) e assaltaram um estabelecimento. Naquele momento, uma empresa de transporte de valores abastecia os caixas eletrônicos com uma quantia milionária. Com fuzis e pistolas, os homens entraram no renderam os vigilantes, os desarmaram e anunciaram o assalto. Mais de R$ 4 milhões foram roubados. Duas semanas depois, a polícia apreendeu uma das armas usadas, abandonada pelo bando na fuga: um fuzil calibre 7,62 comprado legalmente por um atirador desportivo.
Segundo informações do jornal O Globo, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul rastreou a origem do armamento e descobriu que o homem foi cooptado pelos assaltantes para tirar o certificado de registro de CAC junto ao Exército, comprar o fuzil e repassá-lo ao grupo. E o caso de Guaíba não é isolado: investigações policiais de quatro estados mostram a atuação de CACs no fornecimento de armas e munição para quadrilhas especializadas em roubos de grandes quantias — como ataques a agências bancárias e transportadoras de valores e assaltos com domínio de cidades de pequeno e médio portes, modalidade conhecida como “Novo Cangaço”.
De acordo com a publicação, o fuzil usado pelos criminosos no roubo à transportadora em Guaíba foi comprado pelo CAC por R$ 14 mil numa loja de armas, autorizada pelo Exército a vender o produto, em agosto de 2021. O dinheiro pertencia a uma facção criminosa, associada à quadrilha de assaltantes. Oito meses antes do crime, o homem — morador da cidade de Getúlio Vargas, no interior gaúcho — foi aliciado por um integrante da facção para virar CAC e fazer a compra. Como não tinha antecedentes criminais, ele conseguiu o certificado de registro. Pelo serviço, ganhou R$ 2 mil da quadrilha.
O CAC foi preso em fevereiro deste ano, mas atualmente responde em liberdade. Todos os demais assaltantes foram identificados e presos. No mesmo dia do roubo, a maior parte do dinheiro foi recuperada dentro de uma van abandonada pelos criminosos com problemas mecânicos. Do total roubado, somente R$ 82 mil reais não foram encontrados.
O número de armas e munição nas mãos dos CACs explodiu no Brasil nos últimos quatro anos. O número de integrantes da categoria cresceu de 117 mil em 2018 para mais de 673 mil até junho de 2022, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Por decreto, o presidente aumentou o limite de armas e munição a integrantes da categoria. Atualmente, atiradores podem ter até 60 armas e comprar 180 mil por ano; antes o limite máximo era de 16 armas e 40 mil cartuchos. Por isso, o arsenal nas mãos da categoria passou de 350 mil armas em 2018 para mais de 1 milhão.
*Com informações do jornal O Globo